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Personagem

Woody Allen, um cineasta único, chega aos 80 anos

Do judaísmo à música divertida dos anos 1930, um mundo de influências tornou construiu um dos maiores nomes do cinema atual

 | Miguel Nicolau/Especial para a Gazeta do Povo
(Foto: Miguel Nicolau/Especial para a Gazeta do Povo)

Como é que pode alguém dizer que entre suas principais influências para fazer um filme estão Bob Hope e Ingmar Bergman? Groucho Marx e Dostoievsky? , mais estranho, como essa mistura pode dar certo? Woody Allen é o resultado dessa estranha mistura entre comédia despretensiosa (e até tola) e os mergulhos mais sombrios na alma humana. E, como prova sua longa carreira de mais de 40 filmes, o diretor, que chega nesta terça-feira aos 80 anos, conseguiu fazer algo com isso.

Uma pista para o porquê da mistura insana talvez esteja no recente documentário sobre o diretor (com o nada original título de “Woody Allen – Um Documentário”) disponível no Netflix. O filme começa com Woody dizendo que, segundo seus pais, ele sempre foi uma criança muito feliz. Excepcionalmente alegre. Até que, em algum ponto da infância, isso mudou. Ele acha que foi quando descobriu a mortalidade.

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A vida dele podia ser puro Bob Hope, uma grande comédia dos irmãos Marx. Mas, de repente, ele descobriu que isso tudo acabava. E disse que, ali, decidiu que não gostava mais tanto do jogo. “Como assim, isso acaba? É, acaba.” Havia um toque de Bergman que punha necessariamente as coisas em perspectiva. Não que o jovem menino do Brooklyn fosse descobrir isso tão cedo. Em seu humor típico, Woody diria que só foi conhecer Bergman mais tarde, na adolescência, porque soube que um filme dele tinha mulher pelada. Foi para se apaixonar pela moça, acabou apaixonado pelo diretor.

A mistura de vida boa com um toque de dúvida existencialista talvez seja o legado mais original que Woody venha a deixar para o cinema americano. Ninguém como ele consegue falar do jazz de Nova Orleans e da Paris dos anos 30 com tanta leveza – e, ao mesmo tempo, fazer brincadeiras sobre se essa leveza vale apena.

Já há 35 anos, em “Memórias”, um dos poucos filmes que ele autoelogia, ele se perguntava se valia a pena fazer filmes cômicos em um mundo brutal e marcado pela morte. Os ETs (sim, trata-se de existencialismo com ETs imaginários) respondiam que sim. E que gostavam mais dos filmes dele mais engraçados, (quando ele não fazia esse tipo de pergunta).

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