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A atriz Letícia Sabatella ensaia com a Camerata Antiqua de Curitiba, com a qual vai se apresentar na Capela Santa Maria | Divulgação
A atriz Letícia Sabatella ensaia com a Camerata Antiqua de Curitiba, com a qual vai se apresentar na Capela Santa Maria| Foto: Divulgação

Li, com certa estranheza, que a atriz Letícia Sabatella irá participar do concerto de abertura da temporada da Camerata Antiqua de Curitiba. A Camerata, como quase todos sabem, é uma instituição curitibana dedicada à música antiga, principalmente a barroca, e que agora também abraça o contemporâneo. Foi formada há 35 anos pelo maestro Roberto De Regina e pela cravista Ingrid Se­­raphim e é formada por coro e orquestra. Tem oito LPs e seis CDs lançados, com gravações que vão desde os motetos de Bach até o compositor curitibano Henrique de Curitiba. Já fez mais de mil apresentações pelo Brasil e exterior. Ou seja, é um respeitável grupo erudito e então, vem a pergunta, o que Letícia Sabatella fará com eles?

Pode ser uma válida tentativa de se popularizar ainda mais esta já bem conhecida orquestra curitibana que agora tem um local próprio para ensaios e apresentações, a Capela Santa Maria, ali na esquina das ruas Marechal Deodoro e Conselheiro Laurindo, onde serão as apresentações nos dias 12 e 13, respectivamente às 20 e 18h30. "Mas, espere. Pense bem, Luiz", disse para mim mesmo e comecei a lembrar que a bela Sabatella é curitibana – ou quase, pois é mineira de nascimento, mas criou-se aqui. Antes de brilhar nas novelas da Rede Globo, iniciou uma carreira teatral na cidade. E, detalhe, é cantora. Sim, ela cantou em Curitiba. Depois, o teatro, a tevê e o cinema não deram muito espaço para essa outra atividade artística. Lembremos dela em seu início e de uma figura ótima, criativa e produtiva que Curitiba deveria reverenciar mais. Senta que lá vem história:

Há muito e muito tempo, no final dos anos 80 e início dos anos 90, numa longa e distante Curitiba, existiu um homem e muitos projetos que dele surgiram. Esse homem, então um ra­­paz, chamava-se Zeca Wachelke, ou Zecca Wachelke, ou Zeqa Wa­­chelke – diversas formas de assinatura para uma mesma pessoa. Músico, escritor, boêmio, que gostava de jogar futebol e criar corais. Não, meu caro amante das águas, não são corais marinhos, mas, como se diz hoje, vocais e, de preferência, vocais cênicos. Uma de suas criações foi o coral O Abominável Sebastião das Neves, pelo qual passou muita gente boa que hoje está por aí brilhando em suas opções artísticas, não é mesmo Sérgio Albach e Cris Lemos?

Apresentações musicais misturadas a teatro. Provocativas. Criativas. Eram a a marca dos espetáculos do Abominável. Por lá também passou la bella Sabatella, arrancando suspiros da plateia e dos próprios colegas de coral. Logo depois, ela já estava encantando o Brasil com suas aparições televisivas e cinematográficas. O coral continuou e foi uma espécie de precursor do que hoje é o Vocal Brasileirão, da Fundação Cultural de Curitiba.

Mas, para lembrar um pouco mais do saudoso amigo Zeca, lá vão mais umas historinhas soltas. Também na década de 1990, ele criou um projeto que levava por aí, sem ter componentes fixos, mas que ele juntava em oficinas ao qual deu o nome de coral Vá de Retro. Era um coral móvel, que se apresentava caminhando, mas, como o nome diz, andava para trás. O músico teve um estúdio de gravação em Curitiba, o Trilhas Urbanas, e estava sempre metido em vários projetos. Companheiro de pelada, um dia encontrei com ele e comentei que o Chico Buarque tinha vindo fazer um show em Curitiba e havia jogado uma pelada aqui. O Zeca deu aquele sorrisinho quase sarcástico e comentou: "É, ele é melhor compondo, mas até que não decepciona no futebol". Sim, ele havia participado da pelada com o Chico. Em outra ocasião, o produtor Alvaro Colaço organizou um evento de uma semana inteira com grandes violonistas tocando no Hotel Rayon, em Curitiba. Encontrei o Zeca e avisei que vinha o Baden Powell, mas que os ingressos estavam esgotados. Ele novamente deu aquele sorrisinho maroto e afirmou que ele estaria lá, independentemente dos ingressos. Sa­­bem quem estava montando o som do espetáculo do Baden?

Pois é, lembrei de um grande amigo que se foi e falei tudo isso só para dizer que a grande atração do espetáculo dos dias 12 e 13 é a Camerata Antiqua de Curitiba, mas a participação da Letícia Sabatella não é algo, assim, abominável.

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