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Chiwetel Ejiofor e Julia Roberts: filme pálido. | /Divulgação
Chiwetel Ejiofor e Julia Roberts: filme pálido.| Foto: /Divulgação

Há quem se pergunte por que o cinema americano explora ideias até o talo, fazendo dois, três, sete continuações de um filme ou gastando mundos e fundos para rodar, em inglês, histórias tiradas de produções estrangeiras que fizeram sucesso?

“Olhos da Justiça”, em cartaz nos cinemas, refaz o argentino “O Segredo dos Seus Olhos”, vencedor do Oscar 2010 de melhor filme estrangeiro.

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A resposta curta para a pergunta do primeiro parágrafo é: ideias boas não existem em abundância, ao contrário do que se pode pensar. Quando algo funciona, todo mundo se agarra a ele com as duas mãos. Isso, e a preguiça do público para ler legendas – o que não é exclusividade dos americanos.

Se você gostou do filme argentino com Ricardo Darín no papel do funcionário da promotoria que se põe a investigar o assassinato de uma jovem linda e casada – um episódio que marcaria a vida dele para sempre –, vai experimentar um mundo de frustração ao ver a versão americana, protagonizada por Chiwetel Ejiofor (“12 anos de escravidão”).

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“O segredo dos seus olhos” deu ao diretor Juan José Campanella o Oscar 2010 de melhor filme estrangeiro e está disponível na grade da Netflix. No elenco, Ricardo Darín faz o protagonista, Esposito, e Guillermo Francella interpreta seu melhor amigo, Sandoval. Francella está em cartaz nos cinemas com “O Clã”.

Na real, só consigo pensar em um motivo bom para alguém que gostou do original se dispor a assistir à cópia: antropologia.

O cineasta Billy Ray copiou tanto Juan José Campanella que o argentino deveria ter sido creditado na direção de “Olhos da Justiça”. Movimentos de câmera, enquadramentos, closes... tudo foi repetido na produção hollywoodiana.

Porém, o roteiro, também assinado por Ray (aqui sim com os devidos créditos ao original), faz pequenas alterações na história e essas mudanças mostram direitinho a lógica usada pelo cinemão americano.

A mulher assassinada deixa de ser uma desconhecida para o protagonista e se torna a filha da melhor amiga dele, a policial Jess (Julia Roberts), que não existia no filme original. O futebol, um elemento importante da trama, cede lugar ao beisebol. A promotoria argentina vira o departamento de contraterrorismo dos EUA, chefiado por Claire (Nicole Kidman).

Mas são as alterações na estrutura da história que incomodam de verdade. Os americanos parecem não tolerar que um mesmo filme transite por vários gêneros. “O segredo dos seus olhos” era incômodo quando precisava ser, divertido nos momentos certos, romântico na dose certa (cometendo até um final feliz).

“Olhos da Justiça” é um suspense burocrático, um filme pálido que explica demais tudo que acontece. E que destrói completamente o desfecho genial da versão argentina porque não aceita o destino de um dos personagens.

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