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Kátia Abreu na política

Pecuarista de profissão, é formada em psicologia e atua como líder do agronegócio desde 1995. Hábil em expor e articular suas ideias, não foge de questões polêmicas.

Foi presidente da Federação da Agricultura e Pecuária do Tocantins por dez anos e, em seguida, deputada federal e senadora.

Eleita presidente da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) em 2008, função que acumulou desde então.

A ministra de Agricultura, Pecuária e Abastecimento que assume quinta-feira (dia 1.º) é novidade no posto, pela capacidade de articulação e convencimento e pela defesa irredutível de suas ideias. Kátia Abreu tem energia de sobra e não foge de uma briga. Pelo próprio perfil de líder de classe, a peemedebista dificilmente irá escapar de confrontos diretos na cúpula do governo.

O agronegócio não é nem será unanimidade no Executivo. O último ministro que demonstrou mais facilidade em apresentar o setor como peça fundamental da economia – e não como um segmento que angaria apoio por interesses particulares –foi Reinhold Stephanes, entre 2007 e 2010. Depois disso, cada medida teve de ser arduamente discutida, como uma benesse dada a quem pouco precisa. Quatro ministros se sucederam desde então e as dificuldades enfrentadas por Neri Geller, produtor rural de Mato Grosso no cargo desde março, mostram falta de consenso e até desconhecimento do potencial do setor.

O crédito rural segue com orçamento cada vez maior, é verdade, mas com juro também mais alto (6,5% ao ano, um ponto a mais do que na temporada passada). Há mais recursos para construir armazém, para produzir com menos impacto ambiental, mas o custo Brasil continua pesando contra a agropecuária. Os avanços acabam funcionando simplesmente como uma compensação enquanto as grandes obras – duplicações de rodovias, ampliação da malha ferroviária, reestruturação dos portos – não se concretizam. Mas deveriam ser parte de uma política mais sólida de estruturação do setor. Os cortes representam um recuo no plano estratégico de fortalecimento da atividade agropecuária e agroindustrial – e da economia.

As discussões sobre como reduzir a dependência dos fertilizantes importados, por exemplo, não têm continuidade. O seguro rural começa toda safra com um orçamento que só é cumprido sob pressão e no apagar das luzes. A implantação do Código Florestal tem apoio e atuação insuficientes do governo federal. Ocorre tão lentamente que, no ritmo atual, levará mais de duas décadas em estados como o Paraná.

A abertura de novos mercados –que obviamente não depende apenas de vontade política – parece evoluir mais em função do interesse externo do que de uma ação diplomática articulada. O time de adidos agrícolas, que deveria estar atuando fortemente no exterior num momento de demanda limitada, encerra o primeiro governo de Dilma Rousseff recolhido em casa. Até que sejam remetidos novamente ao exterior, muitos negócios terão de esperar.

Enfim, Kátia Abreu terá de recolocar temas estratégicos na lista de prioridades do Planalto, bater o pé em relação a assuntos centrais e sustentar suas posições ideológicas. Tarefas nada pacíficas.

Sua história pessoal confirma força para o embate. Viúva, na década de 1980, decidiu morar na fazenda que era conduzida pelo marido. Achou no cofre uma espécie de manual deixado por ele, que lhe guiou na atividade. Se deu tão bem que chegou a presidente da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), em 2008.

Por outro lado, a nova ministra usa muito mais de sua formação em psicologia do que a experiência na pecuária para atuar na política. Foi com sua retórica e capacidade de articulação que passou de presidente da Federação da Agricultura de Tocantins -- posição que ocupou entre 1995 e 2005 – a deputada federal e, depois, a senadora do estado.

A senadora e presidente da CNA com quem o Brasil convive há seis anos é capaz de reunir milhares de produtores e mantê-los fascinados em um discurso corriqueiro. Mas agora terá de falar para plateias mais diversas.

Não dissimula problemas ou posições. Na discussão que precedeu a votação do novo Código Florestal, admitiu que mais da metade das propriedades rurais estavam irregulares –e até por isso dependiam de mudanças. Não é só a favor, é defensora do uso de tecnologias transgênicas, que considera necessárias à produção de alimentos.

Assume posições polêmicas. Defende, por exemplo, limitações ao Ministério Público. Enxerga ação coordenada contra o agronegócio nas campanhas que associam produtos do setor ao desmatamento.

Um rol extenso e forte de questões que não deverá passar despercebido.

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