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 | Ricardo Humberto/Especial para a Gazeta do Povo
| Foto: Ricardo Humberto/Especial para a Gazeta do Povo

De todas as pessoas que não existem, a que eu amo mais é o senhor Leopold Paula Bloom (o nome do meio dele é um segredo que nem todo mundo conhece).

Ele nasceu em 1866.

Casado em 8 de outubro de 1888 com a então senhorita Marion Tweedy, que exatamente um mês antes tinha completado 18, ele teve dois filhos: uma menina e um menino, que morreu aos 11 dias de idade.

Ele é famoso por causa de um dia, 16 de junho de 1904, quando deixa de ser inexistente e ganha mais realidade do que a maioria de nós pode aspirar a ter. O dia em que se passa a ação do “Ulysses” de James Joyce, onde ele é o personagem principal.

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Eu tenho um colega (oi, Benito) que diz que parte do dinheiro que ganha ele devia reconhecer que provém de Lima Barreto, que escreveu a obra que ele estuda há anos. Meu ganha-pão é Joyce, e especialmente o “Ulysses”. Publiquei dezenas de coisas sobre o livro, fiz a minha tradução que até ganhou uns prêmios e tal.

Eu fiz essas coisas pra mim, por mim, claro.

Mas fiz também por Joyce, pelo livro. Pra retribuir em alguma medida (dentro do limite da minha “competência”) tudo que esse livro incrível já me deu de alegria, de inteligência, de “sabedoria”.

Acima de tudo, fiz essas coisas por Leopold Paula Bloom, Don Leopoldo de la Flora, Henry Flower (que é como ele assina umas cartas bem safadinhas que troca com uma correspondente anônima): fiz pelo personagem mais completo, mais encantador e mais fascinante da literatura ociden-tal. (Pronto: falei.)

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Mas ainda eu não estava satisfeito. O “Ulysses” não é mole. E eu, que estudei bem direitinho aquilo ali, adoro por exemplo dar aula sobre o livro. Fazer as pessoas verem mais, verem o que eu vi, entenderem mais a fundo. É sensacional ver o efeito que isso causa. Quando funciona direitinho, é quase como se eu estivesse dando óculos pras pessoas verem um quadro maravilhoso.

Mas, no meu ímpeto meio evangelizador de levar a palavra de Bloom às massas (tentar criar a “Nova Bloomusalém”, como ele diz), eu ficava pensando “e quem não vem pra aula?” E quem mora longe?

Sério.

Publicar a tradução entregou o livro a muita gente. Mas em geral o leitor precisa de “apoio” no caso de um livro desses. E quase não existe bibliografia em português.

Ainda me faltava escrever um Guia. Colocar as minhas aulas em livro e entregar pra mais gente.

Saiu agora esse livro. Se chama “Sim, eu digo sim”.

E me desculpe por fazer propaganda dele aqui. Mas faz parte da minha missão de vida, sacou?

Eu tenho que fazer o Leopold chegar até você!

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