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 | Becky Reno/Creative Commons
| Foto: Becky Reno/Creative Commons

Nunca pensei que fosse dormir numa virada de ano. Mais um paradigma que a maternidade foi capaz de quebrar.

Curioso como os fogos, quando só ouvidos da cama sem se ver todo aquele esplendor no céu, parecem extremamente próximos, ruidosos, enfim, extremos. Espiados da janela, parecem focos de bombardeio noticiados pela CNN. Crianças e animais se assustam – minha filha tremia. (Não creio, porém, que tenha se traumatizado: hoje já se referia animadamente ao episódio como “pouá! pouá!”.)

Eu é que me surpreendi na madrugada lembrando de uma canção de Karina Bhur – “Nassiria e Najaf”. A poesia crua da roqueira, cantada em seu delicioso sotaque, denuncia aqui o horror da guerra. Era, naquele momento, Bagdá. Hoje poderiam ser crianças sírias vitimadas pela travessia forçada no exílio.

“Dorme logo antes que você morra.” É forte a imagem evocada por Karina, que traz para dentro de casa o terror e as arbitrariedade dos conflitos armados. Pior ainda quando esses seres inocentes estão na linha de frente.

Karina na Selvática, em novembro.Rafael Schoenherr

A dureza do noticiário parece ser uma forte influência na criação de Karina. Aliás, a cantora radicada em Pernambuco esteve em Curitiba em 2015 num evento importante para a classe artística alternativa, realizada em novembro na Casa Selvática – não por acaso, “Selvática” é o nome de seu novo álbum lançado recentemente e disponível para download gratuito. A coincidência de nomenclaturas entre ela e o grupo curitibano acabou aproximando os dois, e surgiu a ideia de fazer o lançamento do novo trabalho na cidade lá mesmo, na casa mais maluca da cidade.

Quando vi o convite para o encontro, imaginei que agentes da Diretran precisariam orientar o trânsito na Nunes Machado, dada a enorme afluência de público. Apesar de, me contam, ter sido realmente um sucesso, com entre 150 e 200 pessoas, alguém precisou me puxar para a Terra: “Helena, ela não é tão conhecida assim”. Uma enquete rápida ao redor provou isso. Fiquei pasma.

Apesar de me chocar um pouco a abordagem que ela faz da realidade, por vezes banal, ou cruel, fica a dica para ouvir.

Desejo a você neste 2016 muitos momentos como este, cantado suavemente por Karina: “Eu quero passar a tarde estourando plástico bolha”.

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