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O casal formado por Abbie Cornish e Ben Whishaw: amor sem fim em O Brilho de uma Paixão | Fotos: Divulgação
O casal formado por Abbie Cornish e Ben Whishaw: amor sem fim em O Brilho de uma Paixão| Foto: Fotos: Divulgação
  • O longa-metragem Guerra ao Terror é um drama bélico tenso, eletrizante e introspectivo
  • Jane Campion: já indicada
  • Kathryn Bigelow: endosso acadêmico

Quando a Academia de Artes e Ciências Cinematográficas de Hollywood realizar sua 82.ª cerimônia de entrega dos Oscars, em 7 de março de 2010, o mundo do cinema, provavelmente, terá razões para comemorar. Embora, no maravilhoso mundo das imagens em movimento, as mulheres ainda não tenham o espaço que merecem fora das telas e atrás das câmeras, o cenário pode estar mudando. Após oito décadas de premiação, apenas duas cineastas – isso mesmo, só duas – disputaram a estatueta na categoria de melhor direção: a italiana Lina Wertmüller, por Pasqualino Sete Belezas (1975) e a neozelandesa Jane Campion, por O Piano (1993). Ambas perderam, embora Campion tenha vencido na categoria de melhor roteiro original. Uma vergonha. Em 2010, contudo, essa história tem chances de tomar outro rumo. Duas produções assinadas por diretoras têm chances de figurar entre os agora dez concorrentes ao Oscar de melhor filme, o que as habilita a também figurar entre os cinco finalistas na categoria de direção. Jane Campion, com o belo drama de época O Brilho de uma Paixão, pode repetir seu feito de 16 anos atrás, mas quem é mais cotada para estar entre os cineastas favoritos da Academia é a norte-americana Kathryn Bigelow.Há pelo menos duas décadas, Kathryn, que foi mulher do diretor James Cameron (de Titanic), é estudada pelos teóricos e historiadores de cinema norte-americanos como uma das diretores mais instigantes de sua geração. Mas pouca gente sabe disso fora desse círculo. Ao contrário da maioria das diretoras em atividade, ela não concentra seu trabalho em gêneros considerados "mais femininos", como dramas e comédias românticas. Tem no currículo um filme de terror cult (Quando Chega a Escuridão, de 1987), um thriller noir (Jogo Per­­verso, de 1989, com Jamie Lee Cur­­tis), um policial (Caçadores de Aven­­turas, 1991, com Keanu Reeves e Patrick Swayzee) e até uma ficção científica (Estranhos Prazeres, 1995, com Ralph Fiennes e Juliette Lewis).Embora nenhum dos longas-metragens de Kathryn Bigelow tenha se tornado um campeão de bilheterias, quase todos intrigaram a crítica e, principalmente, o mundo acadêmico, que neles sempre encontraram camadas de significados e muita originalidade, tanto do ponto de vista formal quanto dramático. Com seu mais recente filme, o drama bélico Guerra ao Terror, a cineasta parece ter alcançado um outro patamar. Desde sua primeira exibição, no Festival de Veneza de 2008, a produção vem sendo citada como um dos favoritas ao Oscar 2010.

O filme, já lançado no Brasil em DVD sem ter sido exibido nos cinemas, é espetacular, no melhor sentido da expressão. A grosso modo, pode ser definido como um filme de guerra, mas como os grandes títulos do gênero – Apocalipse Now (1979) e Glória Feita de Sangue (1957) são exemplos –, Guerra ao Terror vai muito além do conflito armado, no caso a intervenção dos Estados Unidos no Iraque no pós-11 de Setembro.

O filme tem como foco um grupo de soldados cuja missão é identificar e, se possível, desarmar aparatos explosivos. No centro da trama está o sargento William James, vivido pelo ainda pouco conhecido Jeremy Renner, que lembra bastante Sean Penn ao conseguir misturar agressividade e sensibilidade viril numa combinação inesperada e explosiva. O personagem é um especialista em bombas que nada tem de herói, embora seja capaz de inesperados atos de soliedariedade. Em crise conjugal e com sérias dificuldades de relacionamento com seus companheiros de esquadrão, ele é visto como um sociopata, mais interessado na adrenalina de suas missões impossíveis do que na segurança dos soldados e oficiais que o acompanham.

Filmado com vigor por Kathryn, cujo olhar sobre um universo aparentemente tão masculino surpreende. Ela consegue revelar detalhes da subjetividade dos personagens num filme visualmente original, cheio de suspense e tensão, e que está cotado para múltiplas indicações ao Oscar, como melhor filme, direção, roteiro, ator (Renner), fotografia, edição, som e edição de som.

Ao contrário de Kathryn Bige­­low, Jane Campion construiu sua carreira a partir da investigação do feminino, desde seu primeiro longa, Sweetie (1989). Além de O Piano, O Retrato de uma Mulher (1996, com Nicole Kidman), Fogo Sagrado (1999, com Kate Winslet) e Em Carne Viva (2003, com Meg Ryan) também centram seu foco em complexas mulheres em crise com seu tempo e sua condição.

Esse também é o caso, em O Brilho de uma Paixão, de Fanny Brawne (a australiana Abbie Cor­­nish), jovem da burguesia rural in­­glesa do início do século 18, obstinada e independente, que se apaixona pelo poeta romântico John Keats (Ben Whishaw, de O Perfume), um pé-rapado sem eira nem beira que pode lhe oferecer, além de seu amor incondicional, pouco mais do que seus belos poemas, ainda pouco reconhecidos pelos literatos de seu tempo.

Emocionante, o filme explora com extrema sensibilidade tanto o amor trágico entre Fanny e Keats quanto as amarras sociais que o sufocam. Tanto a direção quanto o roteiro de Campion, baseado nas cartas entre o casal até pouco antes da morte do poeta, em 1821, de tuberculose, na Itália, são cotados para o Oscar. Mas é a ótima atuação de Abbie Cornish (de Um Bom Ano) que tem mais chances de chegar à festa ainda um tanto masculina da Academia.

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