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Pezinho é assim conhecido porque, apesar de gordinho, o pé é tão miudinho que ele sempre parece a ponto de tombar quando vira mais um copo no bar. Mas conta que, com esse pezinho, já jogou muito futebol, não joga mais:

– Pra não melindrar ninguém...

Porque, conta ele, na última vez em que jogou, foi um arraso:

– Vencemos por 8 a um, e fiz quatro gols. Um de cabeça, um de falta, um de bicicleta e um de escanteio, gol olímpico. E dei os passes pros outros três gols. Alguém faz as contas: se venceram de 8 a zero, falta um gol.

Ele faz careta constrangida, balança a cabeça lembrando:

– Pois é... é que, depois do sétimo gol, todo o time deles atacou querendo o gol de honra, e nosso goleiro, no desespero, cometeu pênalti e foi expulso.

Enche o copo antes de continuar com bigodes de espuma:

– Nosso time não tinha goleiro reserva, mas o juiz concordou que eu podia pegar no gol. Botei a camisa do goleiro, fui pra baixo dos três paus e defendi o pênalti.

Alguém lembra que continua faltando um gol. Ele enche mais um copo, lambe o bigode de espuma e sorri, lembrando:

– Pois é... Quando vi o juiz olhando o relógio, pensei: vou dar um chutão de tiro de meta, mais pra comemorar, e chutei. Como chuto muito forte, a bola foi quicar lá na entrada da área deles, cobriu o goleiro e entrou. Gol de goleiro.

Um gaiato espeta:

Como é que você não chegou na Seleção, hem, Pezinho?

– Preconceito – ele responde na bucha: – Fui fazer teste em time profissional, mas o médico falou nossa, com pezinho pequeno assim não deve nem parar em pé. Aí eu peguei uma bola e fiquei fazendo embaixada enquanto ele examinava os outros. Uma hora depois, eu ainda não tinha deixado a bola cair e ele falou é, você leva jeito.

– Então por que você não fez o teste?

– O treinador viu minha barriga, falou que eu precisava entrar em forma. Estou em forma, falei, jogo e marco gols. Ele falou que jogo amador é uma coisa, profissional é outra. Falei que sempre são noventa minutos, e eu não podia fazer cinco gols sem correr... Ele não acreditou: cinco gols? Inclusive um olímpico, falei. Aí o time riu, eu me mordi. Peguei três bolas, levei pra marca de escanteio e...

Ele espera alguém lhe encher o copo vazio, bebe, lambe e relambe o bigode, até soltar de novo a vozinha mole:

– Aí bati um escanteio e a bola parou lá dentro do gol. Alguém falou que sem goleiro era fácil, falei pro goleiro ir lá, bati outro escanteio e ele acabou no chão e a bola dentro do gol.

– Mas você pediu três bolas – alguém sempre colabora com o Pezinho, e ele agradece a lembrança, mas só continua depois que alguém volta a lhe encher o copo:

– Disseram que, só com o goleiro e sem os zagueiros, continuava sendo fácil. Então falei tá bom, bota toda a defesa lá e também o goleiro reserva. O time todo foi pra área, até o centro-avante. Aí tive de bater o escanteio com malícia, com um efeito tipo folha-seca, para a bola ir rápida, parando de girar de repente e caindo quase vertical na tesoura do segundo pau. Quase o goleiro reserva pegou, mas acabou dentro do gol junto com a bola. Correram pra me abraçar, mas eu peguei minhas chuteiras e fui embora. Esqueci de contar que bati os escanteios descalço.

E fica esperando alguém lhe encher o copo.

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