• Carregando...

Imagina se o então garoto craque de bola Alex, já idolatrado pelos coxas-brancas e torcedor declarado do Coritiba, tivesse trocado o Alto da Glória, não pelo Parque Antárctica como ocorreu, mas pela Baixada, em 1997? E se, em seguida, levasse o Atlético a dois títulos do Brasileiro? Claro que a rivalidade é incomparável, mas foi quase isso que fez o norte-americano LeBron James em 2010, quando anunciou sua saída do Cleveland Cavaliers para formar um trio de "monstros" com Chris Bosh e Dwyane Wade, que se juntariam a ele no Miami Heat.

Trocava de ares alegando que queria estar em uma equipe capaz de brigar pelo troféu da NBA. Virou inimigo no estado em que nasceu. Teve camisas queimadas, foi hostilizado e até ouviu do presidente da franquia que o Cavaliers (Cavs para os íntimos) seria campeão antes dele. Blefe. Em quatro campeonatos na Flórida, levantou a taça duas vezes; nos outros dois, ficou com o vice, incluindo na temporada passada.

Aliviado, o quase trintão astro do basquete – comemora aniversário em dezembro – agora faz justamente o caminho oposto. Volta para o lugar que chama de casa. Diz que é onde deseja criar a filha e onde sempre imaginou encerrar a carreira. Essa reconciliação e suas consequências monopolizam os holofotes da edição 2014/2015 da liga norte-americana de basquete, que começa hoje. Até porque as outras movimentações do mercado tiveram pouco impacto, ao menos em teoria, para uma alteração significativa no equilíbrio de forças. Destaque talvez para Pau Gasol seguindo do Los Angeles Lakers para o Chicago Bulls da eterna promessa (e titular do departamento médico vermelho e preto) Derrick Rose.

Ao lado de Kyrie Irving, Anderson Varejão, Dion Waiters, do calouro Andrew Wiggins e do recém-chegado Kevin Love, a dúvida é se o elenco do Cavs vai se entrosar a tempo de fazer frente aos vovôs-campeões do San Antonio Spurs, cujo plantel é o mesmo do ano passado.

A completa cicatrização do abalado relacionamento entre LeBron James e a torcida dependerá muito dessa resposta em quadra. Apesar do trauma ainda evidente, o que se sente em torno da franquia é que o ex-traidor representa a grande chance de uma conquista inédita. Ganhando, qualquer mágoa fica para trás. Lei universal.

Essa tensão criada pela quebra de confiança provavelmente teria intensidade muito diferente no esporte brasileiro – leia-se futebol, por favor. Aqui, tenho dúvidas se o Alex do exemplo acima teria condições de retornar ao Alviverde sem ser massacrado nas arquibancadas e no octógono virtual das redes sociais.

Legalmente não há nada que impeça um atleta de virar a casaca da noite para o dia. É o profissionalismo levado ao pé da letra. A chamada lei de mercado. Entendo. Só não gosto. É a antítese do romantismo que fez eclodir a paixão nacional pela arte em forma de chutes e defesas. Época em que um cara como Ademir da Guia, homenageado no sábado pelo Palmeiras, jogava 15 anos pelo mesmo clube. Tempo em que idolatria era uma declaração de união estável.

Dê sua opinião

O que você achou da coluna de hoje? Deixe seu comentário e participe do debate.

0 COMENTÁRIO(S)
Deixe sua opinião
Use este espaço apenas para a comunicação de erros

Máximo de 700 caracteres [0]