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Umbanda

Curitiba afro-brasileira

Oferendas a entidades, realizadas depois das sessões no terreiro de Umbanda | Antonio Costa
Oferendas a entidades, realizadas depois das sessões no terreiro de Umbanda (Foto: Antonio Costa)

Se alguém disser que Curitiba se torna, a cada dia, uma das capitais da umbanda no Brasil, pode ser que não haja – necessariamente – exagero na afirmação. Basta conferir os dados do Conselho Mediúnico do Brasil, entidade que congrega os terreiros de candomblé e umbanda do Paraná. De acordo com levantamentos informais – realizados pela entidade –, hoje há 25 mil terreiros no estado. Em Curitiba e região metropolitana, seriam 15 mil, 7 mil deles na capital. "Excetuando os de candomblé, é possível encontrar cerca de 6 mil terreiros de umbanda em Curitiba", afirma o diretor do Conselho Mediúnico do Brasil, Jayro Pereira Jesus.

Os números – mesmo sem validação científica – impressionam. São, por exemplo, imensamente superiores aos levantados há dois anos pela pesquisadora, hoje doutoranda em História pela Universidade Federal do Paraná (UFPR), Luciana de Morais. Ela e outros sete profissionais identificaram 83 terreiros de umbanda "oficiais" em Curitiba, e visitaram 58 deles. O trabalho se desdobrou no documentário Pra Ver a Umbanda Passar, com direção e roteiro assinados pelos cineastas Luciano Coelho e Marcelo Munhoz.

Tanto o integrante do Conselho Mediúnico do Brasil como a pesquisadora da UFPR apresentam explicações similares a respeito do crescimento da umbanda na capital. Primeiro, que em qualquer casa – uma meia-água, se for o caso – pode funcionar um terreiro. Depois, a umbanda atrai os curitibanos por ser uma espécie de consultório sentimental ( emocional), em que se buscam e, muitas vezes, se encontram respostas para problemas mais do que imediatos, como coração partido e bolso vazio. E, ainda, Luciana e Pereira de Jesus ressaltam outra informação que o crescimento do número de terreiros revela: a presença de negros – e da cultura afro-brasileira – na capital.

Curitiba africana

"A imensa quantidade de terreiros em Curitiba desnuda a presença dos negros na chamada capital européia", diz Jayro Pereira de Jesus, da entidade que aglutina umbandista e praticantes de candomblé no estado. "Os terreiros revelam a contribuição do elemento negro na formação de Curitiba. Não é possível negar. Só não vê quem não quer", completa a pesquisadora Luciana de Morais, da UFPR.

A socióloga Marcilene Garcia Souza, que coordenou as pesquisas que frutificaram no documentário Pra Ver a Umbanda Passar, observa que os terreiros de umbanda denunciam uma fragilidade, para não dizer uma fratura, no tecido social curitibano. "As pessoas, com as mais variadas carências, encontram conforto, negado em outras instâncias", afirma Marcilene. Ela diz que, "se uma cidade como Curitiba não dá conta de resolver problemas de saúde e trabalho, a saída acaba sendo no terreiro". Seguindo a linha de pensamento da socióloga, é possível dizer que "quem não tem psicólogo, vai de pai-de-santo".

Jovens umbandistas

A estudante de Jornalismo Luana Bittencourt Crasa, de 23 anos, pretende apresentar como trabalho de conclusão de curso, na Unibrasil, um documentário a respeito dos jovens que freqüentam umbanda em Curitiba. Ela mesma é umbandista. "Optei pelo tema depois de constatar a presença maciça de jovens nos terreiros", conta.

Luana cresceu na umbanda. "Frequento desde meus 7 anos". Ela acredita que a umbanda atrai os jovens por ter como um de seus motores a música. "Os jovens gostam de música e as giras (sessões) de umbanda têm como ponto forte a música. Isso envolve a juventude", comenta.

A futura jornalista analisa que a religião também fascina por que "se você chega em um terreiro com uma dúvida, a entidade, geralmente, dá uma resposta. É igual ao psicólogo. Ele não responde tudo, mas insinua e faz você pensar e, logo, logo, o problema se resolve", diz. (MRS).

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