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Como sempre antes de mais uma missão, 007 recebe um novo carro, desta vez equipado especialmente para o Brasil:

– Tem chapas brancas, OO7, e vidros fumê como usam as autoridades.

– Mas vidros fumê não foram proibidos lá?

– Mas é o Brasil, 007, não leu a pasta? Os mesmos que fazem as leis são os primeiros a descumprir. Mas, caso seja parado por algum guarda, já colocamos notas de 10 dólares na sua carteira de motorista. Se não der certo, use as de 20 dólares. E basta acionar um botão para a lataria parecer toda amassada e riscada, assim você pode parar nos semáforos com menos risco de ser assaltado ou sequestrado. É um carro e tanto, com blindagem para o caso de passar por algum tiroteio no Rio de Janeiro.

– A blindagem resiste a tiro de bazuca?

– Bazuca?!

– Você não disse que vou para o Rio de Janeiro? Não lê jornais? Deixa pra lá. Tem motor?

– Sempre engraçadinho, 007. Tem motor para fazer 200 por hora em dez segundos. E...

– Tem suspensão reforçada? Já viu como são as estradas brasileiras? E, se for passar por São Paulo, é melhor que seja anfíbio...

Depois do carro, 007 recebe uma caneta:

– Coloque na lapela, para quando falar com políticos brasileiros. Ela grava e filma, e um psicomputador analisa a voz e o olhar da pessoa, para verificar se está mentindo muito, mentindo médio ou mentindo pouco.

– E se o político estiver dizendo a verdade?

– Então você terá chegado ao ponto HS de sua missão, 007, que é encontrar políticos honestos (H) e sinceros (S) no Brasil.

– E quando achar algum, o que faço?

– Marque encontro reservado com ele, diga que queremos investir numa bancada de deputados e senadores HS, para tentar mudar o Brasil.

– Como vamos investir neles?

– Financiando suas próximas campanhas.

– Ou seja, vão corromper os poucos honestos.

– Você tem licença para matar, 007, não para questionar.

Em seguida, 007 recebe uma pasta 007.

– Com tudo que você precisa para o disfarce de lobista profissional. Maços de dólares, talões de cheques, papéis timbrados de estatais, cartões de crédito e cartões de garotas de programa. Para conferir mais credibilidade, caso seja revistado por algum guarda-costas, colocaremos maços de dólares também na sua cueca.

– Por quê?!

– Você não leu a pasta, 007... Agora preste atenção. Esta é uma lista de perguntas que você fará a cada deputado, para testar suas reações e facilitar o trabalho do psicomputador. Você perguntará como pode ajudar o deputado a conseguir mais emendas do Orçamento. Perguntará como pode ajudar o deputado em seus negócios financiados pelos bancos estatais. Ou perguntará como pode doar dinheiro para seu caixa eleitoral, mediante certas condições. Essas três perguntas, como se diz no Brasil, fazem o político abrir a mala.

– Abrir a mala?!

– É, 007, se mostrar, se revelar, cair no laço, escorregar na lábia, leia a pasta!

Por falar em ler, aqui estão livros para você ler nos aeroportos.

– Ler nos aeroportos?!

– Leia a pasta, 007! Hoje no Brasil, quem viaja de avião... Bem, leia a pasta! Ou você prefere levar um jogo de xadrez ou...

– Nada disso, fico meditando.

– Meditando? 007 meditando?!

– É, preciso me encontrar, saber o que quero da vida. Tenho a impressão de que esta é minha última missão. As coisas por aqui estão indo de mal a pior. Dinheiro na cueca, subornar honestos e ajudar corruptos, ler em aeroporto, francamente...

– Você não entendeu direito, 007. E lembre-se que o Brasil tem mulheres lindas.

– Li que tem mulheres feias.

– Quem falou?

– Um deputado brasileiro.

– Você não entendeu nada, 007. Ei, aonde vai?

– Ler a pasta. Já notei que é uma missão de alto risco.

– Ao contrário, 007, o risco de vida é mínimo.

– Tenho um nome a zelar, estou falando de alto risco de desmoralização. Cadê a pasta?

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