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Marlon Brando em cena do primeiro O Poderoso Chefão, de 1972 | Fotos: Divulgação
Marlon Brando em cena do primeiro O Poderoso Chefão, de 1972| Foto: Fotos: Divulgação
  • Talia Shire: orgulho do irmão

Por telefone, a atriz Talia Shire falou à reportagem sobre o lançamento no Brasil da caixa com a versão restaurada de O Poderoso Chefão, comandada pelo diretor Francis Ford Coppola.

São quatro discos, incluindo a trilogia completa. Imagem e som foram remasterizados e uma nova opção de áudio em português foi realizada – uma dublagem que não aquela da TV. Os extras incluem making of e um especial com produtos derivados – como as paródias feitas nas séries A Família Soprano e Os Simpsons.

Talia – ela esclarece que a pronúncia certa é "Tália" – não faz segredo da admiração que tem pelo irmão, o cineasta Coppola. "Francis é um gênio, o maior diretor do mundo, mas no início dos anos 1970 ele ainda estava em começo de carreira e havia uma grande aposta da indústria no fenômeno Chefão", diz.

Ela lembra que o best seller de Mario Puzo havia desencadeado uma ferrenha disputa por direitos. A Paramount ganhou. Coppola, após uma dura batalha, foi escolhido como diretor. "Tudo isso foi muito mais complicado do que estou reduzindo aqui, mas a grande guerra foi pelo elenco. Hoje em dia, parece impossível pensar na trilogia do Chefão sem Marlon Brando, Diane Keaton, Al Pacino, Robert Duvall. Ocorre que a Paramount não queria nenhum desses atores. Foi a obstinação de Francis que terminou por impô-los ao estúdio", lembra a atriz.

A obstinação e algo mais. É um fato que todo mundo, mesmo Marlon Brando, teve de fazer teste para conseguir o papel. Talia, que havia conhecido Puzo pessoalmente, sonhava participar do projeto como atriz. "Nem sonhar", lhe disse o irmão. Com outro nome, ela fez teste para o papel que o próprio Puzo considerava mais indicado para ela, o de Connie, a irmã de Michael Corleone.

Surra

O teste foi supervisionado por Coppola. A cena escolhida foi aquela em que Connie apanha do marido. Talia se sentiu humilhada de ter de apanhar na frente do irmão para se julgar merecedora de um papel. Mas ele acha que, por isso, fez a cena tão bem que Francis a colocou no elenco.

Seu maior orgulho é que a personagem, que poderia muito bem desaparecer no primeiro filme, cresceu com a série, tornou-se mais forte.

O primeiro filme, O Poderoso Chefão, remete a Júlio César – o assassinato político do grande homem. O terceiro bebe na fonte do Rei Lear para refletir a tragédia do homem que tudo sacrificou pela filha e é duplamente atingido, pela fragmentação do seu império e pela morte brutal da garota. O repórter comenta que o gran finale de todos os filmes é sempre uma cena de montagem paralela. Ao batismo de sangue do primeiro sucede-se o teatro de sangue do terceiro, com a ópera Cavalleria Rusticana. Por melhor que seja o primeiro, o terceiro é mais forte – uma tragédia familiar. "Agora falamos a mesma linguagem", diz Talia. "O primeiro filme é extraordinário, uma obra-prima, mas o terceiro leva meu coração."

A evolução de sua personagem, o crescimento de Connie ao longo de todos os filmes, é algo que ela agradece profundamente ao irmão. "É o sonho de todo ator ter um personagem com uma evolução tão completa para criar."

O Chefão foi e ainda é o grande marco artístico da carreira de Talia Shire, mas ela diz que a cinessérie Rocky, de Sylvester Stallone, também foi importante, e por um motivo muito simples. "Ali eu não estava mais trabalhando em família, com meu irmão."

Não que Coppola a protegesse ou salvaguardasse. Até por ser irmão, ele foi sempre exigente com o trabalho de Talia.

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