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Hollywood ficou séria este ano. Sua lista de indicados ao Oscar inclui filmes que questionam as convenções sexuais, as relações raciais e a política do medo e da violência - um cenário bem diferente dos anos anteriores, quando Hobbits perambulavam pela Terra Média.

Na principal categoria de premiação estão "O segredo de Brokeback Mountain", de Ang Lee, uma história sobre o isolamento de dois vaqueiros gays nos anos 1960, e "Munique", de Steven Spielberg, sobre a represália israelense pelo assassinato de seus atletas nos Jogos Olímpicos de 1972.

Há ainda a história de George Clooney sobre a censura dos anos de macarthismo nos EUA, "Boa noite e boa sorte", o drama racial "Crash - No limite", e "Capote", detalhando como Truman Capote torceu pela morte de um homem para que ele pudesse ter um final para seu romance não-ficcional "A sangue frio".

Em outras categorias há obras que exploram a queda da companhia Enron, os ataques a bomba de palestinos suicidas e a violência pós-Apartheid na África do Sul. Como se pode ver, o público terá um ano diferente na cerimônia.

- Não é toa que o mundo está pronto para ver filmes que sejam mais do que apenas entretenimento - disse Jeffrey Caine, indicado na categoria de melhor roteiro adaptado por "O jardineiro fiel".

- Isso tem a ver com o modo como o mundo mudou desde os ataques de 11 de setembro de 2001, tem a ver com a invasão do Iraque, tem a ver com a incerteza da América com relação a ela mesma... A consciência política aumentou nos últimos dois ou três anos pelos eventos mundiais - acrescentou.

Spielberg, cuja obra "Munique" provocou polêmica ao perguntar o que acontece a uma sociedade quando ela responde violência com mais violência, disse que não se importaria em voltar a fazer filmes de entretenimento depois "da segunda mais dolorosa experiência cinematográfica da minha vida".

"A lista de Schindler", é claro, foi a primeira.

- Esse é um ano corajoso para os cineastas... Eles estão dizendo 'se eu nunca mais fizer outro filme, esse diz o que eu sinto e penso' - disse Spielberg à Reuters.

O dramaturgo vencedor de um Pulitzer Tony Kushner, que co-escreveu o roteiro de "Munique", disse que ficou espantado pela "extensão dos protestos" contra o filme - alguns grupos judaicos atacaram a obra como sendo anti-Israel.

Kushner é responsável pela fala mais citada da obra - a premié israelense Golda Meier diz em uma reunião secreta com seu gabinete que "toda civilização descobre ser necessário fazer ajustes em seus valores".

Para Kushner, a fala não é apenas sobre a decisão de Israel de caçar os assassinos de seus atletas, mas também sobre as ações americanas nas guerras no Iraque e no Afeganistão, nas quais os EUA são acusados de tortura e de assassinatos planejados.

Spielberg, que é judeu, insiste que não estava fazendo um filme sobre o Iraque, mas sobre Israel e as escolhas que o Estado enfrentou.

Para Paul Haggis, que foi indicado a um Oscar por "Crash - No limite", que também está na disputa de melhor filme, a seleção da Academia este ano indica uma mudança no gosto do público.

- Acho que ele (o público) está pronto para abraçar questões problemáticas e isso o que todos esses filmes fazem, eles colocam questões... É como se fosse os anos 1970 novamente. Não queremos esquecer todos os nossos problemas, queremos falar sobre essas coisas.

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