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A corrupção nos corredores do poder na capital federal é tema do novo filme de Nelson Pereira dos Santos, um dos maiores cineastas brasileiros da história, recentemente alçado ao posto de imortal da Academia Brasileira de Letras (ABL). Brasília 18% (número referente à baixa umidade do ar na cidade) estréia em Curitiba na próxima sexta-feira e apresenta como atrativo um elenco de atores conhecidos do público: Carlos Alberto Riccelli, Malu Mader, Carlos Vereza, Othon Bastos e Bruna Lombardi.

Riccelli vive Olavo Bilac – Nelson Pereira faz uma brincadeira no filme e cria personagens que têm o mesmo nome de figuras importantes da cultura –, um médico-legista contratado para analisar a ossada que seria de Eugênia Câmara (a estreante Karine Carvalho), uma jovem envolvida em um escândalo de corrupção em Brasília. Ele é pressionado a reconhecer que os ossos encontrados são da jovem, para aliviar a situação do senador Sílvio Romero (Vereza) e de sua filha, a deputada Georgesand Romero (Mader).

Em entrevista exclusiva ao Caderno G, o cineasta conta que iniciou o projeto em 1993, mas que o deixou de lado por muitos anos, só o retomando em 2003, quando voltou à capital federal para realizar um filme sobre o governo Lula, que acabou não sendo realizado. "Eu tinha apenas as impressões sobre casos antigos de corrupção. Mas, de repente, o partido que era o grande crítico e opositor dos grupos políticos que praticavam corrupção também se envolve no esquema. Então pude atualizar a história. A coisa mais importante que quero salientar com Brasília 18% é que a corrupção é genérica, seja de esquerda ou direita, não importa qual seja a ideologia, ela vem do nicho do poder", comenta, confirmando que foi mudando o roteiro da produção à medida que os escândalos iam acontecendo no governo federal. As filmagens aconteceram em agosto de 2005.

Ainda em relação ao cenário político, Nelson vê como positivo o fato de a democracia ter sido respeitada durante todo o processo de apuração dos problemas que estão acontecendo. "Na minha vida, vi dois golpes de estado acontecerem sob o pretexto de se acabar com a corrupção. Ela pode ser a porta de entrada do autoritarismo, da violência contra os direitos constitucionais, mas ainda bem que isso não aconteceu dessa vez", observa.

O diretor se diz muito feliz com a fase atual do cinema nacional. "Hoje, há muito mais gente filmando. Nos anos 60, éramos uns 15 apenas. A escola de cinema da Universidade Federal Fluminense, que ajudei a construir, forma atualmente 20 jovens cineastas por ano. É uma efervescência, as coisas estão crescendo e o pessoal tem muito o que dizer", avalia.

No início de março deste ano, Nelson Pereira dos Santos foi eleito para a cadeira número 7 da Academia Brasileira de Letras, tornando-se o primeiro cineasta a receber o título de imortal. O diretor conta que sua candidatura lhe havia sido sugerida há um ano. "A idéia é mudar um pouco a Academia, para que ela deixe de ser exclusivamente das letras, tornando-se também um ponto de encontro de todas as formas de criação artística. O cinema ganhou um lugar nesse cenário e é muito honroso para mim ser seu representante", confirma.

Os próximos projetos de Nelson Pereira no cinema são um documentário sobre Tom Jobim, que está na fase da captação de recursos, e uma ficção baseada na vida de Castro Alves, projeto ainda sendo elaborado. O cineasta não pensa em parar e quer seguir filmando, assim como cineasta português Manuel de Oliveira, ainda na ativa aos 96 anos. "Ele é meu espelho", diz Nelson.

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