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 | Miguel Nicolau/Especial para a Gazeta do Povo
| Foto: Miguel Nicolau/Especial para a Gazeta do Povo

Pode falar um pouco de música? Juro que não vai ser Bach e tal.

É que desde que saiu esse disco novo do Radiohead eu estou me coçando pra dizer alguma coisa. Primeiro porque, sejamos francos, o anterior não era bom. Eu, pra falar a verdade, ouvi uma vez e desconsiderei, o que até me levou a achar que eu realmente estava numa fase pós-pop da vida.

Parecia que era a maturidade, afinal!

Mas aí, quase dez anos depois de In Rainbows, que era bem demais, aparece este Moon shaped pool. E, pura e simplesmente: puta troço lindo.

Podia ter duas músicas a menos? Podia. Mas quem não pode?

Depois de Kid A e das “sobras” que constituíram Amnesiac (que eu acho bem legal, apesar de ser meio malhado por aí) eles estavam meio como os Beatles depois de Abbey Road, tipo pensando aonde é que a gente pode ir. Os Beatles tentaram uma volta à simplicidade com Let it Be e depois explodiram. O Radiohead ficou mais “simples” com In Rainbows, tentou sei lá o quê com The King of Limbs, e agora nem parece estar tentando. Eles só estão fazendo o que sabem. De novo, mas novo. De novo, mas mais.

A essas alturas já se falou muito das músicas por aí. Até do sambinha de Present Tense (e também de Identikit e, no fundo, é também uma coisa meio bossa-nova que costura a métrica de True Love Waits: coincidência eles terem passado por aqui no meio do caminho?).

Eu só quero mencionar uma coisa, mais geral.

Dá pra dizer que eles estão fazendo o mesmo de sempre (eu mesmo disse): o Thom Yorke gemendo aquelas melodias assimétricas em cima de uns barulhinhos variados.

Mas é que tem um negócio. Se tem uma banda como o Muse, que realmente parece isso aí: versões da mesma fórmula, o problema com o Radiohead nos bons momentos é que eles invertem a hierarquia da coisa.

Se você reclama que é a mesma voz em cima de uns barulhinhos, é que você ainda não percebeu que aqui o “fundo”, o barulhinho, é que é o verdadeiro objetivo. Não tem “acompanhamento”. Não tem “base”.

Sabe tipo não é o destino, é a viagem?

Hoje, a ideia de canção deles é uma radicalização da descoberta, dos Beatles, de que o estúdio é o maior instrumento do mundo pop. As melodias são lindas. As harmonias são por vezes de chorar. Mas é a concepção da gravação, os detalhes de registro, a sobreposição de camadas, o cuidado com cada ruído…

É aí que está o Radiohead como a maior banda pós-Beatles.

E é aí que você tem que procurar.

Ponha no fone de ouvido (único jeito) e preste muita, mas muita atenção…

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