• Carregando...
As coisas estão no mundo: pão com bolinho no Barbaran |
As coisas estão no mundo: pão com bolinho no Barbaran| Foto:

Uma das reclamações mais frequentes que eu e meus colegas que também professam o jornalismo cultural em Curitiba recebemos é aquela, velha: "não tem nada para se fazer nesta cidade".

Um amigo que leva a vida entre a poesia e desconfortos gastrointestinais costuma usar a expressão "um frio e alagado inferno" (criada pelo Padre Vieira a respeito da Holanda) para reclamar disso.

Ele diz que nossa Holanda é "um mausoléu do belo, a última morada de tudo o que é divertido".

Sempre é uma boa questão. Para qual até cabe um "pode ser". Mas que, para mim, ultimamente, merece mais um bom "será?". Não que eu tenha entrado para o grupo dos otimistas, pois sei que eles e seus sorrisos "não perdem por esperar".

Um sábado destes, porém, lembro de ter listado com colegas cerca de 20 eventos aos quais era possível ir. Eram shows em teatros e bares, festival de música, festas, exposições, mostras de filmes, artistas locais ou de fora, no débito e no crédito – e muitas de graça.

As coisas estão no mundo, minha nega. Basta sair de peito aberto pelas ruas (e enfrentar seus riscos) que há sempre um bar aberto, um violão ou guitarras distorcidas ao longe.

Às vezes, me ponho a pensar, nós reclamamos, na verdade, não da cidade, mas do fato que nós não somos mais os mesmos. E os sinais e as vias engarrafadas estão fechados para nós que desgraçadamente não somos mais tão jovens.

Além disso, entre as coisas que eu mais sinto falta na vida (uma camisa de goleiro, algumas pessoas e livros que não voltam mais, um bom cachorro...) era a pasmaceira de não ter nada para fazer e, por isso mesmo, ter a chance de fazer tudo.

Fiz esta robusta introdução, pois criei no "plano abstrato" um roteiro para uma quarta-feira como hoje. Se eu tivesse, claro, a liberdade vagabunda que tinha há vinte anos e a saúde bancária que espero ter em breve.

Ontem, teria ido dormir tarde, pois não dava para perder a primeira edição do Cine Urge, novo projeto mensal de cinema e poesia do Bar Wonka (R. Trajano Reis, 362) que reúne produções de diretores e realizadores não tão divulgados, sem projeção e com pouca possibilidade de locais para exibição.

Depois de todas as leituras e outros pormenores que ocupam a manhã, o segredo é se entregar à gloriosa costela de panela que ilumina as quartas do Maneko’s (Al. Cabral, 19), o grande restaurante do Centro da cidade.

Dali, o negócio é dar um tempo (café, cinema, chope para quem pode) até escorregar para a Biblioteca Pública. Nos meus bons tempos, marcava encontros amorosos "perto do russo". Hoje, iria escutar o Affonso Romano de Sant’Anna falar de poesia e depois dava uma passada no Museu Paranaense.

Quando a lua crescente surgir, como me ensinou o professor Carlos Mazza, o negócio é sair atrás da música. E ela está pela cidade toda. No Realejo (R. Cel. Dulcídio, 1.080), ali perto da Baixada em obras, vai ter show do Trio Purunã.

Fecho o foco em umas três quadras da cidade, na região dos "chorões", para não me dispersar ainda mais.

Ali, há chance de ouvir o cantor Cláudio Pimentel no Stylicus (Al. Prudente de Moraes, 1.079). Há poucos metros, o fabuloso Trio Quintina no Ao Distinto Cavalheiro (R. Saldanha Marinho, 894) ou algum show de MPB ou jazz no Bar Baran (Al. Augusto Stellfeld, 799).

A velha casa ucraniana, aliás, faz parte do sensacional festival de Pão com Bolinho que assola a cidade. Sua peça é tão boa que quase me faria perder (quase!) o prato de "coração de peru com batata chips" que só existe no La Boca (R. Visconde do Rio Branco, 367).

Para encerrar, o ideal é se refugiar em um lugar escuro, em que um DJ esperto, em um inferninho, coloca na sequência todas aquelas músicas belas e desconcertantes que nos queimam a alma.

Mas isso vai rolar amanhã, na clássica festa Só o Soul Salva, no Paradis Club (R. Paula Gomes, 306). Um lugar tão bonito quanto necessário na cidade. Acho que é por aí que eu iria. E talvez até vá.

Dê sua opinião

O que você achou da coluna de hoje? Deixe seu comentário e participe do debate.

0 COMENTÁRIO(S)
Deixe sua opinião
Use este espaço apenas para a comunicação de erros

Máximo de 700 caracteres [0]