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David Lynch gostaria que seu primeiro filme em cinco anos seja um "blockbuster de verão" que faça sucesso junto a "garotas de 14 anos do meio-oeste americano". Mas ele sabe que a realidade será diferente para seu épico febril e onírico "Inland Empire", que fez sua estréia norte-americana no Festival de Cinema de Nova York neste domingo.

O filme de três horas, cuja estréia mundial aconteceu em Veneza, dividiu a crítica em função de suas cenas freqüentemente incompreensíveis. O crítico Ray Bennett, do Hollywood Reporter, o descreveu como "uma chatice interminável".

"Inland Empire" ainda não encontrou distribuidor, mas Lynch espera anunciar planos nesse sentido no início da próxima semana.

"Empire" começa com duas histórias entremeadas sobre uma atriz, representada por Laura Dern, que está voltando às telas num melodrama sulista que está filmando, intitulado "High in Blue Tomorrows". Mas não demora a ramificar-se numa terceira personagem abusada e abusiva, também representada por Laura Dern.

- Tenho pelo menos três papéis no filme, talvez um pouco mais - disse a atriz numa entrevista, rindo.

Cada trama trata de questões de traição em relacionamentos, mas o filme rapidamente se afasta dessas tramas para mostrar sequências de dança e música e episódios dramáticos com atores falando em polonês. Talvez apenas os devotos de Lynch consigam apreciar plenamente um monólogo que descreve uma mulher que tem um buraco em sua vagina.

O diretor criou cada cena individualmente, antes de entrelaçá-las tematicamente. Ele rejeitou a hipótese de seu filme ser longo demais.

- Uma restrição de tempo é arbitrária e sem sentido - disse ele depois da sessão em que o filme foi mostrado à imprensa, na sexta-feira. - Esse é o comprimento que parece correto.

Segmentos em estilo de sitcom, com uma família que usa cabeças de coelho e uma trilha sonora de risos que se manifestam em momentos esdrúxulos, entremeiam o filme. Eles são adaptados de "Rabbits" ("Coelhos"), uma sequência de nove curtas que Lynch exibiu em seu site em 2002.

Naomi Watts, Laura Elena Harring e Scott Coffey, que atuaram no último longa de Lynch, "Cidade dos Sonhos" (2001), filmaram os curtas originais num set que lembra o de uma sitcom e depois reencenaram as cenas no mesmo set para "Empire".

"Empire" foi filmado digitalmente. O diretor se apaixonou pela câmera Sony PD150 que usou para criar os curtas, e desde então jurou que não vai mais usar celulóide.

Laura Dern começou a trabalhar no projeto rodando um monólogo de 14 páginas em espaço simples, dito pela personagem da mulher violenta. Quando assistiu ao filme completo, ela se surpreendeu ao descobrir que Lynch incluiu seu nome como co-produtora.

- Acho que isso foi porque fiquei ao lado dele por três anos, participando do processo criativo e abrindo mão de outros trabalhos para partir nessa aventura experimental - disse ela. - Há algumas cenas em que eram apenas David, a câmera e eu, uma maneira financeiramente fácil de trabalhar.

O que faltou ao filme em termos de orçamento -- Lynch revela apenas que "Empire" custou menos de 100 milhões de dólares"- foi compensado em tempo: o trabalho de edição levou nove meses e deixou o diretor um pouco esgotado.

- Sempre há um vazio quando você termina um filme, mas tenho algumas idéias para novos projetos - ele disse. - Eu gostaria primeiro de pintar um pouco.

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