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A propaganda de um cartão de crédito garante que há coisas que não têm preço. É uma verdade indiscutível. Cultura, por exemplo, não pode ser medida em dinheiro. Mas que é difícil ter o que você deseja na área, é. Vamos supor que, na semana passada, alguém quisesse conferir alguns dos principais eventos de Curitiba. Para ir ao concerto de Nelson Freire na quinta-feira, no Guairão, o ingresso custava R$ 50. Assistir à peça teatral O Rim, com a Carolina Ferraz, no dia seguinte, custava mais R$ 50. Nando Reis, no sábado, no Curitiba Master Hall, outros R$ 30. Imaginando que no domingo seja uma hora de descansar e só dar uma paradinha para comprar um livro no shopping – um só – seriam aí mais uns R$ 25, pensando em um título mais barato. Ou seja, R$ 155 em um fim de semana – com ou sem o tal cartão de crédito do comercial.

Em resumo, consumir cultura é caro. Mais oneroso do que a maioria dos cidadãos comuns, os não-incluídos em lista de mensalão, pode bancar. Por isso, os caminhos alternativos de acesso são cada vez mais visados e mais bem-vindos. Que o digam os estudantes universitários e seus congêneres, que na maioria dos casos têm muita vontade, e até a necessidade, de comprar livros em grande escala e que, na maioria dos casos, ainda não têm um salário compatível com esse tipo de gasto.

É ai que surge a opção do sebo, para comprar livros semi-novos – ou mesmo alguns bem detonados – , do disco baixado da internet, da cantada em alguém para liberar um convite para o teatro. O Caderno G entrevistou alguns consumidores de bens culturais que conseguem se virar sem gastar muito, para saber como é possível manter-se informado e fazer aquilo de que se gosta sem precisar pegar um empréstimo a cada mês no banco. Há desde gente que encontra um jeito de comprar pipoca antes de chegar ao cinema até quem aceite sentar-se no chão do teatro só para poder entrar de graça e assistir à peça. Não faltam, inclusive, os que chegam ao refinamento de criar e confeccionar capas de discos baixados da internet.

Vida estudantil

Estudantes são os que mais conhecem os atalhos da cultura. Um exemplo é Pablito Kucarz. Aos 23 anos, o aluno de Letras na Universidade Federal do Paraná é o típico consumista cultural. Ele gosta de cinema, mas não quer pagar R$ 14 cada vez que um filme é lançado. Prefere esperar a promoção dominical de R$ 1 na Cinemateca. Livros são uma paixão sua: mas, de preferência, os que aparecem em sua casa vêm de sebos ou de bibliotecas públicas. "Nem sempre têm o que você quer ler, mas é uma boa alternativa", afirma.

Pablito, representante da classe média, diz ainda não ter como pagar por tudo de que gosta. Nem quer que seus gostos pesem no orçamento familiar. Por isso é que apela para os truques possíveis. Um deles é tentar ir ao teatro de graça. Às vezes, conhece o pessoal da produção, já que ele mesmo vem trabalhando com teatro. Outras vezes, diz que a estratégia é bajular o pessoal do teatro até a hora em que a sessão começa. Se tiver lugar nos corredores, é lá mesmo que ele se acomoda. "Não vejo por que as coisas precisam ser caras como às vezes são. Não é nem que eu seja pobre, mas ninguém tem como pagar por todas essas coisas", conta.

Laís Tinami Nozake Yano, estudante de design de 22 anos, vive uma situação parecida. Ainda não tem emprego – só estágio. E estagiário não ganha lá essas coisas, todo mundo sabe. Se fosse seguir os seus sonhos de consumo, ela gastaria R$ 140 só em um livro de sua área, recém-lançado. Mas isso seria mais de metade do que ela ganha por mês. Como não quer ser um peso para os pais, vai fazendo o que pode com sua grana. Os sebos são a principal solução. Tanto para livros quanto para a música clássica, sua paixão. "Comprei usada uma gravação da ópera Madame Butterfly em ótimo estado, com libreto e tudo. Se fosse comprar novo, sairia uma fortuna", conta ela, para lá de contente com a aquisição.

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