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Cláudio Pimentel: músico atrai público escasso, mas de qualidade | Helen Mendes/Divulgação
Cláudio Pimentel: músico atrai público escasso, mas de qualidade| Foto: Helen Mendes/Divulgação

O português valter hugo mãe – que não é afeito ao Caps Lock e escreve só em minúsculas – deveria conhecer o curitibano Cláudio Pimentel. À revelia de um encontro imaginário, em que literatura e boa música poderiam dialogar na mais santa paz, tento explicar o porquê.

Em seu livro a máquina de fazer espanhóis, o mais recente, o escritor joga no ventilador algumas ideias tentadoras. Uma, mais cruel, talvez egoísta, é a de que, com a morte da pessoa amada, também deveriam morrer todos os sentimentos que nutrimos por ela. Aqueles que fazem a voz tremer quando estamos prestes a ligar, aqueles mesmos pensamentos que nos fizeram cegos e bobos em muitas situações. Tudo deveria ser enterrado a sete palmos, assim como os ossos e a carne de quem bateu com as dez.

Outro pensamento do português, esse mais preguiçoso e consolador, diz que velhos não devem se esforçar para aprender nada mesmo. Que devem desistir de tentar fazer o novo porque já têm toda a experiência do mundo. Por outro lado, precisam se empenhar em dar valor a ela, mostrar a todos o que construíram em todo esse tempo de existência porque só assim a dita experiência se manifesta.

Cláudio Pimentel não é velho, mas tem história e, em tempos de Twitter, conta com seguidores de verdade. Líder da banda curitibana Plêiade, que lançou bons discos em pelo menos duas décadas, ex-membro do cultuado grupo Wandula, o curitibano é um exemplo para a teoria do português: Claudião não se renova. E isso é ótimo. No show que fez no James Bar no dia 25 de agosto para comemorar 20 anos de carreira, tocou o que mais gosta, que é justamente o que mais ouviu: Beatles, Smiths e James, além de músicas próprias que trazem consigo suas boas referências, como a versão em notas para "Ismália", lindo poema de Alphonsus de Guimaraens – assim mesmo, sem tio e com "n", porque esses portugueses gostam de inovar na linguagem.

Para ver e ouvi-lo, não havia muita gente. Mas quem estava lá cantou "This Charming Man" como se não houvesse amanhã e fez coro no refrão de "Sometimes". A grande maioria da plateia era formada por amigos, eternos incentivadores de um artista carismático, fiel ao seu gosto e responsável por abrir espaço a muitas bandas da cidade.

Pois sim, Claudião também foi um agitador cultural de primeira. Com o extinto bar Korova, que funcionou no começo da década, primeiro na região do São Francisco, e depois no Batel, abriu portas a novos grupos que ocupavam o palco e a artistas que não viam a hora de expor algo naquelas paredes alaranjadas. Além de bandas memoráveis como Jellibelly, Suite Minimal e Maremotos, a Poléxia se apresentou por lá e foi também no Korova que a banda Charme Chulo fez seus primeiros barulhos. E por sua benesse, Claudião corria riscos com shows duvidosos – até este jornalista já teve o privilégio de se apresentar no espaço, com um de seus projetos musicais que serviram mesmo foi para reunir amigos. Desculpa qualquer coisa, Claudião.

Antes da apresentação no James, conversamos por um bom tempo, já que ele andava meio sumido. Todo mundo tem boas lembranças do Korova – da sacadinha em especial, que era disputada em noites mais quentes – e então perguntei: "Tem volta?".

Ele deu um sorriso debochado e respondeu: "Se fosse abrir alguma coisa hoje, seria uma confeitaria". Uma pena, porque, com bares tão genéricos e assépticos, faz falta um lugar em que você pode se sentir literalmente à vontade e, quase sempre, ouvir boa música.

Resta esperar pelo brigadeiro.

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