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Conjunto de porcelanas quebradas e recoladas deu título à exposição. | Aniele Nascimento / Gazeta do Povo
Conjunto de porcelanas quebradas e recoladas deu título à exposição.| Foto: Aniele Nascimento / Gazeta do Povo

Na lenda bíblica, sapos caíam do céu como chuva – alguns até sobreviviam à queda quando atingiam o chão. Na releitura contemporânea da gaúcha Regina Silveira, na obra Amphibia, de 2014, uma tropa de anfíbios desenhados, que ocupam parede e chão, correm para um ralo dourado. Esse é um dos 30 trabalhos da artista que integram a exposição Crash, que inaugura nesta quinta-feira (12) no Museu Oscar Niemeyer (MON), às 19 horas.

Segundo Regina, que lançou o trabalho com os sapos no ano passado, a obra é uma alusão com a corrupção – o ralo dourado pode ser entendido como o dinheiro e poder que muitos almejam. Porém, não pense em uma exposição literal: a mostra com desenhos, vídeos, instalações e esculturas é um convite à reflexão.

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Crash

Museu Oscar Niemeyer (R. Marechal Hermes, 999 – Centro Cívico), (41) 3350-4400. Inauguração quinta-feira (12), às 19 horas. Entrada franca. Visitação de terça-feira a domingo, das 10h às 19 horas. R$ 6 e R$ 3 (meia-entrada). Até 28 de junho.

Os desenhos de revólveres, tanques e mísseis não refletem só o nosso momento, de violência gritante, mas resume, de acordo com a artista, a história do nosso país. Há obras dos anos 1970, por exemplo, que tem como elemento principal um tanque de guerra. Em outra, da década de 1990, um encontro de políticos ou empresários é retratado – nenhum deles têm rostos, e refletem a sombra do que realmente são: armas e outros objetos ameaçadores. “É uma balança entre o poético e o político. Falo sobre as circunstâncias de sempre, mas parece adaptado para este momento”, contou Regina em entrevista para a Gazeta do Povo, durante a montagem da mostra no MON.

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Considerada uma das artistas brasileiras pioneiras no trabalho com novas tecnologias, Regina Silveira começou seus estudos no Instituto de Artes da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, em 1959.

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Pioneira no trabalho com videoarte no Brasil, Regina Silveira começou sua formação com o conterrâneo Iberê Camargo (1914-1994), cujo centenário de nascimento foi celebrado no ano passado. Entretanto, pouco sobrou da pintora da década de 1960: em viagens pela Europa e na sua estadia em Porto Rico, entre 1969 e 1973, Regina se aproximou muito dos movimentos de arte conceitual, o que transformou seu trabalho e sua visão artística.

“Quando voltei ao Brasil, já era outra. Encontrei um novo tipo de resposta poética. Vi a arte contemporânea se fazendo, e aquilo me provocou. Mas vários trabalhos gráficos e multimídia tiveram base na gravura”, ressalta a artista, que teve como preocupação ao longo de sua carreira a educação e o ensino de artes – é docente aposentada do departamento de artes da ECA/USP, onde ensinou desde 1974. “Sempre me interessou a educação e a arte como efeito social”, diz Regina. Entre os museus do mundo onde sua obra já esteve, estão locais como o Guggenheim Museum, de Nova York.

Crash não insinua o debate de Regina, que parece casar tão bem com o momento atual, mas é o título de uma obra homônima, do final de 2014. No conjunto de porcelanas, que ocupa o centro de uma das salas, vemos louças quase comuns,, não fosse pela pintura de uma espécie de cartoon, como se fosse um tiro, e partes quebradas – todas elas foram destruídas e coladas caco por caco.

Nos dois objetos multimídia a exposição, o espectador pode vivenciar experiências sensoriais, como barulhos de tiro (tirados de videogames). “Nenhuma das minhas obras é literal. Todas elas dizem sem que eu precise contar”, crê Regina.

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