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Dan se apaixona pela cunhada, com quem passa por momentos constrangedores, em Eu, Meu Irmão e Nossa Namorada | Divulgação
Dan se apaixona pela cunhada, com quem passa por momentos constrangedores, em Eu, Meu Irmão e Nossa Namorada| Foto: Divulgação

Eu, Meu Irmão e Nossa Namorada é entretenimento de sabor agridoce, que agora chega às locadoras integrando a tradição hollywoodiana de filmes feel good, aqueles cujo tom predominantemente melancólico do percurso, entrecortado por momentos cômicos, desemboca em uma sensação agradável ao final. Juno e Pequena Miss Sunshine são bons exemplos recentes.

O filme do roteirista e diretor Peter Hedges não se equipara a esses dois campeões de popularidade, mas está no caminho. Falta-lhe, com certeza, alguma inventividade. O roteiro se serve de clichês: o amor proibido, a conturbada reunião de família, o pai solteiro com dificuldade de entender que as filhas cresceram e sexo não permanecerá um assunto desconhecido para elas.

Nada disso é novidade, mas o que faz a diferença é o jeito como essa velha história é contada. E tendo Steve Carell (O Virgem de 40 Anos) encontrado um balanceamento interessante entre as nuances de tristeza e humor de seu personagem, o recluso viúvo Dan Burns, as perspectivas melhoram bastante. A boa química com a francesa Juliette Binoche também ajuda.

Contada a partir do ponto de vista de Dan, escritor que assina uma coluna de autoajuda sobre o relacionamento entre pais e filhos em um jornal da sua cidade, a trama começa a ser tecida quando Marie, a personagem de Binoche, desperta a atenção do viúvo em uma livraria. Ela o confunde com um vendedor e ele não se importa. Aproveita para passar mais tempo ao lado da desconhecida, e a simpatia mútua os leva a um café, onde a conversa flui com leveza e alguma profundidade, raramente combinadas em um primeiro encontro.

O que enrosca os fios dessa trama é a frustrante descoberta de que Marie se encaminha ao mesmo destino que Dan, um almoço de família. A dele. Durante o qual ela será apresentada como a nova namorada do irmão caçula, Mitch (Dane Cook), cujos atributos físicos saltam aos olhos – embora os intelectuais e emocionais percam na comparação com o irmão mais velho.

Família grande, reunida, relativamente harmoniosa. Pronta a se enfrentar em jogos de tabuleiro e a exaltar a escolha de Mitch, que finalmente mantém um relacionamento sério com uma garota que merece a aprovação de todos.

Colapso familiar

É o inferno de Dan, incapaz de compartilhar o entusiasmo pela felicidade do irmão e pressionado a dar um fim à solidão deixada pela morte da esposa, arrumando uma nova namorada também. E o pior, consciente de que, para estar ao lado da mulher que deseja, causaria um colapso familiar.

Ao mesmo tempo que tenta se controlar para não arruinar o seu bom relacionamento com o irmão, Dan ainda precisa rever sua conduta em relação às três filhas, que soa bem em suas colunas periódicas, mas, na prática está causando atitudes rebeldes, ou simplesmente mágoa, nas garotas.

A artimanha mais acertada do roteiro é fazer o espectador de cúmplice do casal impossibilitado de viver seu romance. Não que Marie deixe claro sua preferência por Dan. A personagem não se revela completamente. A cena inicial, no café, em que Dan conta toda sua vida à moça, mas sai de lá sem saber o básico sobre ela, antecipa o que se repetirá durante o filme. Marie parece gradualmente diminuir sua paixão por Mitch e aumentar seu interesse por Dan – outro ponto positivo do filme, ao não apostar todas as suas fichas no clichê supremo do amor à primeira vista.

Forçados a conviver na mesma casa, os dois protagonizam diálogos que os familiares ao redor ouvem, mas não compreendem – quem assiste, obviamente, sim. E não conseguem evitar momentos constrangedores, como quando ela é obrigada a tomar banho no mesmo box onde ele está escondido, fingindo normalidade.

Boa dose do charme do filme deve ser atribuída à deliciosa trilha sonora criada pelo cantor-compositor norueguês Sondre Lerche. O autor aparece na tela enquanto os créditos sobem, tocando a ótima "Modern Nature" ao lado da cantora Lilian Samdal, em uma participação durante uma festa (adivinhe de quê). "Hell No", o divertido flerte em dueto com a cantora russo-americana Regina Spektor, ouvido durante poucos segundos no filme, em uma cena-chave, merece rodar no replay.

Antes do fim, não custa avisar: desconsidere a tradução em português, que remete a comédias românticas tolas. Esta história de amor funciona. Ao menos para os que ainda não se tornaram céticos. GGG1/2

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