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Albert Einstein, que gostava de se sentar na grama, sob a sombra das árvores | Divulgação
Albert Einstein, que gostava de se sentar na grama, sob a sombra das árvores| Foto: Divulgação

Há dias venho pensando sobre a importância de pensar antes de falar. Nem sempre o cérebro tem a habilidade de prever o que, instintivamente, disparamos ao abrirmos a boca. Quando percebemos o que dissemos, já é tarde demais: o que não foi pensado já foi enunciado, e está no mundo. Mas será que essas palavras, aparentemente lançadas ao vento sem o filtro da reflexão, são tão levianas, ou mesmo desprovidas de sentido, quanto aparentam?

Há quem defenda a ideia de que decisões, no momento em que vêm à tona e se tornam públicas, já foram tomadas inconscientemente há bem mais tempo do que supomos. Em alguma instância, lá no limite entre a razão e o inconsciente, ficam em gestação, num silencioso processo de fermentação que prescinde do discurso, da interlocução planejada. Isso ocorre porque, mesmo enquanto dormimos, assistimos a um filme ou simplesmente preferimos não pensar, algo dentro de nós permanece em constante ebulição, como um vulcão adormecido.

Dizem os biógrafos do físico alemão Albert Einstein (1879-1955), que depois de esquentar a cabeça por horas, senão dias, em busca da resposta correta para uma determinada questão que o atormentava, o cientista alemão saía a esmo pelo campus da Universidade de Princeton, nos Estados Unidos, onde viveu seus últimos dias. Precisava de uma trégua. Mas, ao se sentar no gramado, sob a sombra de uma árvore, e fechar os olhos, quase adormecendo, a solução para seu enigma, tão arduamente procurada, lhe caía no colo, como se já estivesse pronta, escondida em algum recanto de seu cérebro. Algo como a maçã que despencou sobre a cabeça de Isaac Newton.

É, em certa medida, libertadora a descoberta de que existimos mesmo quando não pensamos, o que pode entrar em choque com a célebre frase do filósofo francês René Descartes (1596-1650), mas no fundo não a contradiz. Apenas a problematiza. Pensar não apenas é um ato voluntário ou 100% consciente.

Não adianta tentarmos manter total controle racional sobre o que acontece dentro e fora de nossas cabeças vulcânicas. O borbulhar de sentimentos, pensamentos e sensações é constante, mesmo quando silencioso, latente. E muito do que somos, e da forma como nos apresentamos ao mundo, é resultado desse processo constante e, muitas vezes, surpreendente, que transcorre na medida em que respiramos, e não apenas quando ligamos nossa racionalidade na tomada.

Por isso, quando nos vemos dizendo coisas, ou tomando atitudes inesperadas – não necessariamente equivocadas e com frequência muito verdadeiras, é preciso dizer –, colocamos as mãos na cabeça, sussurrando a nós mesmos: "Como eu pude dizer (ou fazer) isso?". Situações como essas costumavam me atormentar, porque, desde muito jovens, somos condicionados a procurar a adequação a modelos comportamentais regidos pelo senso comum, que tende a ser pouco generoso com a diversidade, com o que foge do percurso previsto e predeterminado pelas normas vigentes.

Assim, percebi que, se sempre pensarmos muito antes de falar ou de agir, deixando que as forças sociais que nos cercam tomem decisões em nosso nome, seremos permanentemente como aqueles bonecos de ventríloquo. Defendo, portanto, o direito de sentar na grama sob a sombra de uma árvore e fechar os olhos. Distraídos, talvez venceremos.

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