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O ator José de Abreu | Divulgação
O ator José de Abreu| Foto: Divulgação

Serviço

"Fala, Zé!". Sexta (29) e sábado (30), às 21h. Domingo, às 19h. Teatro Fernanda Montenegro (Shopping Novo Batel). Entrada: R$ 30 (inteira) e R$ 15 (meia) na sexta-feira e no domingo; R$ 40 (inteira) e R$ 20 (meia) no sábado. Informações: (41) 3224-4986.

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O ator global José de Abreu volta a Curitiba nesta sexta (29), sábado (30) e domingo (31) para apresentar no Teatro Fernanda Montenegro a peça "Fala, Zé!". No espetáculo de comédia, entra em cena a política brasileira desde a didatura até o escândalo do mensalão de 2005, momentos vividos pessoalmente pelo ator ao longo de sua vida. "Faço uma crítica voltada para o comportamento político, além de algumas ‘cacetadinhas’ no ACM e no José Dirceu", contou.

A peça, que a princípio iria ser apenas sobre os vários "Zés" da política brasileira, ganhou um ponta pé inicial a partir do escândalo do mensalão. "Foi para esse lado por conta da situação que estávamos vivendo naquele momento", contou Abreu. O enredo se solidificou a partir das próprias experiências. "Tive a sorte de ter vivido dois momentos da história do Brasil e do mundo que foram muito importante na minha formação como ser humano de lutar pela igualdade e pela diminuição das diferenças sociais", completou Abreu, em relação à luta da juventude contra a didatura e ao exílio que o forçou a morar na Europa.

Um dos momentos de sua vida que também é retratado na peça foi quando a ditadura calou a voz da população, o que fez com que "muitos da geração se voltassem para o misticismo". Abreu contou do paralelo entre os jovens da época e os de hoje. "Fui para Londres e lá era a capital alternativa do mundo por causa dos Beatles, do orientalismo, yoga, macrobiótica, vegetarianismo, e, claro, o LSD, que não era o que se toma hoje para ficar dançando a noite inteira", disse. Segundo ele, a droga "te levava para um outro nível de conhecimento humano". "A minha geração é a do Chico Buarque, do Caetano Veloso, do Gilberto Gil, do Geraldo Vandré, do Tom Jobim. É outro tipo de coisa", explicou.

Inclusive mesmo momentos menos descontraídos são retratados com bom humor e tom de piada. "Até o momento que a gente fala do congresso da UNE em Ibiúna em 1968, quando fomos para o Carandiru. Uma das cenas mais engraçadas é a nossa convivência lá", contou. "Até a tortura é contada brincando", completou.

Abreu contou que a recepção da platéia, tanto da geração que viveu estas experiências quanto dos jovens, é positiva. "Tem dois tipos de reação. Uma é ‘puxa, eu vivi tudo isso e não sabia’, pois tinha muita censura. O outro é o que recorda rindo". Quanto aos jovens, ele disse que sentem "saudades de um tempo que não viveram". Para ele, a universidade era atuante, e mesmo o uso do LSD era "outro tipo de viagem".

Zés: Dirceu e Abreu

Um dos personagens mais atuantes no espetáculo é o político José Dirceu, que teve o seu mandato cassado em 2005 por quebra de decoro parlamentar após o escândalo do mensalão. Abreu contou que seu personagem na peça sempre confunde Dirceu com o rei da França Luís XIV. "Ele era o rei mais absolutista que já existiu, ele falou ‘o estado sou eu’. Em um determinado momento da vida do Zé ele pode ter pensado até isso. Ele era a pessoa que mandava no Brasil, mandava mais que o Lula", explicou.

Seu posicionamento a respeito do assunto, segundo Abreu, vai de uma ótica diferente da vista pelos cidadãos brasileiros. "Eu fui para Brasília defender, ele é meu amigo. Não quero entrar no mérito se houve mensalão, se houve ou não compra de deputados. É um amigo de 40 anos que estava sendo preparado para ser presidente da República desde 1966. De repente, de um dia para outro, ele perdeu tudo", contou.

