
Era de se estranhar que David Bowie, um dos mais reverenciados ícones da cultura pop mundial, ainda não tivesse merecido um documentário satisfatório da rede britânica BBC. Mas a volta do artista inglês no ano passado, quando lançou o ótimo álbum The Next Day em um reaparecimento cercado de certo mistério, foi uma boa oportunidade para se voltar a falar sobre ele.
O diretor e produtor Francis Whately não economizou esforços para isso. Com a ajuda de uma equipe, vasculhou entrevistas de rádio e televisão, materiais promocionais e imagens brutas para lançar um olhar fresco e iluminado com imagens inéditas sobre a mítica trajetória do músico no documentário David Bowie: Five Years (2013), que tem uma versão disponível no Netflix brasileiro.
Whately elegeu cinco anos-chave na carreira do artista entre, 1971 e 1983, para investigar como Bowie construiu sua mítica trajetória, frequentemente apontada como prenunciadora e representativa da loucura dos anos 1970.
Five Years acerta ao abrir mão de um narrador onisciente e reunir depoimentos do próprio Bowie e dos instrumentistas que participaram das gravações, aproximando o espectador do pensamento do artista. Whately teve sensibilidade para escolher momentos tão banais quanto densos de significado e de traços da personalidade de Bowie a complexidade de suas ideias artísticas, sua criatividade ávida, seu perfeccionismo, sua inquietude.
Os anos escolhidos representam a mudança mais radical nos rumos artísticos do músico: 1971-1972, época em que cria a persona Ziggy Stardust; 1974-1975, quando resolve virar um soul man; 1976-1977, fase em que apresenta Thin White Duke e posteriormente se une a Brian Eno e reinventa seu jeito de compor e trabalhar em estúdio; 1979-1980, quando reavalia sua obra e emplaca hits com Scary Monsters; e 1982-1983, ano em que, mesmo com pretensões experimentais, faz a jogada comercial de sua carreira e sai do plano cult. Começa a tocar em arenas lotadas com hits globais como "Lets Dance" e "China Girl". A superexposição contrasta com uma espécie de epílogo, que trata do hiato de Bowie e a criação de uma nova aura de mistério sobre sua personalidade.
Outro documentário, David Bowie Is este um longa-metragem para o cinema desembarca no Brasil em dezembro. Uma coletânea com as principais canções de toda a carreira do artista também está prestes a sair, e o elogiado livro O Homem Que Vendeu o Mundo, de Peter Doggett, foi recentemente editado por aqui. Five Years, portanto, é só um ponto de partida para entender o mito. Mas parece abrir as trilhas certas.
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