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Há sete anos, o escritor mineiro Mario Prata foi passar férias em Canajurê, paradisíaco trecho litorâneo entre as praias de Canasvieiras e Jurerê, em Florianópolis. Gostou tanto que decidiu morar ali. Vendeu o imóvel que tinha em São Paulo, para onde não pretende voltar mais. Desde aquela temporada de 2001, vive em uma casa com vista para o mar. "Comecei a entender o infinito." E aquele espaço físico começou a fertilizar, e a contaminar, o seu imaginário.

Entre uma ida ao centro da capital catarinense (a 30 quilômetros de seu recanto) para desatar nós burocráticos, confere filmes, livros e mais livros. "Nunca li tanto na vida." A dieta de leitura abriu generoso espaço para policiais. Devorou duas centenas de obras do gênero. E, num diálogo entre praias, centro urbano de Floripa e esse gênero literário que enovela suspense, amor e morte, foi concebido o recém-publicado Sete de Paus. "Sempre quis escrever um policial", revelou, em entrevista à Gazeta do Povo, o autor de mais de 20 livros, incluindo peças de teatro e roteiros.

Castração

Sete de Paus se deflagra a partir de um crime: um homem é assassinado, castrado e uma carta do baralho (um sete de paus) é "esquecida" em cima do corpo. O detetive Ugo Fioravanti Neto tem, então, de desvendar a identidade do autor das muitas castrações fatais que passam a se repetir, de Florianópolis a Cabo Verde, do outro lado do Atlântico.

Entre pistas, verdadeiras e falsas, Fiora (como o protagonista passa a ser identificado nas páginas do romance) perambula por Floripa e outros territórios brasileiros e internacionais inventados por Prata, apaixona-se, desconfia de tudo e todos (ou quase), e filosofa sobre o crime a partir da sabedoria destilada em páginas dos clássicos policiais.

"Sete de Paus é uma homenagem aos autores de romances policiais." E, de fato, Prata reproduz ao longo do livro, na voz dos personagens, trechos (na íntegra) de clássicos do gênero, como O Falcão Maltês, de Dashiell Hammett, Nêmesis, de Agatha Christie, e Um Assassino entre Nós, de Ruth Rendell (a partir da página 259, no "Posfácio Mais Que Necessário", o autor revela as origens das citações).

Bem Floripa

O silêncio sem fim de Floripa, sobretudo além-verão, tem sido revigorante para Mario Prata. "Só de vez em quando ouço uma buzina de carro. Fico assustado. Daí, olho a placa, e não tem erro: o veículo é de São Paulo. Ou de Curitiba." Para ele, o balneário é uma espécie de anti-São Paulo. "Não há pressa, nem depressão." E ele reelaborou elementos geográficos desse paraíso subjetivo no romance policial.

A sede da Polícia Federal, na Avenida Beira-Mar, é um exemplo. Outro espaço físico recriado literariamente é a praia em que ele vive. "Entre as praias de Jurerê e Canasvieiras, existe uma pequena praia, quase particular, delimitada por pedras dos dois lados. Tem gente que chama o lugar de Canajurê". E, nesse local, na realidade, o escritor costuma caminhar. Quase diariamente.

Prata admira tanto o litoral norte da capital catarinense que o compara ao paraíso. "Os problemas só existem da ponte pra lá". A ponte, no caso, é a Hercílio Luz, que liga a ilha de Florianópolis ao continente, ou "ao Brasil", de acordo com Prata, "onde há todos os problemas possíveis."

O xis da questão

"Vê se não revela quem é o assassino, hein?", insistiu Prata, durante a conversa com a reportagem da Gazeta do Povo. A recomendação do autor faz sentido (e será cumprida). Afinal, a narração surpreende, uma vez que o personagem responsável pelos crimes figura entre os supostos inocentes (a exemplo do que acontece nos clássicos policiais). De um segundo para o outro, quando tudo se revela, a "ficha cai" e o leitor pode ter a impressão de que o narrador o "enganou", por ter soltado pistas falsas a respeito de quem é, de fato, o autor das castrações.

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Serviço:

Sete de Paus. Mario Prata. Planeta. 262 págs. R$ 39,90.

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