Abreu comentou ainda a polêmica na qual se envolveu no segundo turno da última eleição presidencial durante uma reunião com Lula na casa de Gilberto Gil. "Eu estava tão envolvido com a peça que eu falei: ‘na qualidade de Zé, quero fazer um brinde aos Zés que tombaram no primeiro mandato, Zé Mentor, Zé Dirceu e Zé Genuíno’", contou. "Eu falei brincando com o Lula, e a imprensa colocou o outro lado, como se eu tivesse erguido um brinde para elogiar eles, mas não foi", explicou Abreu. Sobre o governo de Lula, ele acrescentou que "está adorando". "Estou achando que o cara é iluminado mesmo", completou.

Ficção e realidade se misturam no palco

O projeto que sobe ao palco, apesar de se tratar de uma "autobiografia não-autorizada", como contou Abreu, não foi montado apenas com base nos relatos. "Tinham coisas que vinham na lembrança e coisas que a gente inventava", explicou. "Tem esses dois lados, um lado mentira e um lado verdade, mas ninguém sabe qual é. Normalmente, o público erra", contou Abreu aos risos. Um exemplo é a amizade que o ator mantém com o político José Dirceu. "Ninguém acredita que isso tenha sido verdade", disse ele.

O espetáculo é dirigido por Luiz Arthur Nunes e escrito por Angel Palomero e Walter Daguerre. Os três, ao lado de Abreu, trabalharam durante seis meses de segunda a sábado para finalizar a montagem do espetáculo. "Foi muito exaustivo", confessou.

Elenco de "Pantanal" contra o SBT

José de Abreu faz parte do elenco da novela "Pantanal", que foi exibida originalmente pela Rede Manchete em 1990 e está sendo reprisada no SBT. O elenco está em negociação com a emissora para garantir o pagamento dos direitos de imagem. "Hoje em dia na Globo, quando passa a reprise de uma novela, você ganha 10% do que você ganhou na época. Era o que a gente estava pleiteando no SBT, mas isso, de jeito nenhum". Segundo ele, Silvio Santos deu uma ordem para recalcular o valor e está "melhorando bastante".

Confira abaixo a entrevista na íntegra:

A peça "Fala Zé!" trabalha uma crítica à política por meio do humor. Como foi surgiu a idéia do projeto?

No ano em que a peça estreou, que foi em 2006 no Festival de Teatro de Curitiba, a imprensa falou que "a política entra em cena". Tinham várias peças naquele ano que falavam sobre política, uma coisa que o teatro não faz há algum tempo. Nos anos 60, o teatro era muito politizado, e isso foi perdendo força depois da ditadura. Realmente eu faço uma crítica política que é mais voltada para o comportamento político quase generalizado de não dar muita "bola" para o que o povo quer, coisas de prometer não cumprir. E tem algumas "cacetadinhas" no ACM, no José Dirceu (risos).

Alguma coisa no roteiro mudou desde que a peça estreou?

A gente diminui um pouco. Quando entrou em Curitiba a peça estava com quase três horas. Por ser em um festival e em uma cidade que está acostumada a ver teatro, mantemos a peça com essa duração. A cidade tem uma tradição, e todo mundo que montava peças longas em São Paulo até um tempo atrás ia fazer Guairão ou Guairinha, no mínimo. A gente resolveu fazer um teste, mas logo que saímos para Porto Alegre, que foi a segunda cidade, a gente diminuiu. A peça agora está com 1h45 de duração.

Você já teve várias experiências relacionadas à política brasileira, como o movimento estudantil dos anos 60. A idéia partiu de sua própria vivência?

