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música

Curitiba assiste a dueto “histórico” de Gil com Caetano

Caetano Veloso e Gilberto Gil voltam a dividir o palco após 21 anos; show na Ópera de Arame celebra 50 anos de amizade, parceria e diferenças

 | Paixão
(Foto: Paixão)

Gilberto Gil está encucado. Quer saber se está frio em Curitiba, se chove. Preocupa-se com a voz. Caetano não deu entrevista. O palpiteiro chegado numa polêmica escrevia o que pensava numa coluna no jornal “O Globo”. Ela acabou. Hoje Caê fala pouco. Com jornalistas então, é caso raro. Gil bate os pés no chão e carrega os terreiros do país inteiro no violão. O outro tem a cabeça nas nuvens e usa o instrumento para falar, com certa melancolia, de utopias mundanas.

Os baianos se apresentam lado a lado em Curitiba na noite desta quarta-feira (26), na Ópera de Arame. O show comemora a amizade e a parceria musical que começou há 50 anos, quando o produtor Roberto Santana apresentou um ao outro na Rua Chile, em Salvador. “É meu colega mais próximo, meu amigo mais direto”, diz Gil.

A turnê teve início há dois meses, passou por 18 cidades da Europa e estreou no Brasil em São Paulo. O baiano de 73 anos viu “as velhas gerações, já com seus filhos e netos no colo” e diz que foi a “celebração de um evento histórico”.

Para hoje à noite, estão previstas 25 canções “voz e violão”. São composições de ambos. Um panorama da música brasileira e um recorte crítico do país. Pois falam de origens (“Eu Vim da Bahia” – Gil, 1975), “Migração” (“Sampa” – Caetano, 1978), exílio (“Terra”, Caetano – 1978), crença (“Filhos de Gandhi” – Gil, 1973) e futuro (“Expresso 2222” – Gil, 1972). A inédita “Camélias do Quilombo do Leblon”também está no repertório.

“A ideia é compartilhar: canto as canções dele, ele canta as minhas”, explica o pai de oito filhos (entre elas Preta e Bela Gil).

No rumo da música, os dois seguiram caminhos diferentes– e talvez este seja o ponto mais interessante a se observar no palco. Gilberto Gil parece regressar para se entender. No último disco, revela apreciação pelo violão de João Gilberto e inclui homenagens a Dorival Caymmi. Caetano, há algum tempo, avança para se reescrever: lançou três álbuns em parceria com a Banda Cê, roqueira de tudo.

“Ele tem interesse nas coisas contemporâneas. Eu, volto a atenção para o violão. Não quer dizer que ele seja vanguardista e eu, saudosista. São complementos”, explica Gil.

Os dois levaram broncas virtuais quando tocaram em Israel em julho. Seria um “apoio à ocupação da Palestina.” Houve uma petição pública para o cancelamento do show e até Roger Waters (Pink Floyd) entrou na onda. “Achamos que era melhor ir do que não ir”, diz Gil. “Nós nos opomos à virulência da política oficial de Israel. Com o show, resolvemos dialogar.”

É a música como mediadora, enfim. Dos arretados que se reencontram ou de povos que peleiam eternamente.

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