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Os atores Larissa Martins e Alisson Diniz encenam o conto “Cafezinho com Sonho” | Cesar Machado/Gazeta do Povo
Os atores Larissa Martins e Alisson Diniz encenam o conto “Cafezinho com Sonho”| Foto: Cesar Machado/Gazeta do Povo

Opinião

Espetáculo pesa o erotismo em vocabulário

Rodolfo Stancki

Quem vai conferir Receita de Curitibana, em cartaz no Teatro Lala Schneider, na expectativa de ver um espetáculo erótico pode se frustrar. Embora seja contraindicada para menores de 18 anos, a peça baseia sua classificação alta apenas nos diálogos e nas insinuações. Algo encontrado em parte da própria literatura de Dalton Trevisan.

A montagem é dividida em 15 adaptações de contos do autor. Em cena, eles são intercalados pelos versos do poema "Cantares de Sulamita". As histórias apresentam os personagens populares típicos do universo do escritor curitibano, povoado por ninfetas dissimuladas, professores tarados e mulheres adúlteras.

O cenário tem um sofá esburacado, uma mesa de bar e uma cama improvisada. Em muitos aspectos, a peça se aproxima de uma pornochanchada, velho gênero do cinema brasileiro. Estão lá o humor, a insinuação sexual e a falta de recursos. Não há nudez, mas isso não descaracteriza a produção como entretenimento para adultos.

Espetáculo

Receita de Curitibana

Teatro Lala Schneider (R. Treze de Maio, 629), (41) 3232-4499. Direção de João Luiz Fiani. Elenco: Marino Jr., Ingrid Bozza, Alisson Diniz, Mayara Bonde, Luiz Henrique Fernandes e Larissa Martins. De sexta a domingo, às 21 horas. R$ 30 e R$ 15 (meia-entrada). Até 31 de agosto. Classificação indicativa: 18 anos.

  • Em

Do seu escritório no Teatro Lala Schneider, o diretor João Luiz Fiani, 50 anos, conta os louros ao afirmar que é o único dramaturgo do Brasil com autorização para levar aos palcos adaptações de Dalton Trevisan. "Ele [o escritor curitibano] confia no meu trabalho. Mas também não posso mudar uma linha de cada conto", revela.

No canto de sua escrivaninha, há uma pilha com uma dezena de livros do autor. As obras serviram de inspiração para o espetáculo Receita de Curitibana, que estreou no espaço na última sexta-feira, 11. Para a montagem, da companhia Máscaras de Teatro, o artista selecionou 16 histórias eróticas de diferentes coletâneas.

"A ideia era encontrar contos que mostrassem que mesmo quando o Dalton tentar ser pornográfico há muita elegância", explica Fiani. Para selecionar as narrativas, ele garante que leu praticamente tudo o que foi publicado do autor com o elenco. Posteriormente, as escolhas foram submetidas a uma discussão com o próprio escritor, que deu o aval para a peça.

Proximidade

Fiani mantém uma relação profissional com o poeta paranaense desde 1989, quando participou como ator do espetáculo Mistérios de Curitiba, dirigido por Adhemar Guerra. Em 1992, integrou o elenco de O Vampiro e a Polaquinha.

De lá para cá, os dois tomam cafés e discutem parcerias, que renderam as peças O Vampiro contra Curitiba (2006), Macho Não Ganha Flor (2008) e Virgem Louca, Loucos Beijos (2009). "O segredo é não mudar nada do texto, apenas transformá-lo em teatro", diz o diretor.

Do imaginário folclórico de Trevisan, avesso às aparições na mídia há décadas, o dramaturgo comenta pouco. Apenas afirma que o escritor não quis ver a apresentação feita exclusivamente para esta reportagem porque haveria um fotógrafo presente na plateia.

Para o elenco, o contato com o escritor foi distante, mas suficiente para tirar o misticismo que o envolve. "Há esse mistério em torno dele, que só existe por não o vermos dando entrevistas. Isso é algo que precisa ser desconstruído", comenta o ator Marino Jr., que protagoniza alguns quadros de Receita de Curitibana.

Adaptação

Além de Receita de Curitibana, o diretor João Luiz Fiani montou três outras peças baseadas em contos de Dalton Trevisan:

O Vampiro contra Curitiba (2006)

O primeiro espetáculo adaptado da obra do Vampiro de Curitiba por Fiani tentava fazer um apanhado do legado do autor, discutindo especialmente as críticas que o escritor apresenta sobre a capital paranaense.

Macho Não Ganha Flor (2008)

O monólogo do ator Marino Jr. apresentava personagens mais sórdidos do universo de Dalton Trevisan. Em cena, o ator encarna traficantes, prostitutas e velhos. A peça ainda está em cartaz no Lala Schneider.

Virgem Louca, Loucos Beijos (2009)

O diretor descreve essa montagem como uma ópera rock, pois se apropriou de contos mais apocalípticos do escritor e transformou alguns deles em músicas. O elenco tinha Claudinho Castro e Joel Vieira.

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