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Brasília – Nas telas, ele apresenta um cinema vigoroso e ao mesmo tempo marginal, que causa polêmica pelos fortes temas que retrata. Polêmicas também são suas atitudes e palavras fora do set de filmagem, que colocam o dedo na ferida criticando os grupos que dominam o cinema nacional há décadas. O inquieto cineasta pernambucano Cláudio Assis promete continuar incomodando a todos com o lançamento de seu segundo longa-metragem, Baixio das Bestas, apresentado no fim de semana na competição do Festival de Brasília do Cinema Brasileiro.

Depois de ótima estréia com Amarelo Manga, vencedor da edição 2002 do evento candango, a expectativa de público e crítica era muito grande em relação ao novo filme, que retrata a Zona da Mata, no sertão nordestino. Como na fita anterior, o diretor apresenta um grande grupo de personagens marginais com muitas imperfeições e perversões. Cláudio Assis conversou com o Caderno G sobre a produção e também fez uma avaliação das ações do governo Lula para o audiovisual brasileiro.Caderno G – Fale da proposta principal de Baixio das Bestas. Como surgiu o tema apresentado no filme?Cláudio Assis –A proposta é fazer um filme honesto, no qual você percebe que não tem malandragem ou escuridão, é um trabalho que quer dizer alguma coisa. Eu tinha outro projeto que havia ganho um prêmio de um fundo estrangeiro (Febre de Rato, sobre um poeta marginal, que deve ser filmado em 2007). Mas decidi fazer o Baixio das Bestas primeiro, um filme voltado para o interior, a cana-de-açúcar, um lado que é muito pouco explorado na ficção. Existem documentários, mas acho importante retratar na ficção o que acontece na zona canavieira, depois de 500 anos de exploração da terra, da monocultura, algo que está entranhado nas pessoas. É um olhar para a degradação do ser humano. Para a gente entender por que as pessoas são marginais, por que há essa violência atualmente, basta olhar para nossa colonização.Há uma expectativa muito grande em relação a esse novo filme? Como encara isso?Não me preocupo, não me importo com isso. Faço como se fosse o primeiro filme. A mesma vontade, garra, energia. O mesmo desejo de fazer e dizer, pois sempre é uma oportunidade única a que tenho quando faço um filme.Baixio das Bestas já tem distribuição garantida?Fechei com a Imovision e devemos lançar o filme no ano que vem. Vamos tocar para frente, ver o que as pessoas vão achar aqui em Brasília. Não é um filme fácil, mas é forte, sincero.Faça uma avaliação da administração de Gilberto Gil no Ministério da Cultura.Mudou muita coisa com ele. Se não fosse o Gilberto Gil e o Orlando Senna, possivelmente eu não estaria fazendo cinema. Eles fizeram vários projetos para lugares com poucos habitantes, pontos de cultura, os editais de baixo orçamento, que têm um recurso escasso, mas já são uma grande coisa para o tamanho da filmografia de que o Brasil é capaz. Aquela burrice que havia na destinação dos recursos já não existe mais. Claro que ainda acontecem alguns erros de percurso, como o último edital do BNDES, que só premiou projetos do Rio de Janeiro e São Paulo, mas, no geral, está se lutando para que haja uma distribuição dos recursos, para que haja filme no Rio Grande do Sul, no Ceará, no Amazonas, em Pernambuco, o que sempre foi uma luta muito grande da gente. Antigamente, um terço do bolo era para São Paulo, um terço para o Rio de Janeiro e o outro terço para os outros estados. Essa mudança de pensamento fez com que os governos estaduais também alterassem sua atitude. O audiovisual no Brasil ainda não é o ideal, mas teve um avanço muito grande no governo Lula.

O repórter viajou a convite do Festival de Brasília.

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