A primeira idéia era fazer uma peça sobre os vários "Zés" que tiveram na história do Brasil, desde o José Bonifácio, tem um monte de "Zés" que conhecemos com outro nome como Zé Roberto, Zé Antônio. Começamos a pesquisar isso, e aí aconteceu o escândalo do mensalão. Um dos autores da peça é gaúcho e foi fundador do PT no Rio Grande do Sul. O outro era carioca, e então juntava o outro diretor que também é gaúcho, mas é "apolítico" e não dá "bola" para a política, e tinha eu, que era amigo de faculdade do José Dirceu. A coisa foi para esse lado muito por conta da situação que estávamos vivendo naquele momento. Tem um negócio que sempre me vinha na cabeça que tinha sido a sorte que eu tive de ter vivido dois momentos da história do Brasil e do mundo que foi a luta da juventude contra a ditadura, que foi uma coisa muito importante na minha formação como ser humano de lutar pela igualdade social e pela diminuição das diferenças sociais. Esse era mais ou menos o nosso foco na época. Depois, quando a ditadura ficou muito pesada e a gente não podia fazer mais nada, muitos da minha geração se voltaram para o misticismo. Quando eu me exilei, eu fui para Londres e lá era a capital alternativa do mundo por causa dos Beatles e toda aquela coisa de orientalismo, yoga, macrobiótica, vegetarianismo e, claro, o LSD, que não é o que se toma hoje para ficar dançando a noite inteira. O LSD era uma droga extremamente forte e era impossível você sair para rua. Você tinha que tomar numa fazenda, numa praia, numa casa e com alguém que não tomasse. Isso te levava para um outro nível de conhecimento humano. Era fabricado numa Universidade americana, em Berkeley na Califórnia.

Você viveu tudo isso?

Sim, eu vivi todo esse processo. De Londres eu fui para Amsterdã que estava mais desenvolvida ainda nessa questão do oriental e da busca de uma nova maneira de ver o mundo. Principalmente a yoga e o macrobiótico que foi o mais forte na época.

Você era adepto de tudo isso?

Eu era super adepto. Tanto que em Amsterdã eu e minha namorada na época compramos uma Kombi para ir à Índia em busca do nirvana da libertação espiritual. Paramos na Grécia, que era caminho para a Índia, e ficamos seis meses lá. Nós moramos numa ilha, eu arrumei um emprego. Ao invés de ir para a Índia, deu saudades do Brasil e a gente voltou.

Como tudo isso aparece na peça?

Todas essas coisas eu conto na peça, mas sempre na base da piada. Até o momento que a gente fala do congresso da UNE em Ibiúna em 1968, quando fomos para o Carandiru. Uma das cenas mais engraçadas é a nossa convivência no Carandiru.

A improvisação que gerou o roteiro foi baseada quase totalmente nas suas próprias lembranças?

É uma autobiografia não-autorizada.

Esse trecho que você citou do Carandiru é um dos seus favoritos da peça?

Sim, e eu queria dar como exemplo que até a tortura é contada brincando. Uma das cenas engraçadas é aquela turma de 40 a 60 estudantes numa cela pequena e o que acontecia lá dentro. Tinha um companheiro mineiro que roncava feito um louco e a gente tinha que obrigar ele a só dormir de dia. Tinha um sergipano que era gago e ficava muito nervoso quando vinha o carcereiro buscar alguém para ser interrogado. Ele não conseguia falar e todo mundo gozava ele. Até essas partes mais triste da nossa história e da minha vida eu conto com comédia.

Como que a platéia reage a este tipo de tema?

Muito bem. Tem dois tipos de reação dos mais velhos. Uma é "puxa, eu vivi isso tudo e não sabia". Tinha muita censura e não tinha como a pessoa saber. O outro é o que viveu e recorda rindo. Agora, o que muitos jovens falam é "que saudade de um tempo que eu não vivi". A universidade era mais atuante, e mesmo essa parte do LSD que você pode falar de droga mas era um outro tipo de viagem. Não era uma coisa de tomar um ecstasy e ficar pulando a noite inteira. A minha geração é a geração do Chico Buarque, do Caetano Veloso, do Gilberto Gil, do Geraldo Vandré, do Tom Jobim. É outro tipo de coisa, cinema novo, o teatro que era uma coisa muito forte na época. O teatro era muito político.

