• Carregando...
A cantora Janaína Fellini, durante apresentação no Festival de Antonina, em 2010 | Babi Torres/Divulgação
A cantora Janaína Fellini, durante apresentação no Festival de Antonina, em 2010| Foto: Babi Torres/Divulgação

O trovão, interminável como a chuva, fez tremer as imediações do Parque da Barreirinha por volta do meio-dia de domingo. As gotas constantes ao mesmo tempo atrapalhavam mais uma vez e lavavam um ano particularmente difícil para a cantora Janaína Fellini. No mesmo domingo, às 15h30 ela teria de subir ao palco instalado no parque para o show de encerramento do projeto Mulheres e Canções – Feminino com Arte. Foi por água a baixo. Mais um teste de resiliência para a afinada cantora e ótima intérprete em um ano cheio de despedidas e recomeços, incluindo aí a perda do pai, em fevereiro.

Abrir a boca e cantar não é para qualquer um. Empinar a própria alma sobre mentes e sentimentos. O cantar deve ser selvagem e controlado ao mesmo tempo. As músicas, é preciso saber interpretá-las. Sentimentos sonoros contagiosos, expostos pelo mais difícil dos instrumentos. Brincadeira de criança que se renova e aperfeiçoa e toda experiência só serve para deixá-la mais e mais pura.

Foi ainda criança que Janaína soltou a voz, em família na pequena cidade de Vitorino, no sudoeste do Paraná. Brincadeira que foi crescendo. Do cantar familiar a apresentações na escola, músicas de Xuxa e Sandy & Junior, chegando à adolescência para animação de bailes na região com o aval e a proteção familiar. O estudo em pequenas academias do interior. Coral de igreja, grupos vocais em geral. Passagens por Pato Branco e Joinville, sempre tendo a música no horizonte e agenda familiar, mas já com experiência de palco. Assim foi se construindo a cantora, até chegar a Curitiba, para cursar Jornalismo na PUCPR.

Já trazia desde antes a admiração quase religiosa por Elis Regina. Mas foi na capital que as portas da MPB urbana e sofisticada se abriram de vez. Na PUC, conheceu a professora de História da Arte e cantora Cris Lemos, que abrigou a menina e seus sonhos, e abriu as portas do Conservatório de MPB de Curitiba, onde passou a ter aulas de canto com Ana Cascardo. A bela voz logo chamou a atenção e não demorou para ela começar o circuito de bares da cidade.

Um dia, em 2008, em conversas musicais com parceiros surgiu a ideia de se montar um show só com músicas com nomes de mulher. Surgia a primeira versão de Mulheres e Canções. As músicas tinham de ter o nome da mulher no título e eram cantadas em ordem alfabética. Os arranjos já se destacavam. "Ana Júlia", dos Los Hermanos, por exemplo, ganhava o dedilhado de uma viola.

O projeto cresceu e, no ano seguinte, transformou-se em Mulheres e Canções – Feminino com Arte. Um quinteto com a importante integração de Du Gomide, mais músicos convidados, bailarina e um artista plástico, Juliano Grus, que pintava um quadro na hora, durante o tempo do espetáculo. O projeto foi gravado para um DVD, infelizmente ainda inédito. Mas é possível achar alguma coisa satisfatória no YouTube.

Ao mesmo tempo em que a carreira começava a deslanchar, a doença do pai pegou toda a família de surpresa, e os meses de apreensão e sofrimento culminaram com a morte, em fevereiro de 2010. Junto, shows desmarcados, tentativas não concluídas, projetos abandonados e outros atrapalhos. Os verdadeiros artistas sabem transformar a dor em arte. Surge um novo projeto: Hoje Eu Quero Sair Só – Espetáculo sobre a Arte de Dizer Adeus, junto com a Cia. da Saudade, um trabalho de pesquisa que misturava texto e canções, cantora e atores clowns. Em paralelo, seguia o projeto Mulheres e Canções. Ao mesmo tempo, os trabalhos como jornalista e produtora de espetáculos.

O ano de transformações seria encerrado com o espetáculo do domingo passado, no Parque da Barreirinha, que a chuva levou. O enorme talento de Janaína Fellini, no entanto, não se desmancha. Ouvi-la é lembrar das grandes intérpretes brasileiras. Quando ela canta, só os insensíveis ou surdos não percebem que algo diferente e belo está no ar. Nos bares, sob a chuva ou sol, nos lares, nos carros, pelo computador, iPods ou celulares, mas, principalmente, em frente aos palcos, nos teatros, é preciso ouvi-la. Ela não é qualquer um. Ela é Janaina Fellini, grande cantora brasileira que um dia você tem de ouvir.

Serviço:

www.myspace.com/janainafellini

www.mosaicoculturaearte.com.br

www.youtube.com/user/janainafellini

0 COMENTÁRIO(S)
Deixe sua opinião
Use este espaço apenas para a comunicação de erros

Máximo de 700 caracteres [0]