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Não há melhor momento para assistir ao documentário Vocação do Poder, de Eduardo Escorel e José Joffily, recém-lançado em DVD. O filme, de 2004, traça um panorama das campanhas políticas de seis jovens candidatos a vereador no Rio de Janeiro, que disputaram o cargo pela primeira vez nas eleições daquele ano. Mas o que leva alguém a se aventurar na carreira política? Essa é uma das perguntas que o filme tenta responder ao acompanhar o dia-a-dia frenético de cada candidato – desde as convenções partidárias, passando pelo corpo-a-corpo nas ruas e a apuração do votos, até a reação dos eleitos e derrotados.

Os seis personagens podem ser considerados estereótipos comuns em todas as eleições. Há o candidato de esquerda, intelectual, comedido e, por isso mesmo, com baixa popularidade. Ele é representado pelo advogado e professor de sociologia Felipe Santa Cruz, um dos derrotados no pleito. Cruz parece ser a opção mais viável diante de candidatos populistas – e oportunistas –, como a pastora Márcia Teixeira, que junto com seu marido, o pastor Ezequiel, fundou o Projeto Vida Nova, em 1989. A iniciativa possui mais de 50 igrejas no Brasil, Argentina e Estados Unidos. O pastor, aliás, parece ser o grande responsável pela vitória da mulher. Com muita eloqüência, ele se revela o porta-voz da candidata, arrebanhando milhares de fiéis-eleitores. Ironicamente, o lema de Márcia Teixeira era algo como "eloqüência não ganha a eleição".

Outro perdedor previsível foi o candidato do Partido Verde, O MC Geléia, morador do bairro de Anchieta, na periferia carioca. Com sua malemolência, cantando funk mais do que discursando, ele conseguiu 200 votos e se mostrou contente com o resultado. Já o grande vencedor, com maior número de votos entre os seis candidatos, é uma surpresa para os espectadores: Carlo Caiado, de 24 anos, que ainda estuda Administração de Empresas e iniciou-se na política como assessor de um deputado estadual. Em sua campanha, ele visita periodicamente a periferia, fazendo promessas e discursos inflamados, embalados por muita música.

O pefelista Antonio Pedro, que, no início da campanha, mantinha um largo sorriso estampado no rosto enquanto distribuía pessoalmente seus santinhos pela Zona Sul do Rio, perde o rebolado ao saber da derrota. Uma das equipes do filme capta a sua decepção em um bar da cidade: o ex-candidato, de olhos vermelhos, fuma e bebe um chope enquanto ensaia um discurso frustrado.

Revelador, Vocação do Poder desvenda a prática da política municipal e resulta num painel esclarecedor de como se elege um político. Um manual para candidatos e eleitores, a ser visto antes do dia 3 de outubro.

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