Você sente falta vendo hoje essa falta de atuação dos jovens na política e do teatro atuante?

Eu acho que os 20 anos de ditadura deram um vazio muito grande. Eu acho que o teatro até hoje não recuperou. Eu acho que a música recuperou por conta do rock, da MPB, do rock Brasil. Paralamas, Cazuza, Renato Russo, esse pessoal é um pessoal que tem uma visão política, uma visão política diferente da nossa. A música conseguiu recuperar uma coisa de divertir e ao mesmo tempo fazer refletir. Agora o cinema e o teatro ainda não recuperaram o que tinham.

A intenção da peça foi tentar resgatar essa característica?

Não era para ser um objetivo, mas é o que está acontecendo. É difícil pensar em um objetivo exclusivo quando você monta uma peça, você não tem muita idéia do que vai dar, especialmente quando você começa do zero. Nós demoramos seis meses para montar entre ensaio, criação, entrevista comigo, improvisação. Tinham dois autores que assistiam às improvisações e escreviam, escreviam, escreviam. E eu e o diretor a gente improvisava, pegava o que eles escreviam, mexia. Tinham coisas que vinham na lembrança e tinham coisas que a gente inventava. Tem esses dois lados, um lado mentira e um lado verdade, mas ninguém sabe o que é verdade e o que é mentira. Normalmente o público erra (risos).

O que é verdade e as pessoas acham que é mentira?

Por exemplo, a minha amizade com o José Dirceu. Ninguém acredita que isso tenha sido verdade.

A prioridade é tratar a política na época da ditadura ou a peça chega a temas mais recentes?

Sim, a gente vive fazendo relações com o presente. A peça é bem dividida em duas partes. Uma é a luta estudantil contra o Exército, a Aeronáutica e a Marinha, que a gente jurava que ia ganhar a guerra. Aquela ilusão do estudante com boas intenções de considerar a militância política como uma missão, quase que uma coisa religiosa. Dedicar a vida a diminuir a violência, acabar com a pobreza. No meu caso eu tinha uma identidade ligada a Igreja, que tinha essa coisa daquele Cristo mais justo, e não dessa Igreja milionária que usa ouro, que tem o Vaticano. Como era o Frei Betto, esse pessoal dos dominicanos. A outra parte é essa busca do misticismo.

Muitas dessas experiências, como você mesmo disse, não são apenas boas, mas há também muitos momentos difíceis. Você não vê problema em passar isso para o público?

Não, eu acho que é até uma obrigação minha. Eu tive a sorte e o privilégio de ter vivido isso. E depois eu adoro fazer comédia, adoro fazer piada, adoro brincar com o público. Não é um monólogo porque é o Zé falando na primeira pessoa. Eu falo "gente, você está rindo de quê? Não é assim não, é difícil". É mais um show de comédia do que uma peça de teatro. É um gênero que não tem muita comparação porque não é um show de humor porque eu me troco várias vezes. Mas eu represento eu mesmo, eu falo na primeira pessoa. Meu nome é José Pereira de Abreu Júnior. Eu vou fazendo as várias pessoas que eu encontrei na vida. Tem três telões nos quais a gente passa alguns momentos dos quais eu estou falando. Isso ajuda muito a contar. Três personagens são gravados e aparecem no telão, além de recortes de jornais, o congresso da UNE.

Funciona também como cenário?

Funciona como uma ilustração daquilo que eu estou contando. Entram muitas fotos. Eu fiz uma grande pesquisa no Estadão, e eles me autorizaram a usar as fotos. Então tem imagens da gente sendo preso, e quando eu falo do movimento estudantil entra foto de passeata, de ocupação de faculdade, de comício. Quando eu falo de corrupção no Brasil entra o Severino, o juiz de futebol que foi preso, a história do mensalão.

