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Buscemi interpreta o tesoureiro Nucky Thompson em  Boardwalk Empire | Divulgação
Buscemi interpreta o tesoureiro Nucky Thompson em Boardwalk Empire| Foto: Divulgação

O poeta e dramaturgo romântico Alfred de Musset disse por meio de um de seus personagens que a política é como uma sutil teia de aranha onde lutam inúmeras moscas mutiladas. Tal pensamento não poderia se adequar melhor ao clima de constante conflito da série Boardwalk Empire, coproduzida por Mark Wahlberg e Martin Scorsese e que chega agora à sua segunda temporada no canal HBO.

A série, que retrata o período da Lei Seca nos Estados Unidos, em especial em Atlantic City, cidade do estado de Nova Jersey, tem diversos personagens principais, mas se concentra no tesoureiro da cidade, Enoch "Nucky" Thompson – interpretado por Steve Buscemi –, uma versão ficcional de Nucky Johnson, um dos chefões do Partido Republicano nos anos 20. A liberdade poética sobre Johnson, aliás, é uma entre tantas tomadas pelo autor Nelson Johnson, autor do livro Boardwalk Empire: The Birth, High Times and Corruption of Atlantic City, e também criador da série, sobre o período e seus personagens, o que só enriquece a trama.

A primeira temporada de Boardwalk Empire – cujo primeiro episódio bastou para garantir o próximo ano – parecia ter como preocupação principal, além de fundamentar bem os personagens e suas respectivas importâncias, mostrar, de uma maneira didática, como a política de Thompson se articula e a quais interesses atende. Os primeiros anos da proibição às bebidas alcoólicas, do mafioso Al Capone e da seita religiosa Ku Klux Klan aparecem secundariamente à disputa política que elegeu o prefeito Edward Bader. Agora, na nova temporada, Nucky Thompson precisa lidar com as forças políticas que se articulam contra ele enquanto resolve um delicado impasse entre a comunidade negra e o resto da população, que parece tomar sempre o lado da Ku Klux Klan. Os novos episódios prometem revelar mais o potencial de alguns personagens marcantes, como o protegido de Thompson, Jimmy Darmody (o excelente Michael Pitt), o desfigurado guarda-costas Richard Harrow e o líder da comunidade negra Chalky White.

A tônica principal da série é sempre a ironia. Em pleno período de Lei Seca, existem poucas cenas em que os atores não estão tomando uísque, e mesmo o agente federal Nelson Van Alden, o fervoroso paladino solitário contra a "Sodoma à beira-mar", como gosta de chamar a cidade, cai em tentação ao engravidar uma ex-dançarina.

No que toca o jogo político proposto – um de seus maiores atrativos – Boardwalk Empire é como um O Poderoso Chefão onde todo mundo é Fredo Corleone: não há laços sanguíneos ou afetivos suficientes para garantir a lealdade. Quase todos os personagens agem como máquinas capitalistas, movidos por princípios básicos do sistema. Esse universo cão-come-cão tem como outsider e força opositora principal a misteriosa feminista Margaret Schroeder, interpretada por Kelly McDonald, cujos objetivos ainda não são completamente claros ao espectador.

Não foi à toa que Boardwalk Empire já venceu tantos prêmios em sua primeira temporada, incluindo dois Emmys e dois Globos de Ouro. A série faz uma excelente reconstituição do período histórico e o personagem de Steve Buscemi – em um de seus primeiros papéis principais – é maravilhosamente cara-de-pau e brilhante. Seu estilo político pode ser pacífico e ríspido ao mesmo tempo, mas tudo é invariavelmente atenuado no momento em que o personagem saca do bolso seu indefectível bolo de notas. GGGG

Serviço:Boardwalk Empire. HBO. Todos os domingos, às 21 horas.

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