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| Foto: Divulgação/ Toyota

Andar em uma cidade em época de eleições exige destreza e paciência. Caminhar pela calçada, simplesmente, fica bem mais difícil por esses tempos de promessas. Pois, além das danadas das pedras soltas que cospem barro depois da chuva, há que se desviar também dos cavaletes, trombolhos de madeira desengonçados estacionados em lugares estratégicos. São feitos para tropeçar. Há quem chute também, alegando desequilíbrio momentâneo. Ou miopia aguda.

Vez ou outra é melhor rir. Seja porque, para evitar acidentes, andamos em ziguezague, seja pela foto do candidato. Gostaria muito de saber qual a orientação que eles recebem antes do clique. "Olha, faça cara de quem..." De quem? "Coloque essa camisa salmão, ela vai te deixar mais..." Mais o quê?

Por essas épocas bissextas há também ações que beiram a violência. Percebi recentemente, vagando a pé pelos arredores da Tiradentes, que a estratégia dos que entregam santinhos e publicações de determinado candidato é cercar a "vítima". Há um estratagema: alguém surge à sua frente, você desvia, e na mesma hora, ao lado, há outro alguém com a mão esticada, oferecendo insistentemente um papelzinho, ou um jornal mal feito. Sem querer, vocês dançam uma pequena valsa e seu par casual repete palavras incompreensíveis. É até agressivo, e por isso continuo recusando – a insistência nada tem a ver, por exemplo, com o remorso que temos quando vemos as garotas de alguma loja de sapatos descerem aquelas escadas misteriosas com uma pilha de caixas. Porque é muito difícil, depois disso, dizer "não vou levar nada hoje." E não é só dos pedestres que a invasão de cores, números e fotos suspeitas rouba o sossego.

Há os candidatos que se promovem em duas rodas. De bicicleta, são como cavaletes andantes. Pequenos e impertinentes cavalos de Troia cujas surpresas virão no primeiro dia de 2013. Um, especificamente chato, tem a pachorra de prender uma caixa de som à bicicleta e sair pela cidade deflagrando seu jingle-chiclete. Dias desses li no Twitter um punhado de mensagens dizendo "cuidado, o candidato X está em tal lugar." A perturbação alheia é uma antipropaganda. Marqueteiros políticos deveriam saber disso.

Pois então, basta andar de carro. Fechar os vidros, ligar o rádio – depois das 12h30 – e rodar. Até que você se depara com o carro à sua frente. No vidro traseiro, há aquela mesma foto engraçada do cavalete, mas agora esticada desproporcionalmente. O limpador surge no queixo do sujeito, levando quase a zero a sua credibilidade, que já era pouca. O número? Ninguém enxerga porque o carro, o vidro, estão sujos.

Por sorte ou desconhecimento, ainda não vi aviões divulgando fotos e números de candidatos. Então, desviar o olhar para cima enquanto se caminha em uma cidade cheia de obstáculos pode ser uma saída até a semana que vem. O problema é que, com a cabeça erguida, podemos acertar um ou outro cavalete por aí. Sem querer, obviamente.

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