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Reporto minhas últimas impressões de aeroportos. Parecem feiras de eletrônicos. Quem não fala ao celular, manipula tablet ou semelhante. Fiz um sonet, um soneto para a internet:

Eu queria ser um tabletpara ser acariciadotão tocado e tão cuidadotuittado na internetQueria ser celularpara ser sempre atendidofalar e ser sempre ouvidono mundo a satelitarSe fosse computadorqueria ser um modeloque nunca pegasse vírusMe conformo com o que souum modelo já bem velhode um ser que solta suspiros

Vamos em frente, ou melhor, vamos entrar em fila. É fila no check-in, no embarque, no corredor do avião, gente enchendo os bagageiros; mas, opa, melhorou, é menos confusão, porque agora embarcam primeiro os passageiros de janela e de meio, o assento-sanduíche. Se você senta entre dois grandalhões, vai que nem salsicha em cachorro-quente.

O Congresso estuda aumentar a distância entre as poltronas, se é que se pode chamar aquilo de poltrona. Como as companhias aéreas são grandes doadoras de campanhas eleitorais, certamente o Congresso vai estudar o assunto por muuuuito tempo...

Vamos em frente, ou melhor, vamos para a revista policial. Querem confiscar meu cortador de unha. Peço ao policial para me imaginar ameaçando o piloto com um cortador de unhas:

– Rume para Cuba ou corto a pontinha da tua orelha!

Ele quer me prender por desacato, falo tá bom, fique com meu trim-trim mas saiba duma coisa:

– Com ele, fiz o último corte de unhas de minha mãe.

Ele olha em volta, me passa o cortador disfarçadamente. Trocamos piscadelas e vou em frente. Ou melhor, vou esperar o embarque ouvindo aquele serviço de som mais irritante que mistura de funk com pagode. E tome reposicionamento de aeronave! Se você não atenta, torna-se um desportado, que só na horinha do embarque vai perceber que está no portão errado.

Para relaxar, em Congonhas sempre vou a um barzinho que tem vinho tinto em garrafinhas. Fico vendo gente passar, o maior espetáculo grátis da terra depois dos poentes. Mas, para mordiscar, só tem aqueles salgados tão caros quanto insossos, então saco da bolsa um dos chocolates que levo para Dalva.

A vida cobra e pagadescubro por instintochocolate amargocombina com vinho tinto

Vamos em frente. Ou melhor, vou esperar na esteira a Eila, minha mala, torcendo para ela não entrar para os 3 ou 4% de malas que são extraviadas ou somem de vez. Ah, ei-la, e agora você sabe porque ela tem esse nome. Vamos em frente, ou melhor, vamos para a fila do táxi, e em seguida para o engarrafamento. Sempre em frente. Ganhei umas milhagens, mas devem ter me tirado outras. Em frente.

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