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O tablado costuma ficar cheio. É de praxe que só os homens tirem as mulheres para dançar | Henry Milléo/ Gazeta do Povo
O tablado costuma ficar cheio. É de praxe que só os homens tirem as mulheres para dançar| Foto: Henry Milléo/ Gazeta do Povo

Carnaval

Quatro noites de pura festa

Sentadas numa mesinha, na beira do tablado, as irmãs Ana Luiza Gomes, 72 anos, e Alice Rodrigues, 52 anos, junto com as amigas Nanci Rodrigues, 58 anos, Anita dos Santos, 78 anos, e Maria Terezinha Ribeiro, 55 anos, aproveitavam o último baile de fandango antes da Quaresma, no Mercado do Café, em Paranaguá. Nos quatro dias de carnaval, elas bailaram ao som da rabeca, viola e adufe até as quatro horas da manhã. O grupo compartilha a paixão pelo fandango e vem ao baile para se divertir e sacudir o esqueleto. Alice mora em Mafra, Santa Catarina, e conta que todo ano, no carnaval, vem a Paranaguá só para dançar fandango. "Conheci o fandango aqui e foi amor à primeira vista", diz a catarinense. Apesar de as mulheres serem maioria no baile, as amigas garantem que não faltam parceiros para dançar as modas fandangueiras, porém, é preciso ter paciência e esperar um convite. "Se tiver sorte dá até para flertar um pouco durante o baile", confessa a parnanguara Nanci. Além do tradicional aperto de mão, ela diz que o olhar é infalível para demonstrar interesse por algum cavalheiro no salão. (CJ e EL)

Programação

Tem festa o ano inteiro no Litoral. Paranaguá é destaque quando o assunto é fandango. Isso porque, na década de 1960, foi a primeira cidade a constituir um grupo fandangueiro, com o lendário Manequinho da Viola, reverenciado como um dos maiores instrumentistas surgidos na região. É também a que tem mais grupos de fandango dentro do Paraná: a maior parte deles mora na Ilha dos Valadares. Confira alguns locais onde é possível ver apresentações, ensaios ou participar de um bailado durante todo o ano em Paranaguá:

Mercado do Café

No pátio do mercado ocorre um baile a cada primeiro sábado do mês, a partir das 22 horas.

Endereço: Rua General Carneiro, s/nº. Centro Histórico.

Informações: (41) 3420-2936 e (41) 3420-2929. Entrada franca.

Clube do Mangue Seco (Bar do Pedro)

Local de ensaio e bailes, organizado pelo grupo Pés de Ouro.

Endereço: Rua 21, s/nº, Vila Bela, Ilha dos Valadares.

Informações: (41) 3425-5699.

Bar dos Artistas

Do rabequista Pedro Pereira, algumas "violadas" são organizadas nos finais de semana.

Endereço: Rua 33, s/nº, Campo do Canarinho, Ilha dos Valadares.

Informações: (41) 3424-3488.

Bar do Arnoldo

Pertence ao violeiro Arnoldo Costa, que organiza algumas festas nos finais de semana.

Endereço: Rua 32, s/nº, Vila Bela, Ilha dos Valadares.

Informações: (41) 9198-9104 .

Casa do Fandango

A casa foi inaugurada em 2003 pelo Mestre Eugênio dos Santos, violeiro falecido no final de 2011.

Endereço: Rua 28, s/nº, Sete de Setembro, Ilha dos Valadares.

Informações: (41) 9137-3752.

Casa de Romão Costa

Local de ensaio do grupo folclórico Mestre Romão.

Endereço: Rua 28, nº 1571, Sete de Setembro, Ilha dos Valadares.

Informações: (41) 3423-2504.

Casa de Waldemar e Benedita Cordeiro

Local de ensaio do Grupo Valadares Mestre Basílio.

Endereço: Rua 26, s/nº, Sete de Setembro, Ilha dos Valadares.

Informações: (41) 3425-5584.

Associação de Cultura Popular Mandicuera

Local de oficinas e ensaios.

Endereço: Rua 49, nº 100 (fundos), Sete de Setembro, Ilha dos Valadares.

Informações: (41) 9125-1385.

Teatro da Ordem

Antiga igreja adaptada em teatro, onde são feitas apresentações.

Endereço: Rua XV de novembro, s/nº, Centro.

Informações: (41) 3420-2936.

Fonte: Guia Museu Vivo do Fandango.

