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A abertura de Cobras & Lagartos já anuncia. O folhetim global, que estreou na última segunda-feira, às 19 horas, vai revisitar um território clássico dentro da história da teledramaturgia brasileira: o eterno confronto entre ricos e pobres. Nada melhor do que apostar na tradição quando a experimentação – no caso, a novela country western Bang Bang – deu com os burros n’água e fez a audiência do horário despencar.

A julgar pelos primeiros capítulos do segundo trabalho como autor principal de João Emanuel Carneiro (do sucesso Da Cor do Pecado), Cobras & Lagartos promete tornar-se um sucesso.

No epicentro da trama está o milionário Omar Pasquim (Francisco Cuoco, em um visual chic bronzeado, inspirado no estilista Giorgio Armani). Dono de uma megastore aos moldes da famigerada Daslu, o magnata descobre ter os dias de vida contados e resolve encontrar, antes de morrer, um marido honesto e de bom coração para sua sobrinha querida, a violoncelista Bel, vivida por Mariana Ximenes, num look angelical, diametralmente oposto à rebelde espevitada Raíssa, de América.

O empresário quer salvar a qualquer custo a mocinha das garras de Estevão (Henri Castelli), um caça-dotes cheio de maldade que trai Bel com outra sobrinha de Omar, a viperina e loiríssima Leona (Carolina Dieckmann, fazendo com desenvoltura sua primeira vilã). Em suas buscas por um príncipe encantado, Omar conhece Duda (Daniel Oliveira), um motoboy que, como Bel, também é músico e tem o coração puro.

Este é o núcleo principal de Cobras & Lagartos. Mas, como costuma acontecer em nove entre dez novelas, o melhor sempre fica por conta dos coadjuvantes, dos núcleos paralelos que possibilitam ao autor não apenas ousar, mas trabalhar com atores mais experientes. Esse é o caso de Marília Pêra, que vive Milú, irmã decaída e interesseira de Omar. Louca pela fama e pelos salões de festas, mas sem um tostão furado para chamar de seu, a personagem, mãe de Leona e do metrossexual Tomás (Leonardo Miggiorin), deve se tornar uma das mais engraçadas da novela. Perfeita para o inegável talento cômico de Marília.

Outro núcleo interessante é a trupe inter-racial liderada pelo biscateiro e impagável Foguinho (Lázaro Ramos). Ele vive uma situação insólita: o pai, Ramires (Ailton Graça), é negro, mas casado com uma mulher branca, com quem tem dois filhos Sandrinha (Maria Maya) e Téo (Iran Malfitano). Tanto a madrasta quanto os meio-irmãos querem vê-lo pelas costas. Para eles, Foguinho é negro demais para fazer parte da família.

Como já havia feito em Da Cor do Pecado, Carneiro deverá aproveitar a oportunidade para mais uma vez discutir o preconceito racial, um assunto pouco presente na teledramaturgia nacional. Em tempos de debate sobre a questão das cotas nas universidades, nos quais o país se vê forçado a discutir a questão preconceito, é uma forma interessante e pertinente de ir um pouco além da comédia ligeira.

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