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Rebecca Hall em cena de “O Presente”: ótima atuação em filme que respeita a inteligência do público. | Divulgação
Rebecca Hall em cena de “O Presente”: ótima atuação em filme que respeita a inteligência do público.| Foto: Divulgação

O primeiro truque de narrativa cinematográfica é tornar o espectador cúmplice de algo que os personagens não sabem.

Está na segunda película dos irmãos Lumière, os inventores da arte, em 1895: um jardineiro quer regar as plantas, mas da mangueira não sai água. Ele não sabe (mas os espectadores, sim) que um outro sujeito pisava no cabo da mangueira e logo o esguicho lhe molha o rosto desconfiado.

A lembrança cabe para dizer que este expediente foi usado um milhão de vezes desde então. Em especial no gênero suspense e, mais ainda, nos filmes sobre um stalker, aquele maníaco que persegue e apavora alguém durante todo o filme manipulando e contando com a inocência geral: vítima, polícia, sociedade – ninguém sabe o que ele faz, com exceção do público.

Por sorte, não é o caso do thriller “O Presente”, filme do diretor Joel Edgerton que estreia nesta quinta-feira (3) nos cinemas.

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No início pode até parecer que a fórmula se repetirá: um jovem casal (Jason Bateman e Rebecca Hall, em ótimas atuações) se mudam com seu cachorro simpático para a casa dos sonhos.

Eles planejam ter um filho, pois há a expectativa de uma promoção para o marido gentil e inteligente.

No primeiro dia no novo bairro, eles encontram um antigo colega do marido (o diretor do filme, ótimo como o “esquisitão” do colégio) que passa a assediá-los diariamente. A partir daí, as pedras se mexem no tabuleiro.

E o filme cresce de forma surpreendente. As vítimas não são inocentes. As razões de cada movimento dos protagonistas, nunca ficam óbvias. Para o bem da reputação do público, dificilmente alguém saberá antecipar a solução do roteiro, uma vingança sórdida.

Aquele tipo de desfecho que os boxeadores chamam de “direto de encontro”, a porrada que lutadores mais fracos usam para tentar ganhar uma luta dura com um único golpe.

É certo que não é o “filme do ano”, ainda tem os seus clichês, algumas cenas dispensáveis, temas “plantados” no roteiro de maneira nem tão brilhante. Mas na planície de filmes adolescentes e tolos que lotam as salas de cinema, “O Presente” se posiciona algumas cabeças à frente.

A direção de Edgerton é uma homenagem a thrillers de suspense psicológico adulto que fazem a alegria de cinéfilos desde Hitchcock, apostando numa boa trama que respeita a inteligência do espectador.

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Assista ao trailer de “O Presente”:

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