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Como você está se sentindo hoje? Aquelas reguinhas de geladeira oferecem algumas opções: triste, feliz, genial, “um terror”.

Pois quero propor uma nova classificação: a régua das mulheres de Ibsen (coisas que o mestrado faz com você. Dizem que depois de um tempo a paranoia acaba).

Pois bem, de acordo com esse novo paradigma que acabo de lançar, você pode acordar de manhã se sentindo ingênua e faminta por doces, tal qual Nora Helmer, de “Casa de Bonecas”.

Essa peça de 1879 foi um estouro na carreira do norueguês Henrik Ibsen, que até então tinha fracassado em suas tentativas de sair do padrão das peças certinhas que retratavam o cotidiano burguês com um final feliz. Tentou abraçar o nacionalismo romântico, poemas épicos, e então chegou nessa fase que pode ser chamada de drama social. Foi então que o público se rendeu.

“Casa de bonecas” apresenta uma mulher aparentemente controlada pelo maridão, mas que na surdina mexe seus pauzinhos, e que no final (não é spoiler quando já se passaram cem anos) decide sair de casa para se descobrir. É a batida de porta mais famosa do teatro.

Se escolher o temperamento Nora, portanto, você tem que fazer uma progressão ao longo do dia e revolucionar sua vida rapidamente. É para poucos.

Mas digamos que você acorde “Hedda Gabler”. As leituras psicanalíticas que dominaram a recepção de Ibsen no século 20 definiram a protagonista da peça que leva seu nome (de 1890) como “neurótica”. Não é para menos. Ela se casa e imediatamente começa a espezinhar o marido. Brinca com as armas do papai. Põe as mãos num manuscrito só para queimar tudo e induzir o autor à morte. Claramente, “um terror”.

O adjetivo “misteriosa” da reguinha vai para Ellida, de “A Dama do Mar” (1888). Vítima da fase mais mística de Ibsen, ela aparenta uma maturidade que descamba para momentos atormentados, pelos quais ela culpa um ex-namorado, o mar, a temperatura da água na baía ao pé do fiorde mais próximo e, claro, o casamento de conveniência que acaba confessando ter feito.

Nada que prepare o leitor para o final, quando pede ajuda ao marido, manda embora a antiga paixão, se recompõe e descobre a liberdade. Mas...já acabou? Assim que recebe “autorização” para optar, percebe que toda escolha traz uma nova limitação.

Como vemos, são tantas as mulheres desse autor, com neuroses tão variadas, que uma com certeza vai fazer a sua cabeça. Não esquecemos de Rebecca West, Helena Alving, das adolescentes Hilde e Hedvig e tampouco da pesquisadora Joan Templeton, autora do livro “Ibsen’s Women”.

Lembrando que não precisa ser mulher para se enquadrar em um desses temperamentos. E aí, como está se sentindo hoje?

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