  • Mestre Nemésio (de chapéu), do grupo Pés de Ouro, anima os bailes de fandango

O relógio marca 22 horas e os músicos já estão a postos. Com a viola na mão, o mestre fandangueiro Nemésio Costa avisa: "O baile vai começar e a festança só acaba às 4 horas da matina". Em volta do tablado – de tábuas largas e flexíveis para ressaltar a sonoridade das batidas do tamanco –, montado no centro do Mercado do Café, em Paranaguá, a disputa das damas pelo melhor lugar nas poucas mesas disponíveis é grande. Afinal, quanto mais próximas da pista, maior é a chance de serem convidadas a dançar uma moda.

Elas vão chegando aos poucos, acompanhadas de seus esposos e namorados ou, na maioria das vezes, de amigas fandangueiras. A produção é feita com esmero: vestidos de festa, maquiagem impecável e perfume no ar. Os cavalheiros não ficam atrás e também capricham no traje para impressionar o público feminino. A vestimenta, contudo, é apenas um mero detalhe neste cenário, onde o importante é ter um bom bailado.

O convite

No baile de fandango do Mercado do Café, as damas são maioria. Sentadas nas mesinhas, elas abanam seus leques e aguardam um convite para dançar, enquanto os homens vão fazendo suas escolhas. Figuras já conhecidas, José Cardoso, o Zequinha, de 75 anos, Seme Balduino, de 68 anos, e Claro Gonçalves de Oliveira, de 76 anos, não arredam o pé do tablado nem durante o intervalo entre uma moda e outra. Quando uma música para, já retornam ao centro da pista e voltam os olhos para as mesinhas, em busca da próxima companheira para bailar.

Muitas vezes o convite é feito de forma tão discreta que chega a ser imperceptível. Basta um olhar, um gesto rápido com a mão ou um sinal com a cabeça para a senhora se aproximar. Antigamente, um convite recusado significava, para a dama, passar o restante da noite na cadeira: caso fizesse uma desfeita a um cavalheiro e aceitasse ir para a pista com outro, a briga era certa. Hoje, mesmo sem a imposição, dificilmente uma dança é recusada.

Convite feito e aceito, o tablado vazio vai se enchendo de pares rapidamente. Quando duas mulheres são avistadas dançando juntas é sinal de que está faltando homens de atitude no baile. Ou ainda, de que os cavalheiros estão deixando a desejar, brincam os fandangueiros experientes. A tradição manda que, rapidamente, dois homens subam ao tablado e tirem cada uma das damas para a dança. Convidar apenas uma delas seria uma grande grosseria, dizem os frequentadores.

Cortejo

Um cavalheiro interessado em cortejar uma dama no baile deve, em sinal de respeito, tirar para dançar primeiro a mãe da moça, caso ela esteja no salão. Mas, se a avó (ou até a bisavó) da garota também estiver no baile, elas têm prioridade nos primeiros passos. Isso vale também para quem chega pela primeira vez em um baile de fandango. Um homem respeitador convida, primeiramente, a senhora de mais idade do salão para a primeira moda.

Outra tradição fandangueira levada a sério é a de que no baile não se beija. Discrição é palavra de ordem. Se a dama tiver interesse pelo cavalheiro, e ambos forem desimpedidos, ela pode demonstrar isso com um aperto na mão do companheiro durante a dança. Se for correspondida, o encontro pode ser combinado, mas só após o final da festa, já que ninguém quer largar o baile no meio.

Pés de Ouro foi atração na última noite

Enquanto os foliões se divertiam com os desfiles das escolas de samba e dos animados blocos carnavalescos, nos quatro dias de carnaval de Paranaguá, o grupo Pés de Ouro comandou a última noite do Baile do Fandango no Mercado do Café, no Centro Histórico, na terça-feira.

Ao som da viola e voz do violeiro e mestre Nemésio Costa, entre um bailado e outro, oito casais de senhores e seis de jovens, que fazem parte do grupo, fizeram apresentações dos batidos – quando os homens usam tamancos de madeira, intercalando palmas e tamanqueado no tablado, acompanhados pelas mulheres em coreografias circulares.

A tradição do fandango percorre gerações e, no baile, mestre Nemésio estava acompanhado da sobrinha, Márcia Reis, de 39 anos, que ajuda a organizar os bailes do grupo, de alguns netos, que participam da ala jovem, do irmão, Anoldo Dias da Costa, e da tia, Lourdes Costa, que também confecciona as roupas usadas pelas mulheres. "A tradição do fandango na família vem do meu tataravô, ou até antes. Já não se sabe mais", conta Márcia.

Há bailes no mercado durante todo o ano, menos no período da Quaresma, em que os fandangueiros fazem uma pausa no arrasta pé para guardar os quarenta dias até a Sexta-feira Santa.

Confira mais imagens do baile:

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