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 | Felipe Lima/Gazeta do Povo
| Foto: Felipe Lima/Gazeta do Povo

Há muitas paisagens belas no mundo. E saber disso é reconfortante. Algumas delas, no entanto, são mais especiais. Porque, além de nos encherem os olhos, têm a capacidade de fazer com que façamos descobertas inesperadas. De nos tocar, sem que saibamos explicar como ou por quê. Ironicamente, elas nem sempre estão ao nosso alcance, porque, de alguma forma, são distantes demais. Há algo que nos impede de vê-las em sua plenitude.

O fantástico nessas visões, nesses pedaços de mundo que um dia temos a oportunidade de ver surgir no horizonte, é que elas ecoam, reverberam dentro de nós. Instalam-se, nos modificando, nos fazendo ter a sensação de sermos desbravadores aventureiros, meninos caçadores da arca perdida. Colam não apenas em nossa memória visual, mas também em um território mais remoto, e algo indomável e sagrado, no núcleo do que essencialmente somos: a fronteira entre o desejo e o afeto.

Mas há um momento – e ele invariavelmente chega – quando é preciso compreender que não é possível se deixar escravizar pela promessa de um dia chegar de novo mais perto, tocar e viver nessa instância paradisíaca. Passar a integrar essa paisagem. Percebemos que o muro, muitas vezes simbólico, que nos separa dessa imagem, ou sensação, que tanto nos encanta, é alto demais. E que, embora possamos ver de vez quando um fiapo de mar sob o sol, um rastro da imensidão de sua beleza, até mesmo para podermos ter essa visão restrita somos forçados a ficar nas pontas dos pés. Por tempo demais.

E daí os joelhos fraquejam. Cansados, eles tremem, o olhar por fim se turva, e a paisagem pode se transformar em miragem, em um sacrifício que aos poucos faz o encantamento desbotar, menos por sua própria culpa e mais por conta da impossibilidade física de podermos enxergá-la, senti-la por inteiro durante tempo suficiente, e para ela nos transportarmos. Afinal, a gente quer ver!

Então, o melhor a fazer talvez seja plantar as solas dos pés no chão. Lentamente. Permitir que a paisagem se esconda por trás desse muro – uma implacável barreira até o momento em que lhe delegamos esse valor, e esse poder. Porque, diante do incontornável desaparecimento de tanta beleza, e significado, descobrimos que o eclipse é relativo.

A paisagem, de certa forma, então sobrevive enquanto ideia no horizonte distante da aceitação, e tem, sim, permanência, pois, nem que tenha sido uma ou duas vezes, a vimos um pouco mais de perto. Nela tocamos e sentimos a sua vibração, o calor que emana.

Talvez, assim, passe a ser cenário de nossos sonhos. Quem sabe.

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