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Este presidente tem várias peculiaridades em suas relações com a língua portuguesa. Uma delas, muito curiosa, é o uso obsessivo da expressão "este país" no lugar de Brasil.

Fico pensando: o que isto pode significar? Brasil não é um nome bonitinho? Não é um nome forte e sonoro? É.

Sendo assim, por qual razão um sujeito deixa de usar – sistematicamente – o nome do país para empregar uma expressão genérica, que valeria para qualquer país do mundo? Uma explicação, meio freudiana, seria a inconsciente rejeição ao país, que gostaria que fosse outro. Ou um sentimento de inferioridade de quem teme ser rejeitado por "este país". Mas poderia ser também um sinal de alguém que deseja um país só para ele: "este país" seria, então, uma criação paranóica. Algo assim.

Como saber?

Depois de muito pensar, lembrei de uma molecagem feita pelo Sérgio Faraco – que hoje é referido com justa razão como "o notável contista gaúcho" –, mas que na década de 1960 era apenas um moleque. Mo-rávamos em Blumenau e o Sérgio trabalhava na Junta de Conciliação do Trabalho, no nono andar de um prédio no centro da cidade. Todos os dias ele era conduzido ao trabalho por um ascensorista pequenino. Um dia, os dois, entre o térreo e o nono andar, meteram-se a conversar. Notando que o pequeno era posudo e desinformado, o Sérgio, lá pelas tantas, resolveu explicar que poucas pessoas sabiam falar português com elegância. E atacou:

– Por exemplo. Em que andar eu trabalho? perguntou.

E o pequeno, esperto:

– Nono, doutor.

– Errado. Em português escorreito – só esta palavra já deixou o ascensorista siderado – devemos dizer nônimo.

Diante dos olhos deslumbrados do baixinho, o Sérgio arrematou:

– É lógico, veja só. Sétimo... oitavo... nônimo.

Daí em diante, quando o Sérgio entrava no elevador, o pequeno piscava um olho cúmplice:

– Nônimo, doutor?

– Claro, respondia o Sérgio, impassível.

Juro que o Lula deve ter ouvido, num dia qualquer de maior estro poético, alguém a seu lado – talvez um embaixador, alguém tão ilustre quanto um funcionário da Junta aos olhos de um ascensorista – se referir a "este país".

Pronto, ficou siderado. A partir deste dia, encantado, adotou a expressão – associada ao gesto de juntar as pontas dos dedinhos ao fazer discursos, que deve ter observado em algum chique mandatário europeu num momento de delicadeza feminil.

"Este país" é o "nônimo" do Lula.

Mas, façamos justiça, Lula é um inovador. Criou nova figura jurídica que constará em futuros manuais ao lado dos conhecidos "em legítima defesa", "por estar fora de si", "movido por violenta paixão" etc., expressões que servem para livrar os infratores de suas culpas. No caso de Lula, é um simples "eu não sabia". Aliás, o venerando Dr. Asclépio Data Vênia, causídico aqui da Vila, já incorporou a expressão a seus pareceres e a sua vida privada. Dias destes, foi pego em flagrante delito no leito de Mariinha Teles, esposa de Tercílio Tavares Telles, açougueiro. Quando Tercílio avançou sobre Asclépio, cutelo em punho, gritando:

– O que faz na cama com minha mulher?!

Ele defendeu-se:

– Sua mulher? Eu não sabia! Eu não sabia!

E saiu de fininho, roupas debaixo do braço, bunda de fora, sentindo-se absolvido de qualquer culpa.

Pelos méritos criativos de Lula, deveríamos oferecer a ele a República Corporativa D’Este País. Um território de uns novecentos metros quadrados, em pleno sertão Pernambucano, onde ele seria mandatário absoluto, com direito a prender e soltar, com reeleição garantida para sempre, podendo distribuir bolsas piedosas, auto-proclamar-se o melhor presidente que "este país já teve". Seria coroado Lula, o Primeiro e Único. E, na delirante paranóia em que viveria, não perderia o mandato nem seria derrubado do poder por mais besteiras que fizesse.

Como sabemos, por besteiras menores, Nixon renunciou e Getúlio Vargas – com quem "este presidente" gosta de se comparar –, meteu uma bala no coração. Mas, sabemos também, para isto é necessário que se tenha uma certa estatura, sob risco de alvejar partes mais baixas e menos vitais da anatomia humana.

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