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 | GSS/Especial para a Gazeta do Povo
| Foto: GSS/Especial para a Gazeta do Povo

Muita gente passou lá por casa nas minhas férias. Ou seria melhor dizer “prisão domiciliar”?

Materialmente foram só a Renata e a Denise, dessas amigas práticas que ensinam as coisas pra gente. A Dê matou a charada da esterilização de mamadeiras, funcionária de hospital que ela é. Que ferveção, que nada. Coloque água nas duas mamadeiras. Pode ser da torneira. Leve ao microondas até ficar bem quentinho. Cuidado na retirada para não acontecer aquela explosão aquática sobre a qual sempre alertam na tevê (melhor deixar esfriar antes. Mas talvez daí perca o efeito. Não sei).

Quando eu me preparava para perguntar se basta esterilizar a mamadeira uma vez por mês ela disse que “não precisa ser todo dia”. Melhor não falar mais nada.

Mesmo assim, já mudou minha vida. Pode parecer pouco, mas teve um efeito semelhante à adoção da chupeta, outra dica de uma dessas pessoas práticas. O problema agora é tirar o “artefato” – substantivo que usamos para nos referir ao bico sem que minha filha perceba do que estamos falando. Até parece que funciona, né? Eles entendem tudo.

Outros visitantes das minhas férias passaram só pela minha imaginação mesmo. Teve o Patrice Pavis, teórico que se concentra nos estudos teatrais. Além de várias pesquisas inovadoras, por exemplo, sobre a transposição cultural de peças de um contexto para outro, ele fez o favor de juntar vários termos-pegadinha num extenso dicionário de teatro. Poucas palavras terão dado tanto pano para manga quanto o curto “drama”. E ele está lá, junto com ekphrasis, historicização, pós-moderno, essas coisas.

Agora, quem me ajudou muito mesmo foi Susan Sontag. Ela veio para o chá e aproveitou para comentar sobre a peça “Alice in Bed”, de 1993, em que ela se divertiu imaginando a irmã do escritor Henry James, Alice, numa fábula tipo “País das Maravilhas”. Ao lado de pioneiras do feminismo, a protagonista debate questões de sua época que ressoam nos dias de hoje. Ao redor de chávenas, tipo nós duas. Uma verdadeira cerimônia de chapeleiro maluco.

De volta à realidade, tentei abrir um pote de fermento (tinha um aberto, não vi, e pior que era desses grandes. Fermento estraga). Duro de girar, começou a deixar marcas ardidas na mão. Eu não desisti: não apelei ao porteiro, porque Susan estava lá. O que ela iria pensar? Mulheres são fortes. Só que o pote tinha um segredo, dessas garrinhas que precisa soltar primeiro com a faca. Ficou a lição de Ms Sontag: antes de usar a mão, use o cérebro.

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