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Fui conferir a data de uma exposição no site do MON e acabei indo, de página em página, naquela vagabundagem que nos faz clicar aqui e ali, espiar isto e aquilo – um dos maiores prazeres da rede. Dei uma olhada no estudo original do Niemeyer para o Museu, vi fotos diversas, bisbilhotei documentos, conferi exposições, eventos, já esquecido do que procurava. Lá pelas tantas, esbarrei num link que me chamou a atenção: achados e perdidos. Tomei um susto.

Logo num museu? Museu é lugar de boa memória, o que imagino se estender aos seus freqüentadores. Bom, devo estar enganado. Não há lugar mais indicado para se perder alguma coisa. Será recuperada, com certeza, e, no caso do MON, com a gentileza de uma página dedicada a relacionar o que lá se encontra à disposição dos esquecidos. Um museu que se preze não deixa que nos esqueçamos de nada.

Chama atenção a quantidade de guarda-chuvas e sombrinhas perdidos. É conhecida a displicência com que tratamos os guarda-chuvas, que merecem o desprezo, aliás. Meu pai, que costumava ser sábio, dizia que guarda-chuvas (ele sempre os perdia) deveriam ser de propriedade coletiva – único caso em que admitia o socialismo. Devemos usá-los enquanto chove e largá-los em qualquer canto assim que o tempo melhora. Será utilizado por alguma vítima do próximo aguaceiro.

Não pensa assim o site do MON, ao relacionar o que lá está à espera dos distraídos: um guarda chuva na cor cinza, esquecido no quiosque de entrada, um guarda-chuva infantil, cor de rosa, e outro verde, com cabo de madeira, esquecido por uma visitante da qual o museu dá nome e sobrenome: Tânia Costa. Como descobriram seu nome? Estaria inscrito no cabo de madeira? Apego demasiado a um guarda-chuva. Foi quando encontrei um surpreendente guarda-chuva vermelho. Quem poderia esquecer um guarda-chuva vermelho? Com esta cor, fica gritando: olha eu aqui! É inesquecível. No entanto, foi esquecido.

A lista dos abandonados não cessa de surpreender. Por exemplo: uma faixa de quimono, cor laranja. Algum judoca sonhador? Há faixa laranja no judô?

Surge agora uma pochete rosa – a cor predominante nos objetos abandonados, aliás –, na qual os cuidadosos funcionários encontraram o seguinte: uma toalha, um sabonete, uma escova dental com capa e creme dental. De alguém distraído, mas precavido. E higiênico.

No setor de documentos, estão à disposição uma carteira de identidade de Wagner Nunes dos Santos e uma carteira estudantil de Gisele Miguel. Na de acessórios, um anel prateado com detalhes em dourado e pedras, além de um par de luvas na surpreendente cor vinho. O par de óculos de sol Nickyferrari 3162, que eu jamais imaginaria que existisse com tal identidade e número, já foi devolvido a seu feliz proprietário. Mas ainda está lá um estojo fotográfico em couro preto, no qual, com exceção da máquina propriamente dita, havia uma caneta e um cartão (Lexar 512MB) de memória, aquela que faltou a quem o perdeu.

E a quantidade de guarda-chuvas cresce: surgem agora um preto e um azul, além de outro, preto, em nome da Eloana, que já foi buscá-lo.

Mas nada é mais surpreendente do que um objeto esquecido e classificado – os museus classificam, com se sabe – sob o rótulo de Objetos Diversos. Lá está: um mosquetão com cabo de aço preto. Um mosquetão?! Mas não seria o caso de incorporá-lo ao museu? E quem será que anda por aí, nestas pacíficas ruas desta gentil cidade de Curitiba, com um mosquetão em punho?

Segue a listagem: um canivete, dois outros guarda-chuvas, uma tiara, uma pulseira com flores em várias cores, uma echarpe preta (já devolvida), uma medalha em ouro, uma carteira branca e rosa, uma mão de luva rosa. Vejam quanto mistério: como se perde só uma mão de luva? A outra mão não ficaria gritando por companhia? E por que se repetem a cor rosa e os guarda-chuvas? Jamais saberemos.

Por fim, um simbólico par de óculos de grau encontrado após uma reunião governamental. Seu proprietário deve ter saído do MON tropeçando. Vai ver, caiu naquele lago inventado pelo Niemayer.

Enfim, além do prazer de ser tão bem informado pelo site, achei que estava na hora de escrever uma crônica com alguma utilidade pública. Quem sabe algum leitor volte lá para recuperar seus objetos, supondo-se que se lembre do que perdeu e de onde fica o museu.

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