Entram fatos que aconteceram tanto no passado quanto casos mais recentes?

Sim, a gente resolveu parar a peça em 2006, ela não foi até 2008 porque 2006 foi o ano que o PT perdeu a virgindade.

Que tipo de personagens você faz na peça?

São três que aparecem no telão com os quais eu contraceno, e em cena eu faço mais 20 personagens. Alguns exemplos são o Caetano, Gil, Roberto, Vandré, Chico Buarque, Zé Dirceu, Zé Mentor, e muitos outras pessoas que não são conhecidas como um hippie austríaco.

São pessoas que passaram pela sua vida?

Sim, pessoas que eu convivi, que eu encontrei.

A peça é dirigida por Luiz Arthur Nunes, que já trabalhou com você em vários projetos nos últimos 30 anos. É mais fácil trabalhar com alguém com quem você já tem tanta experiência e intimidade?

Sim, e eu acho que para os dois lados. Ele sabe até onde eu posso ir e eu sei o que ele quer.

Todo o processo criativo foi feito em conjunto com você, o Luiz Arthur Nunes, e os roteiristas Angel Palomero e Walter Daguerre?

Sim, os quatro juntos o tempo todo durante seis meses, de segunda a sábado, seis horas por dia. Foi muito exaustivo. A pessoa ri às vezes de uma situação simples, mas por trás do simples tem uma coisa muito complicada e estruturada. Por exemplo, o meu personagem, o Zé, confunde sempre o José Dirceu com o Luís XIV. Ele foi o Rei mais absolutista que já existiu, ele falou "o estado sou eu". E eu faço uma relação com o Zé em um determinado momento da vida do Zé que ele pode ter pensado até isso. Ele era a pessoa que mandava no Brasil, mandava mais que o Lula. De um dia para o outro ele perdeu todo o poder. É uma coisa que eu fui para Brasília defender, ele é meu amigo. Não quero entrar no mérito se houve ou não houve mensalão, se houve ou não houve compra de deputados. O Zé nunca teve nenhum processo de malversação do dinheiro público, de ter roubado para ele. Nunca teve nada disso contra ele. É um amigo de 40 anos que estava passando por uma situação. O cara estava sendo preparado para ser presidente da República desde 1966. De repente, de um dia para outro ele perdeu tudo.

Ele é um personagem presente na sua vida e na peça?

Eu brinco muito com ele na peça. Às vezes tiro sarro dele, mas obviamente sem nunca chegar em uma coisa ofensiva, não é esse o objetivo.

Em um ano eleitoral, que crítica faz o cidadão José de Abreu?

Eu não tenho feito campanha política há muito tempo. Na primeira eleição do Fernando Henrique eu estava achando que ele era melhor que o Lula. Na segunda, eu preferia o Lula, e o Fernando Henrique ganhou. Nas duas últimas eleições eu preferia o Lula, mas eu não me envolvi diretamente em campanha. No segundo turno da última eleição eu fui em uma reunião na casa do Gilberto Gil com o Lula que a imprensa criou um caso porque foi no mesmo dia que o Paulo Betti disse que para fazer política tinha que colocar a mão na merda. Eu estava tão envolvido com a peça que eu falei: "na qualidade de Zé, quero fazer um brinde aos Zés que tombaram no primeiro mandato, Zé Mentor, Zé Dirceu e Zé Genuíno. Mas eu falei brincando com o Lula, estava um clima super legal. A jornalista da Folha Mônica Bergamo estava lá e ela disse: "Zé, você é louco. Você foi falar de corda na casa de enforcado". E a imprensa colocou o outro lado, como se eu tivesse erguido um brinde para elogiar eles, mas não foi. Foi uma brincadeira mesmo. Aí eu virei o petista fundador do PT, e eu nunca fui petista. Se há cinco anos atrás você perguntasse qual partido que eu prefiro era o PSDB. Nunca fui petista, nunca fui nada. Nunca fui ligado a nenhum partido político. Mas eu estou adorando o governo do Lula, estou achando que o cara é iluminado mesmo.

