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Adélio Sarro e seus quadros inéditos: cores foram minimizadas depois de uma cirurgia de catarata: “Quando abri o olho, vi que estava tudo muito colorido” | Jonathan Campos/ Gazeta do Povo
Adélio Sarro e seus quadros inéditos: cores foram minimizadas depois de uma cirurgia de catarata: “Quando abri o olho, vi que estava tudo muito colorido”| Foto: Jonathan Campos/ Gazeta do Povo

Exposições

Veja esta e outras mostras no Guia Gazeta do Povo

Aos 5 anos, Adélio Sarro subiu num pequeno caixote de madeira na casa em que nasceu, em Andradina, interior de São Paulo. Precisava enxergar de perto os detalhes de um calendário, com desenho do Sagrado Coração de Jesus. Retratou o que viu em um papel – com certa perfeição, considerando a idade. Um padre local, ao saber da façanha, logo decretou: vai ser artista. A profecia deu certo. Aos 63 anos, Sarro tem cerca de 250 obras espalhadas pelo mundo, além de trabalhos permanentes na sede da Organização das Nações Unidas, em Genebra (Suíça). Em Curitiba, o artista está em cartaz com a mostra Cores sem Fronteiras, com 31 obras inéditas (veja o serviço completo no Guia Gazeta do Povo).

Os trabalhos expostos em Curitiba, na galeria de arte Um Lugar ao Sol, retratam o que o artista gosta de chamar de "um novo olhar." Afinal, o que os olhos verdes de Sarro enxergam agora mudou, devido a uma cirurgia de catarata. Antes de corrigir o problema, ele andava compensando a escuridão da visão com cores demasiadamente fortes nas pinturas. "Eu precisava de luz nos quadros e colocava cada vez mais. Quando abri o olho, vi que estava tudo muito colorido. Agora houve uma leve mudança", explica.

Além dos quadros, cuja temática aborda basicamente a realidade social, Sarro apresenta na exposição uma pequena mostra dos trabalhos monumentais que realiza pelo mundo, com duas esculturas de cerca de dois metros – uma delas instalada no jardim da galeria –, feitas em fibra de vidro.

Portais em cidades brasileiras e europeias, e chafarizes em pequenas cidades da Alemanha são alguns exemplos do que ele realiza há 20 anos. "Foi uma necessidade de tirar a obra de dentro das galerias, botar a arte na rua."

A quantidade de trabalhos lhe rendeu o apelido de "brasileiro global." Porém, é no Brasil, em Aparecida (SP), a cidade com mais marcas de Sarro. No santuário dedicado a Nossa Senhora Aparecida, são 36 obras, entre elas, uma cabeça em bronze do papa Francisco, criada para a vinda dele ao Brasil. Também já elaborou as feições de Bento XVI e João Paulo II.

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Sarro responde, após segundos de reflexão, que jamais imaginou que chegaria no lugar onde está hoje: com carreira consolidada internacionalmente e marchand próprio na Europa, que trabalha para levar seus projetos pelo mundo. Já tem mostras agendadas na Alemanha e Eslováquia no ano que vem, e na China, em 2015. Autodidata, nunca frequentou uma escola de arte. "Fui um menino de roça, mas nasci com o dom da arte."

Além do trabalho no campo, catou papel e vidro em lixões para ajudar a família. Com 16 anos, foi para a capital paulista, trabalhar como servente de pedreiro. O sonho de pintar persistia, e ele continuava com seus esboços nas horas vagas.

Logo surgiu a oportunidade de trabalhar em uma oficina que pintava painéis e outdoors. A rotina era pesada: 15, 16 horas diárias. Mas Sarro acredita que a profissão o ajudou a não desistir, e a valorizar o que tem hoje. "São coisas da vida. E a gente tem de passar por isso para valorizar. Hoje, muitos jovens ficam perdidos e não sabem o que fazer da vida, porque não aprenderam o valor das coisas", teoriza.

Apesar do talento, Sarro não era ligado em arte. Não frequentava museus nem conhecia o trabalho de grandes artistas. O despertar ocorreu quando foi ao casamento de um colega em Brodowski, no interior de São Paulo, cidade que abriga o Museu Casa de Portinari. "Senti uma carga muito grande de energia." Resolveu expor o que fazia todos os domingos na Praça da República, coração da cidade de São Paulo. "Trabalhava para me manter e pintava de noite, nos finais de semana. Levei essa rotina até a arte me render frutos para sobreviver. E consegui."

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