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Gazeta - Pela forma como foi gravado, Coração a Batucar é um disco que já nasceu meio pronto ser tocado ao vivo? Como foi transpor este trabalho para os palcos?

Maria Rita - O processo de gravar o disco ao vivo não foi pensando no palco, mas sim na satisfação que é a troca de tocar olhando nos olhos dos músicos. Até porque o som que eu levo pro palco é sempre bastante diferente do som apresentado em disco. A criação é mútua, entre os músicos todos (incluindo esta que vos escreve!), e é completamente diferente daquele em que os músicos gravam separadamente, só a base, e depois vou lá e ponho a voz. Eu acho frio. Gravo desta maneira desde o meu primeiro disco. Faço da maneira "mais tradicional" em discos nos quais participo (por exemplo, o disco Nego, do Jaques Morelembaum e Carlos Rennó, é um dos meus maiores orgulhos: coloquei voz numa base e, posteriormente, foram acrescentados outros instrumentos). Enquanto o resultado é sempre positivo e bonito , é no meio dos músicos que me entendo melhor. Eu me sinto músico, então minha grande realização é enquanto músico. E transpor para o palco foi levemente desafiador porque a historia que um espetáculo conta é diferente daquela contada pelo disco. Inclua aí roteiro, andamento das músicas, músicas de outros discos… Gazeta - Pode explicar um pouco sobre o roteiro do show? Como foi a escolha das canções de outros discos para comporem o repertório junto às faixas de Coração a Batucar?

Maria Rita - Me baseei naquelas canções que eu sei que o público gosta de cantar e curtir, assim como naquelas que eu gosto de apresentar, ou que eu sinta que deva estar naquele show. E na história que cada canção me permite criar também. Nesse show, há um jogo de cena com o posicionamento dos músicos em relação à mim, tem um jogo de cores – sempre pensando nessas historias que as músicas me deixam cantar. É um processo bastante intuitivo. Você tem trabalhos e sucessos marcantes em outros estilos que não o samba. Foi um desafio optar por um show inteiramente dedicado a este gênero?

Maria Rita - Ah, sim, um novo show é sempre o maior desafio da minha vida. Não por ser inteiro de samba, mas sim por ser novo. Às vezes, fico com a sensação de que o desafio de um show inteiramente dedicado ao samba é maior para o público que me acompanha, ou àqueles que tentam me entender, do que pra mim. Porque, de minha parte, vem de uma necessidade de estar ali em cima fazendo o que eu faço, daquela maneira, naquele momento. Daí, me jogo na espada com consciência e certeza que precisamos todos daquilo. E é natural que meu público talvez fique um pouco ressabiado. E é justamente por isso que um show novo é o maior desafio da minha vida. Porque, para mim, o artista deve dar ao público aquilo que ele sequer sabe precisar.

Como seu público tem recebido este repertório?Com muito samba no pé! Público fazendo seu show à parte! Sinto muita gratidão… Maria Rita - Você declarou em uma entrevista sobre o novo CD que sentiu que continuaria a trabalhar com o samba ainda no fim da turnê de Samba Meu. Coração a Batucar, show e turnê, são uma espécie de continuação? Houve mudanças na sua relação e na sua abordagem do samba neste período que separa os dois trabalhos?Não sinto que "Coração a Batucar" seja continuação do "Samba Meu", não. Porque o "Samba Meu" veio com uma necessidade minha de contar – e cantar – a que vim, qual era a minha relação com o samba, essas coisas. Veio provar coisas, fincar meu pé. Eu, que sempre flertei com o samba, tanto nos primeiros discos quanto nas minhas turnês, precisava explicar que essa minha relação era genuína, e não oportunista. "Coração a Batucar" vem livre disso. Sem contar a sonoridade: enquanto "Samba Meu" vinha mais tradicional, "Coração a Batucar" vem com guitarra, que, tocada pelo Davi Moraes por vezes como violão, por vezes como guitarra e mesmo como cavaquinho, agrega e justifica tudo o que está ali no disco. Esse disco tem duas estrelas, digamos assim: eu e a guitarra do Davi. (Risos) Seu repertório está muito ligado ao samba do Rio de Janeiro. Isto é um resultado espontâneo, ou há um recorte intencional, uma identificação maior com o samba de lá?

Maria Rita - É um resultado espontâneo, talvez por eu morar no Rio, não sei. Os músicos são do Rio, o estúdio é no Rio, os técnicos de gravação são do Rio. Mas não é intencional, não, muito pelo contrário. Sou ligada ao samba de São Paulo, por exemplo, escola de samba, músicos, gravei "No Meio do Salão", que é de compositores de São Paulo. Claro, ainda tenho um caminho extenso a percorrer porque o Samba existe – e pulsa muito vivo – no Brasil inteiro. Mas minha vida é longa, e um dia eu chego lá!

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