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 | Osvalter Urbinati
| Foto: Osvalter Urbinati

Romance

A Arte do Jogo

Chad Harbach. Tradução de Julia Sobral Campos e Alexandre Barbosa de Souza. Intrínseca, 496 págs., R$ 39,90.

Há alguns dias, fiz uma viagem de ônibus de várias horas e levei comigo A Arte do Jogo, de Chad Harbach, publicado pela Intrínseca. Quase quinhentas páginas (no formato 23 por 16 centímetros), quase quinhentos gramas. Não é dos maiores – um leitor da série As Crônicas de Gelo e Fogo, de George R. R. Martin, pode rir do meu romance –, mas ainda é respeitável.

Calculei as horas de viagem, de ida e de volta, e imaginei que daria conta do livro nos dois trajetos. Terminei uma hora antes de chegar a Curitiba, na volta, no momento mais triste da viagem – quando descobri que não tinha nada novo para ler.

Ainda assim, terminar o livro foi bem pesado – uma sensação que não teve a ver com gostar do romance. Foi mais como perder uma boa companhia durante a viagem, embora a gente não estivesse conversando sobre coisas importantes.

O livro é bom. A história é de um guri com um talento extraordinário para jogar beisebol, numa posição chamada de interbases. É bom avisar que ler A Arte do Jogo sem nenhuma noção de beisebol é como ler um James Joyce sem saber nada sobre a Irlanda ou os irlandeses. Você ainda pode desfrutar da experiência, mas vai perder um tanto pelo caminho.

O nome do garoto é Henry Skrimshander. Ele é descoberto por Mike Schwartz, jogador de uma universidade em Indiana construída em torno de uma visita histórica que Herman Melville, o autor de Moby Dick, fez à instituição muito antes de se tornar um totem das letras americanas.

Skrimshander, ou Skrimmer, como preferem seus colegas, vai para a tal universidade e se desenvolve como jogador com a ajuda de Schwartz. A história lembra os filmes sobre adolescência de John Hughes, como Alguém Muito Especial (1987) e Clube dos Cinco (1985). Mas numa versão reeditada. Um dos enredos, por exemplo, trata da paixão do reitor da universidade (hetero até então) por um aluno gay.

Nos EUA, tenho a impressão de que os bastidores do livro foram mais comentados do que o próprio livro. Chad Harbach, o autor, levou quase uma década para finalizar o romance, o seu primeiro, e recebeu uma bolada por ele – US$ 700 mil.

O livro longo, quando é bom – ele não precisa ser espetacular –, conforta porque passa bastante tempo com você.

Talvez seja só coincidência, mas o New York Times falou nesta semana em um "ressurgimento" das ficções longas. A história veio na notícia sobre a briga entre editoras por um romance de 900 páginas escrito por um relativamente desconhecido Garth Risk Hallberg – City on Fire foi arrebatado por US$ 2 milhões. Isso ocorreu um mês depois de Eleanor Catton vencer o Man Booker Prize, o prêmio literário mais importante do Reino Unido, com The Luminaries, de 834 páginas. E dias depois de Donna Tartt (importante por lá) publicar The Goldfich, de 771.

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