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Da esquerda para a direita: Paulo Hübner, Pedro Dellarolle, Jossiane Speck e José Magalhães | Hedeson Alves/Gazeta do Povo
Da esquerda para a direita: Paulo Hübner, Pedro Dellarolle, Jossiane Speck e José Magalhães| Foto: Hedeson Alves/Gazeta do Povo

Cerca de oitocentos metros separaram a redação da Gazeta do Povo da Capela Santa Maria. Ao decidir gastar os sapatos e tomar como via principal a Rua XV, músicas surgem aos borbotões em quase toda esquina para tentar atrair pedestres apressados. Há um Zeca Pagodinho que en­­sur­­dece clientes de uma loja de calçados. Ouve-se a banda mineira Jota Quest em uma birosca que vende artigos usados. Desconfia-se ainda que seja Kelly Key gritando na porta de uma farmácia. Não po­­deria faltar Black Eyed Peas, que destila um de seus hits em uma grande loja de departamentos – e claro, as duplas sertanejas, sucesso inexorável em redutos de produtos eletrônicos.

Depois do eclético ataque e da chegada ao destino, o silêncio de uma sala de ensaios da Capela é interrompido pelo som de um esfrega-esfrega curioso entre breu (um tipo de resina residual) e crina de cavalo. Era a violoncelista Jossiane Speck conferindo mais atrito ao arco de seu instrumento, que seria utilizado no ensaio do Quarteto Iguaçu dentro de poucos minutos. Divulgando a música erudita de câmara, enfrentando muitos obstáculos – principalmente a falta de incentivo –, o quarteto de cordas comemora 26 anos em junho.

"Por quê não se ouve música erudita por aí?", pergunta a própria Jossiane. "Porque não há contato com ela na infância. O primeiro contato das crianças é com a música comercial, essa que é ouvida nas ruas", diz a curitibana, formada tanto em Geologia quanto em piano.

Mesmo tendo a enxurrada de outros estilos como divisor de público, a formação musical é uma das mais antigas do Estado. Mas ela não começou aqui. A história é curiosa.

Para pagar a cerveja pendurada em um bar de Fortaleza, o cearense José Maria Magalhães juntou meio que às pressas quatro músicos para tentar vencer o concurso Alberto Nepomuceno, na­­quela cidade. Ganhou todos os prêmios, pagou o fiado e veio para Curitiba no ano seguinte. De mala e viola. "Lá não tinha mercado para música erudita. Aqui também não tem muito, mas ainda assim é melhor", diz ele. José, com sua viola, está à frente do grupo desde então – ambos também integram a Orquestra Sinfônica do Paraná – e já "comandou" 35 músicos nestas quase três décadas. "O Quarteto Iguaçu é uma vitrine", diz. De fato.

Entre outros, por ele já passou a violinista Priscila Vargas – que depois de vencer 42 candidatos de 18 países, toca na Suíça. "Essa rotatividade é boa. Só dois músicos saíram por problemas comigo", diz Magalhães, que se encantou pela música erudita ao ver o programa Concertos para a Juventude, exibido aos domingos pela Rede Globo entre 1965 e 1984. Os violinistas que completam a formação, hoje, são o paulista Pedro Dellarolle, 36 anos, integrante desde março desde ano. E Paulo Hübner, de 20 anos, membro há cinco meses.

O grupo ensaia no mínimo uma vez por semana. Antes de concertos importantes, são três os encontros. A convivência e a doação de cada um são pontos cruciais. "O quarteto é como um grande instrumento de 16 cordas. E ele precisa soar em uníssono", resume Dellarolle.

Diferença

O Quarteto Iguaçu já gravou três discos e talvez o que o diferencie de outras formações eruditas seja seu repertório. Magalhães prioriza a música feita aqui – "brasileiro tem de tocar música brasileira", brada –, e dá espaço a compositores modernos, como Harry Crowl (mineiro que mora em Curitiba), o pernambucano Alfredo Barros, e os cearenses Eugênio Leandro e José de Arimatéia Santos. Medalhões como Haydn, Mendelssohn, Schubert e Brahms também estão no cardápio proposto pelo músico – que ouve forró "porque é da minha terra", e Reginaldo Rossi – este, "só nas férias".

O grupo toca mais fora de Curitiba do que em sua própria cidade, estranhamente. Dois shows que marcaram a história do quarteto, aliás, aconteceram bem longe.

Um deles foi ano passado, na cidade de São João do Rio do Peixe, rincão da Paraíba. Era para ser só sexta, mas tocaram também no sábado e no domingo. "Me pediram até autógrafo", lembra o músico. "Me senti importante." O concerto foi fruto de parceria entre o Banco do Nordeste e a Prefeitura de Curitiba. O outro foi há dez anos, no sertão do Ceará. Num teatro lotado, a energia acaba. Espera-se uma hora e nada. A solução foi convidar as moças que indicavam os lugares à plateia a subir no palco e alumiar as partituras com lanternas. "Foi emocionante".

A temporada 2010 para o Quarteto Iguaçu começa no dia 19 de junho, com concerto no Paço da Liberdade. No dia seguinte, tocam em Tunas do Paraná. Dia 22, no Teatro Regina Vogue e cinco dias depois em Antonina.

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