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Imagem de A Estrada para Guantánamo |
Imagem de A Estrada para Guantánamo| Foto:
  • Imagem de Ventos da Liberdade
  • Imagem do filme La Graine et le Mulet
  • Retrato de George W. Bush precoce, parcial e demolidor
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Há no filme Missing – O Desaparecido (1982), thriller político do cineasta grego Costa-Gavras, um momento particularmente perturbador para nós brasileiros. A trama tem como ponto de partida o sumiço de um jovem ativista norte americano no Chile durante a ditadura do general Augusto Pinochet. Quando o pai e a esposa do rapaz, vividos por Jack Lemmon e Sissy Spacek, vão ao Estádio Nacional de Santiago, para onde os presos políticos eram conduzidos para serem interrogados e, não raro, torturados, ouve-se, em alto e bom som, um dos agentes falando português do Brasil sem sotaque. É uma referência breve, porém inequívoca, à Operação Condor, compartilhada pelos governos militares na América do Sul para deter os avanços da esquerda no continente.

Vencedor da Palma de Ouro no Festival de Cannes, Missing – O Desaparecido é exemplar dentro da filmografia de Gavras, um diretor ainda em atividade cuja obra sempre teve forte teor político. É dele o clássico Z (1969), no qual o cineasta denuncia os abusos cometidos pelo regime autoritário que substituiu o governo democrático na Grécia em abril de 1967.

Tanto Missing quanto Z pertencem a um determinado tipo de cinema, que pode ser simplificado pelo adjetivo "engajado", mas que envolve bem mais do que o mero intuito de ser denuncista e panfletário. Embora fique claro o posicionamento de Gavras diante dos fatos históricos que retrata e discute em seus filmes, essa postura não se sobrepõe à história narrada. Tampouco à sua coerência dramática, presente tanto no roteiro e na construção dos personagens quanto na condução do elenco.

Engajamento, portanto, não é pecado no cinema, contanto que o filme, enquanto obra de arte, não seja usado como mero instrumento de propaganda da ideologia dos seus criadores. Há na cinematografia contemporânea diretores cujas obras são marcadas pela freqüência com que abordam temas relacionados a questões sociais e política.

Talvez o mais importante desses criadores hoje em atividade no mundo seja o britânico Ken Loach. Seja discutindo a resistência ao fascismo do general Franco na Guerra Civil Espanhola (1936-1939) no épico Terra e Liberdade (1995) ou reconstituindo a história dos republicanos que combateram o domínio britânico na Irlanda dos anos 1920, no drama Ventos da Liberdade, o cineasta sempre se posiciona do lado dos oprimidos, na maior parte da vezes, os perdedores. Essa opção, claramente ideológica, por mais que confira uma certa previsibilidade às histórias que conta, não descredencia seu cinema. O inglês, hoje com 72 anos, é um talentoso diretor de atores e seus filmes, tanto nas cenas mais intimistas quanto nas espetaculares, demonstram pleno domínio da arte de fazer bom cinema.

Loach parece ter um sucessor natural em sua própria terra natal: Michael Winterbottom, de 48 anos. Embora sua filmografia não se restrinja ao cinema engajado – ele dirigiu o musical erótico Nove Canções–, o diretor sempre alcançou maior repercussão ao abordar assuntos palpitantes do quadro geopolítico internacional. Venceu, em 2006, o Urso de Prata de melhor direção pelo docudrama Estrada para Guantânamo, que retrata (e denuncia) as agruras vividas por um trio de jovens britânicos muçulmanos, presos e enviados ao centro de detenção instalado na base militar norte-americana vizinha a Cuba. Em 2002, Winterbottom já havia ganhado o Urso de Ouro no mesmo festival, por Neste Mundo, que conta a história de dois afegãos que vivem em um campo de refugiados e tentam escapar do seu país pela Rota da Seda, rumo ao Reino Unido.

França Árabe

Do outro lado do Canal da Mancha, na França, o tunisino Abdellatif Kechiche vem fazendo história na terra de François Truffaut e Claude Chabrol. Já venceu o César (prêmio máximo do cinema francês) de melhor filme e diretor duas vezes, por A Esquiva (2003) e La Graine et le Mulet (2007). Tanto um quanto o outro abordam de forma humanista, mas sem trair o realismo, o cotidiano da comunidade franco-árabe. São filmes que falam sobre família, jovens, desemprego e a tentativa de estabelecer pontes entre dois mundos que por vezes parecem ser incomunicáveis.

No outro extremo do espectro da sutileza está o diretor norte-americano Oliver Stone, duas vezes vencedor do Oscar de melhor direção – por Platoon (198) e Nascido em 4 de Julho (1986), ambos libelos anti-Guerra do Vietnã. Polemista por natureza, ele lança nos Estados Unidos, no próximo fim de semana, W., precoce, nada imparcial e absolutamente destruidora cinebiografia do presidente George W. Bush.

A poucas semanas da eleição que decidirá se o próximo mandatário norte-americano será o democrata Barack Obama ou o republicano John McCain, a escolha da data de estréia parece oportunista, mas coerente se analisarmos a trajetória de Stone, para quem o engajamento, além de traço autoral, tornou-se um tique. Talvez por isso tenha perdido sua relevância no quadro atual do cinema americano.

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