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A inglesa J. K. Rowling reafirma seu talento de contadora de histórias em O Chamado do Cuco | Divulgação
A inglesa J. K. Rowling reafirma seu talento de contadora de histórias em O Chamado do Cuco| Foto: Divulgação

Policial

O Chamado do Cuco

Robert Galbraith (J. K. Rowling). Editora Rocco, 448 págs., R$ 39,50 (brochura), R$ 49,50 (capa dura) e R$ 27,50 (e-book).

Nada de magos, bruxos ou vassouras voadoras. J. K. Rowling, criadora de Harry Potter, trocou a escola de feiticeiros Hogwarts pelo decadente escritório de um detetive particular londrino, que, à primeira vista, nada tem de heroico ou mágico. E, a julgar por seu sucesso de crítica e vendas, O Chamado do Cuco, que acaba de chegar às livrarias brasileiras e já está na lista dos best sellers, é o primeiro volume do que deve se tornar outra vitoriosa série de livros assinada, ainda que com o pseudônimo de Robert Galbraith, pela escritora inglesa.

Lançado em abril passado no Reino Unido, sem que a verdadeira identidade do autor fosse revelada, o livro foi elogiado por boa parte da crítica britânica, mas não se tornou um êxito instantâneo – apenas 1,5 mil cópias haviam sido vendidas em julho, quando descobriu-se quem, de fato, era Galbraith. O autor foi apresentado, quando O Chamado do Cuco chegou às livrarias, como "um ex-integrante da Real Polícia Militar, do ramo de investigações". Depois da grande revelação, o romance entrou de imediato para as listas de livros mais vendidos, inclusive a do jornal norte-americano The New York Times.

Mistério

A trama de O Chamado do Cuco tem como ponto de partida o suposto suicídio de uma famosa top model inglesa negra, Lula Landry, em uma enregelada noite na Londres dos dias atuais. Para a construção da personagem, Rowling parece ter se inspirado na trajetória atribulada da também britânica Kate Moss, que como Lula, enfrentou problemas com dependência química e depressão. Outra semelhança com a manequim é que, na ficção, a bela modelo namorava um roqueiro envolvido com drogas – na vida real, Kate teve um relacionamento conturbado com Peter Doherty, da banda Libertines, cujo vício em heroína foi amplamente noticiado pelos tabloides ingleses.

Como todo bom romance policial que pretende inaugurar uma série, O Chamado do Cuco tem como protagonista um detetive, que na tradição de Sherlock Holmes, não é um sujeito atlético. Sua maior arma é mesmo o cérebro e a capacidade de dedução. O interessante é que, no início da história, Cormoran Strike está à beira de um abismo existencial. Depois de levar um fora da noiva, Charlotte, ele tem cada vez menos clientes e se vê forçado, por conta das dívidas que se acumulam e da separação, a dormir no próprio escritório. Outra informação importante sobre o personagem é que ele é veterano da Guerra do Afeganistão pós-11 de Setembro, da qual voltou sem uma perna.

A sorte de Strike começa a mudar quando é procurado pelo advogado John Bristow, irmão de Lula, que diz ter absoluta certeza de que a modelo não se suicidou e foi assassinada. O detetive é escolhido por Bristow, porque, quando menino, o investigador foi amigo de Charlie Bristow, seu irmão mais velho, que morreu em um acidente trágico antes de Lula ser adotada pela família.

Outro sinal de uma mudança no destino de Strike é a entrada em sua vida de Robin, uma inteligente e dedicada jovem recém-chegada da região de Yorkshire, ao norte do Reino Unido, contratada como secretária temporária, e que vai ajudá-lo a colocar sua vida em ordem, e terá papel importante na investigação da morte da modelo.

Noir

Mas se Rowling busca inspiração no célebre detetive criado por sir Arthur Conan Doyle – Robin seria, para Strike, uma espécie de versão feminina de Watson –, a escritora também foi beber em outras fontes. Há no protagonista, um sujeito à deriva, algo existencialista, em estado de abandono, assim como seu próprio escritório, traços de detetives da literatura noir americana, como Sam Spade, criado por Dashiell Hammett nos anos 30, e Philip Marlowe, na mesma época lançado pelo escritor Raymond Chandler em contos de literatura pulp.

Como os livros da série Harry Potter atestam, J. K. Rowling é uma exímia contadora de histórias, capaz de aliar uma narrativa repleta de detalhes a uma trama envolvente, que consegue capturar o leitor já nas primeiras páginas. Percebe-se nas entrelinhas de O Chamado do Cuco que um dos alvos da autora é o mundo das celebridades, regrado por valores éticos duvidosos, assim como o de uma parte da imprensa que dele se alimenta. A superficialidade cosmética desse universo imerso em glamour se contrapõe à realidade aparentemente sem qualquer charme de Strike, um personagem muito interessante que promete ter vida longa.

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