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Leo Fressato (à direita), acompanhado da Banda Mais Bonita da Cidade, é o autor da música “Oração”. Ingressos para o show do dia 9 acabaram em três horas | Reprodução
Leo Fressato (à direita), acompanhado da Banda Mais Bonita da Cidade, é o autor da música “Oração”. Ingressos para o show do dia 9 acabaram em três horas| Foto: Reprodução

Além de se tornar o maior fenômeno musical curitibano na era da internet – a essa altura aposto que você é um dos 1,5 milhões que conferiram aqueles já tão famosos 6 minutos – o clipe da música "Oração", da Banda Mais Bonita da Cidade, também prova duas outras coisas: o mundo está carente e a autofagia anda bem solta por aí, do Batel ao Cajuru, passando por Twitter e Facebook.

Carente, sim. Analisemos o sucesso da empreitada começando pela relação interpessoal de todos os músicos que aparecem no vídeo. Eles são amigos, ou casais, e só repetiram o que fazem provavelmente toda semana. Simplesmente porque gostam de estar juntos, de compartilhar momentos.

O que aconteceu é que um dia resolveram gravar isso. São seis minutos e três segundos de sinceridade, que refletem exatamente a sensação que pode explicar parte do fenômeno: a vontade de estar lá no meio de todos, cantando aquele refrão simples e bobo, mas verdadeiro. Em tempos de distâncias impostas pela virtualidade, não é de se admirar que um clipe tão humano tenha chegado onde chegou.

O mais curioso, quase revoltante, é que os argumentos – se é que podem ser classificados assim – contrários ao, repito, maior feito da música curitibana em tempos de web, se baseiam em clichês preconceituosos. Porque ou a banda "é muito bicho grilo", ou é "o pessoal da Reitoria fazendo música". O que isso quer dizer? Sem contar comparações ridículas ou piadinhas sem graça – feitas por gente esclarecida – sobre o clima de festa de família compartilhado com meio mundo pelo grupo.

Então, que regravem o clipe usando jaquetinhas de couro e cantando em inglês. Que façam a barba. Que sejam mais prolixos. Que não estudem na Reitoria. Que não usem flores no cabelo. Que não tenham como referência a banda Beirut – que emplacou até música em minissérie da Rede Globo. Aí poderiam fazer sucesso? Não digo que o senso crítico tenha de ser esquecido. A música, por exemplo, é simples, senão simplória. Baseia-se em um refrão repetitivo e tem melodia previsível. Talvez, se fosse lançada ao mundo por ela mesma, passaria despercebida. Mas aliada às imagens, e condensada na figura de Leo Fressato, que desce escadas para encontrar a felicidade em forma de amizade, torna-se grandiosa.

O que tem que existir, quase sempre na vida, é uma benevolência com aqueles que fizeram sucesso se portando de maneira diferente daquela que temos como ideal. O clipe foi visto por mais de 1 milhão de pessoas, apareceu na capa de jornais e sites do Brasil, e ganhou matéria em um dos maiores periódicos da Itália, o Corriere della Sera. Isso em uma semana. Criticar por criticar é exercitar a autofagia, palavrinha tida como morta, mas que retorna a cada vez que Curitiba tenta ganhar o mundo sendo ela mesma. O que é popular, é bom saber, incomoda e muito aqueles que nunca o serão.

Serviço

A Banda Mais Bonita da Cidade. Teatro Sesc da Esquina (R. Visc. do Rio Branco, 969), (41) 3304-2222. Dia 9, às 20 horas. Ingressos esgotados.

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