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Meu pai queria me dar nome de jogador de futebol, minha mãe não queria. Então ele, que também se chamava Domingos, me deu este nome e ela gostou, sem desconfiar que o jogador de que ele mais gostava era... Domingos da Ghia.

Nasci em casa, pelas mãos de Maria Tan, parteira de mais de cinco mil partos em Londrina. Depois de limpo e embrulhadinho, meu pai me pegou para mostrar a minha irmã em seu berço: olha o Dominguinhos, e ela repetiu – O Domindinho!

Ganhei assim o apelido de Dinho como me chamam em família e amigos.

Meu avô João da Nóbrega tinha a pele acobreada, como os espanhóis descendentes das centenas de espanholas estupradas ou concubinadas com os árabes invasores da Espanha no século 8. Adolescente, eu parecia um arabezinho, e ganhei no colégio o apelido de Muçulmano. Não liguei, não pegou.

Fazia poesia nas últimas páginas dos cadernos, e um dia a professora de História falou que os poetas na Grécia eram chamados aedos, ganhei apelido de Aedo. Gostei, por isso mesmo também não pegou.

Quando fui com meu pai visitar Capivari, cidade paulista de origem dos Pellegrini, tias-avós e primos-segundos me chamavam Minguinho, porque lá meu pai é chamado Mingo. A gente visitava várias casas de parentes a cada dia, e em toda visita era preciso comer ou ficariam ofendidos. Bolos, tortas, doces, pastéis, pães – entre baitas almoços e grandes jantas! Quando passei a recusar firmemente mais comilança, meu pai explicou gentilmente:

– É que ele tem medo de virar Mingão...

Quando comecei a ser conhecido fora de Londrina, como escritor, era Domingos Pellegrini Júnior. Depois de alguns livros assim, pedi a meu pai para tirar o Júnior, ficando com seu mesmo nome. Ele deixou, mas até hoje, dezenas de livros depois assinando sem o Júnior, tem gente que ainda me chama pelo nome completo!

Ao mesmo tempo, outros me chamam só de Pellegrini. Prefiro, parece grife, né, como Pirandello, Sartre, Shakespeare. Falei isso a um amigo, que bocejou e disse apenas:

– É... Como Nero, Lampião, Capone...

Quando comecei a grisalhar, passei a ser chamado de Seo Domingos. Nada dá mais consciência da velhice do que ser chamado de senhor. Em compensação, pago meia entrada e tenho direito a vagas especiais em estacionamentos, sempre ocupadas por jovens.

E Seo Domingos se enternece lembrando da namorada que o chamava de Dindim...

De repente, o portador de tantos nomes não sabe como encerrar uma crônica, a salvação vem de um neto que entra ofegante no escritório:

– Vô, vem ver, achei um ninho com dois passarinhos!

Pode ser meu epitáfio: "Aqui jaz um homem/ que muitos nomes usou/ mas entre tantos nomes/ preferiu apenas Vô".

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