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Fábio Raesh, Ju Fiorezi e Nani Barbosa formam o grupo Eu, Você e Maria | Sâmia Calixto/Divulgação
Fábio Raesh, Ju Fiorezi e Nani Barbosa formam o grupo Eu, Você e Maria| Foto: Sâmia Calixto/Divulgação

Ju Fiorezi, da banda Eu, Você e Maria liga e pede que eu faça uma crítica sobre o disco de estreia do grupo. Já nem explico mais que não sou crítico. Sou um colunista musical. Tá certo, eu também dou minha opinião, meus pitacos. Mas não me acho um crítico. Não no sentido clássico do termo. Não tenho conhecimento suficiente. Mas os nossos músicos são tão carentes que sempre me pedem críticas. Então, lá vai.

Conheci Eu, Você e Maria num dia errante pelo MySpace, em busca de algo que pudesse me surpreender. Algo diferente. Pulava de lá para cá entre bandas e músicos paranaenses até que cheguei ao endereço do EVM. Grata surpresa. A música era "Tenho Sede", de Dominguinhos e Anastácia. Arranjos vocais com leituras modernas ampliadas pelo uso da eletrônica. Foi admiração à primeira ouvida. Encontrara algo surpreendente.

"Tenho Sede" é justamente a canção que abre o disco. Produção cuidada e rica, como falei acima, com uma viola ponteando as criações. Releitura que não deixa a música se perder em experimentos, mas dá à versão a cara, a assinatura, a personalidade da banda. Ali, eles se apresentam ao mundo. Escolheram justamente uma música tão conhecida para mostrar que para tudo na vida sempre há mais de uma leitura possível.

No disco há mais duas músicas de outros autores. "Maria de Verdade", de Carlinhos Brown, pode ser outra assinatura da banda, pois a referência a uma Maria cai bem para a banda: "Sou a pessoa Maria/ Na água quente e boa gente tua Maria/ Voa quem voa Maria/ e a alma sempre boa sempre vou à Maria". A canção começa com um simples arranjo vocal para mergulhar na saborosa e surpreendente voz de Fábio Ra­­esh. Uma voz superaguda que por vezes parece cantar em falsete. A outra faixa "cover" é "Tudo o Que Respira Quer Comer", de Carlos Careqa. Um belo fecho para um excelente disco.

As demais músicas são todas de autoria dos três componentes fixos do grupo. Além de Ju Fiorezi e Fábio Raesh, já citados, há também Nani Barbosa. Para o CD, foram arregimentados Eduardo Mercuri, que toca tudo o que tem corda, e Marcus Pereira, na percussão, além de participação especial de Marina Bielanski.

A segunda música é "Nosso Quintal", composição de Ju Fiorezi. Mais percussiva. "Batuqueiro teu som é que diz, a ciranda não pode parar", diz a letra que junta ciranda com outros ritmos, "maracatu ao som de berimbau".

"A Puxada da Ciranda" tem o ritmo dolente da ciranda marcado por guitarra distorcida e sintetizador que contrastam com as vozes puras, melódicas que citam "Peixe Vivo", ao final da canção composta por Ju Fiorezi e Fábio Raesh.

"Carrossel do Sonhar", também da dupla Ju Fiorezi e Fábio Raesh, tem pegada lúdica, inocente, pontuada por flauta e ritmo dançante. Ao final, o carrossel aparece. Então, um salto no ar, um ritmo mais para blues e cabaré. "Espera", de Nani Barbosa, diz: "Quem dera um dia acordar em um mar de calma, nosso lar". Os arranjos lembram um pouco os de "O Grande Circo Místico". E viva Edu Lobo!

Com um início que também remete a circo, com uma sintetizada tuba, lá vem "A Minha", de Fábio Raesh, quase uma valsinha. "Abrem-se" continua no clima, iniciando com uma vocalização e som de realejo para depois transformar-se em eletrônica e cair no samba. Sempre surpreendentes.

"Botão" tem duas diferentes leituras sobre a mesma canção. Diga-se, uma bonita canção. Talvez a mais bela do disco. "A flor que nasce aqui dentro/ não é pra mim é pra você/ A flor que nasce sem tormento/ é a flor do meu viver". A escolha de duas versões só sublinha a capacidade da banda de criar sobre um mesmo tema, de mostrar que há sempre uma outra visão, um outro caminho. Com eles, não há acomodação.

Acomodação não pode existir para a continuidade do trabalho. O caminho escolhido é de muita criatividade, mas será preciso perseverar nessa difícil tarefa de sobreviver de música no Paraná. Ainda mais se não se escolhe o caminho do rock ou das músicas mais dançantes, que têm mais espaço nos bares e casas noturnas da cidade. O som de Eu, Você e Maria é para palco, precisa de atenção da plateia. É show que deve ser levado aos quatro cantos do país. É para tocar no rádio e surpreender, sempre surpreender. "Não resta o que fazer, ser mais que um sonhador /(...) / A flor que agora nasce dá vida a esta canção".

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