Você já trabalhou em mais de 25 novelas, além de outros inúmeros filmes. Você prefere os palcos, a televisão ou o cinema?

Não tenho preferência, cada um tem a sua linguagem. De qualquer maneira, os três veículos fazem a gente sair da nossa própria individualidade e entrar em uma outra que é a do personagem. No momento que você assume um outro personagem, mesmo no teatro que eu estou fazendo o José de Abreu, aquele José de Abreu não é exatamente eu. É muito parecido comigo, mas não sou eu. Para você ter uma idéia, eu tenho memória de elefante. A característica fundamental do Zé da peça é a falta de memória. Ele esquece ditado, ele não consegue acertar um ditado na peça. Ele se perde no meio da caminho, e ele divide isso com o público, como que um ator pode ser esquecido. Isso faz rir muito, mas eu não sou esquecido. Eu decoro texto na televisão na hora. Mas essa coisa de você sair de você mesmo e fazer outro ser humano que seja ficcional ou não, você vive o aqui e agora. Você sai do seu mundinho e entra em outro ficcional no qual você tem que ter a concentração absoluta, todos os problemas da vida desaparecem naquele momento, e eu estou representando e estou saindo da minha vida para entrar em outra que eu sei que vai ter um fim. Aquele sofrimento ou aquela alegria vai acabar quando acabar a peça, ou o capítulo ou o filme.

O seu mais recente trabalho no cinema foi no filme "O Menino da Porteira", que é protagonizado por Daniel. Você tem outros projetos encaminhados?

Eu estou com cinco ou seis filmes para serem lançados. Tem o "JK" no qual eu faço o Juscelino, "O Menino da Porteira", tem um que se chama "Dias e Noites", que passou em Gramado; "Vingança, que também passou em Gramado; e "Topografia de um Desnudo", que será lançado em setembro, com Ney Latorraca, Lima Duarte,

São muitos projetos em pouco tempo.

Sim, no ano passado e esse ano eu fiz muitos filmes graças a Deus. E ontem ficou pronto o "JK" e vai ser lançado esse ano.

Quais são os próximos trabalhos?

Eu vou fazer a nova novela das oito com a Glória Perez, vou fazer um mestre, sacerdote brâmane. Vou rapar a cabeça, deixar aquele rabinho. Vou sair de Curitiba direto para a Índia. Vou ficar 15 dias lá pesquisando, tentando entender um pouco esse povo. Depois eu não sei, vai depender do tamanho do papel. Não sei se eu vou poder continuar viajando com a peça ou não.

Por enquanto, a última apresentação da peça é no domingo em Curitiba?

Sim, simbólico né?. A estréia foi aí. Tem alguns convites para viajar, mas essa temporada termina em Curitiba que foi onde eu comecei há dois anos e meio.

Você está no elenco de Pantanal, novela que está sendo re-exibida pelo SBT. É verdade que você ameaçou processar a emissora?

Nós estamos negociando sem processo. O Silvio Santos deu uma recuada não só para mim mas para todo o elenco. Ele deu uma ordem para o SBT recalcular tudo porque todo mundo estava reclamando. Hoje em dia na Globo quando passa a reprise de uma novela você ganha mais ou menos um salário de hoje. Eles pagam 10% do que você ganhou na época. Como uma novela normalmente demora dez meses, dá mais ou menos um salário. Era o que a gente estava pleiteando no SBT, mas isso, de jeito nenhum. Eles estão fazendo um recálculo, vamos ver o que vai dar. Mas está melhorando bastante, eles já estão dando o dobro do que queriam dar. A maioria dos atores está aceitando e eu acho que vou aceitar também.

A questão é financeira então?

No começo era uma questão de como eles compraram isso. Mas ninguém se interessou em investigar a história então ficou assim.

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